
A depressão, essa dor invisível que paralisa, esvazia o sentido da vida e silencia o desejo, é, muitas vezes, compreendida apenas pelos seus sintomas clínicos ou pelas explicações de ordem neuroquímica. No entanto, quando a observamos sob a lente simbólica da astrologia, percebemos que a alma possui os seus próprios mapas de expressão e que, por detrás da escuridão que a depressão traz, existe também um profundo apelo da psique para transformação, silêncio e renascimento.
A dor como linguagem da alma
Na visão astrológica, compreendemos que todo o sofrimento emocional é um campo fértil para o autoconhecimento e que carrega em si as sementes da transformação. A depressão, muitas vezes, revela a quebra de um pacto interno, uma desconexão entre o que se vive e o que a alma deseja. É uma pausa dolorosa que a vida impõe para que se reveja o sentido, o lugar de pertença e a própria história pessoal.
Embora não possamos, nem devamos, reduzir a depressão a um mapa astral, é possível reconhecer, em determinados temas natais, predisposições simbólicas que apontam para vivências psíquicas mais densas, como melancolia, sentimento de inadequação, autocrítica exacerbada, falta de vitalidade e instabilidade emocional.
Indicações astrológicas que simbolizam tendência à depressão
Alguns posicionamentos e aspetos no mapa astral podem representar, simbolicamente, um terreno mais fértil para o desenvolvimento de estados depressivos, sobretudo quando existe repressão emocional, falta de expressão do self ou exigências internas e externas desproporcionadas. Seguem alguns exemplos das configurações mais associadas a este padrão:
Saturno proeminente ou desafiado
Saturno é o grande mestre dos limites, das estruturas internas, do tempo e da responsabilidade. Quando está muito enfatizado (por exemplo, conjunto ao Sol, à Lua ou ao Ascendente), especialmente em aspetos tensos, pode trazer uma carga existencial pesada, marcada por um sentimento de inadequação, cobrança extrema e medo de falhar.
- Sol conjunto a Saturno pode indicar uma identidade marcada pela rigidez e pela sensação de não merecimento.
- Lua em aspeto tenso com Saturno (quadratura ou oposição) pode representar uma infância emocionalmente austera, onde o choro foi reprimido e o afeto, condicionado.
Lua em signos de exílio ou queda, ou tensionada
A Lua, símbolo das emoções e da memória afetiva, quando mal aspectada, especialmente por Saturno, Plutão ou Neptuno, pode refletir feridas emocionais profundas, padrões inconscientes de negação do próprio sentir ou estados persistentes de tristeza.
- Lua em Capricórnio ou Escorpião, se não for bem integrada, pode traduzir contenção emocional, medo da vulnerabilidade ou melancolia crónica.
- Aspetos entre Lua e Saturno ou Plutão indicam traumas emocionais, perdas e a necessidade de regeneração profunda da vida afetiva.
Forte presença das casas VIII e XII
Estas duas casas falam do inconsciente, das dores ocultas e dos processos de morte e renascimento psíquico.
- Uma 12.ª casa enfatizada pode indicar uma alma sensível e mística, mas propensa à dissolução de fronteiras e à fuga da realidade, o que pode levar à tristeza crónica ou ao sentimento de não pertença.
- Já a 8.ª casa, ligada a Plutão e à transformação, pode indicar dores intensas e lutos que marcam a vida como um rito de passagem constante.
Neptuno em aspeto tenso com o Sol ou a Lua
Neptuno, planeta da dissolução do ego e da sensibilidade extrema, quando desafia os luminares, pode simbolizar perda de vitalidade, dificuldade em estabelecer limites emocionais, ilusões ou uma sensação de desorientação profunda.
- Sol em quadratura com Neptuno pode sugerir confusão quanto à identidade.
- Lua em oposição a Neptuno pode apontar para extrema fragilidade emocional e um inconsciente inundado por dores ancestrais.
Quíron em posição desafiadora ou conjunto à Lua/Sol
Quíron simboliza a ferida original. Quando em destaque no mapa, especialmente em aspetos difíceis com os luminares, pode indicar um sentimento de rejeição, abandono ou dor psíquica que atravessa a vida como um convite à cura, mas que, não sendo acolhido, pode manifestar-se como depressão.
Depressão: um convite à escuta da alma
Na astrologia, a depressão não é uma sentença, mas um símbolo. Ela convida ao recolhimento, ao desapego e ao renascimento. Nos mapas em que os aspetos mencionados estão presentes, o trabalho terapêutico e simbólico pode ser profundamente transformador, pois não procura apenas “curar” a dor física ou mental, mas compreender o significado que ela carrega.
Como psicoterapeuta somática e astróloga com mais de 35 anos de experiência, percebo que, muitas vezes, a depressão surge quando nos afastamos da nossa natureza instintiva, perdemos o contacto com o corpo, com os ritmos lunares e com a força criadora. A reconexão connosco próprios, com os ciclos que fazem parte da vida e com um corpo que nos envia mensagens, pode ser um caminho poderoso para o resgate da alma.
Um novo olhar: menos julgamento, mais acolhimento
A astrologia não é diagnóstico, mas funciona como um espelho simbólico. Através dela, podemos revelar o que está oculto à consciência, dar nome ao que sentimos e, sobretudo, encontrar sentido onde antes existia apenas dor.
A depressão, embora sombria, é também um apelo da alma à autenticidade e à verdade. Escutá-la é, muitas vezes, o primeiro passo rumo à libertação.
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