O processo envolveu os 17 municípios que formam a AMP, mas Ana Monteiro só reconhece “consequências em dois municípios – no Porto e em Vila Nova de Gaia”.
“Talvez até fossem aqueles dois municípios em que o corpo técnico e o corpo decisor já tinham uma maior literacia climatológica”, considera a geógrafa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Em entrevista à Lusa, destaca que a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia pediu que fosse feito o zonamento climático do concelho, e que esse documento “informou decisões de ordenamento de território, plasmadas no PDM [Plano Diretor Municipal], que esteve em discussão pública”.
Também o PDM do Porto “tem, pela primeira vez na história, um capítulo que tem a ver com o diagnóstico climático à escala do concelho”.
Para a coordenadora do PMAAC, “neste tipo de documentos, relativo à adaptação aos riscos climáticos, é muito mais importante o processo do que o resultado”, e esse processo deve “envolver as pessoas”.
Assim o fez a equipa que elaborou o plano, e Ana Monteiro releva “a noção clara que os atores da AMP têm de que os riscos climáticos só podem ser resolvidos e identificados à escala supramunicipal”.
A cientista tentou, dentro das suas “parcas possibilidades, motivar alguns dos decisores políticos da AMP para um projeto da Comissão Europeia que já arrancou, que são as 100 cidades ‘front-runners’ [pioneiras] na adaptação aos riscos climáticos”.
“Nenhum deles se candidatou, nenhum deles tentou”, garante.
A professora catedrática diz que “teria sido muito importante, em 2017 ou 2018, iniciar um processo de formação para a literacia climatológica, a nível dos técnicos superiores, nas Câmaras Municipais, neste caso da AMP”.
“São eles que informam os decisores políticos sobre quais são os riscos e como nos adaptamos aos riscos climáticos”.
A literacia é, aliás, “a grande motivação” desta cientista.
“É tentar formar, ajudar a formar, trabalhar, melhorar a participação pública neste domínio, explicar o que é o sistema climático, mostrar como ele funciona. Quando não conhecemos o personagem, é difícil lidar com ele”, afirma.
Para isso, bate-se para fazer do clima um tema, e lamenta que não o tenha sido nos debates autárquicos.
“O assunto alterações climáticas, riscos climáticos, subida do nível do mar, riscos para a saúde decorrentes das manifestações de mudança climáticas, não é tema. É a descarbonização, e está resolvido o assunto”.
Essa abordagem é insuficiente, considera: “Se me disserem que vão descarbonizar para melhorar a qualidade do ar e a minha saúde, subscrevo integralmente. Se me disserem que me garante a adaptação aos riscos climáticos, não subscrevo de todo”.
“Há aqui uma ideia generalizada de que todos, enquanto sociedade, nos devemos ater às informações globais. Por isso, é o mês mais quente do ano, o mais chuvoso, o mais seco, o mais frio… É tudo para o Guinness”.
Mas a postura deve ser outra, defende a especialista – “tinha de ser ‘bottom-up’, isto é, ‘o que é que acontece no meu bairro? O que posso fazer no meu bairro?’”
“Preciso de fatos à medida. O que serve para a Foz não é o mesmo que serve para Nevogilde, Campanhã, Bonfim ou Ramalde. É preciso mesmo conhecer para oferecer medidas de adaptação, que não podem ser para nos tornarem infelizes e doentes; têm de ser para nos manter ainda mais felizes, mas menos vulneráveis”, remata.
A Área Metropolitana do Porto compreende uma zona geográfica composta por 17 municípios contíguos, numa área aproximada de 2.040 quilómetros quadrados, com uma população residente a rondar 1.700.000 habitantes.
Os municípios que a compõem são: Arouca, Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Oliveira de Azeméis, Paredes, Porto, Póvoa de Varzim, Santa Maria da Feira, Santo Tirso, São João da Madeira, Trofa, Vale de Cambra, Valongo, Vila do Conde e Vila Nova de Gaia.
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