É uma das mulheres mais elegantes do país e uma das fadistas mais populares da nova geração, para além de também ser uma das mais ativas. Cinto verde em judo e em karaté, Cuca Roseta acorda cedo para fazer ioga, uma rotina da qual nunca prescinde, mesmo em viagem, como pudemos comprovar durante a RFM Royal Caribbean Selfie Trip, uma viagem que levou um grupo de 32 portugueses aos EUA para embarcar num navio de cruzeiro rumo às Bahamas.

Em entrevista exclusiva ao Modern Life/SAPO Lifestyle, a intérprete de "Fado do contra" e "Amor ladrão" recorda essa viagem, fala das rotinas que (não) tem e lembra ainda os tempos em que convivia com o chef José Avillez, um dos amigos de infância e também um dos muitos chefes de cozinha que conhece, que é autor de um dos fados que já gravou. "Ele escreve muito bem. Escreve poemas desde pequenino e partilhava-os muito comigo", confidencia Cuca Roseta.

O seu último disco, "Luz", foi lançado em novembro de 2017. Já passaram dois anos. Como é que estamos em relação a um novo disco? 

Tenho estado a compor e a escrever. Eu digo sempre que um artista tem uma fase de criação e depois tem outro ano em que faz os concertos todos. Este ano, tive uma tournée com mais concertos do que no ano passado. Já fizemos quase 90 concertos e é incrível porque, mesmo com os concertos, tenho estado a criar. Eu não tenho estado só a cantar o "Luz". No primeiro ano, só cantei o "Luz" e, agora, neste segundo ano, já canto o "Luz" e coisas do próximo.

Eu começo a cantar vários temas ao vivo e a ver como é que resultam, também para os rodar um bocadinho na minha voz. E só depois é que os gravo. Espero começar a gravar o novo disco agora no fim do ano. Já tenho, pela primeira vez, muitos temas em carteira, para depois poder escolher os melhores. E estou muito contente com isso porque acho que o facto de ter muitas canções e de poder, depois, escolher as melhores me vai permitir fazer um disco melhor.

A produção poderá ser novamente do Gustavo Santaolalla, o conceituado músico, compositor e produtor discográfico argentino, com quem trabalhou no seu disco de estreia em 2011?

Pode! Por acaso, pode... Eu tenho contacto direto com ele, falo muito com o Gustavo, mas não sei se, para mim, me fazia sentido outra vez... É como o [compositor, produtor discográfico, escritor e jornalista brasileiro] Nelson Motta! Eu tenho uma ligação de todos os dias com o Nelson Motta. Tanto um como outro são pessoas que me marcaram imenso e ficaram meus amigos. Mas acho que faz parte de um crescimento…

Tanto o Gustavo como o Nelson são pessoas que, em qualquer momento, fazem um bom trabalho. O Gustavo gravou o meu primeiro disco e, às vezes, sinto que não tinha maturidade para fazer aquele disco... Eu não sou nada cerebral nos discos! Nunca sei qual é o conceito, é algo que surge naturalmente. Para mim, são coisas que estão escritas e que acontecem porque tiveram que acontecer. Se tiverem que acontecer novamente, acontecem. E poderá acontecer!

Para além de estar a preparar o novo disco, o sucessor de "Luz", que novidades e que outros projetos é que também tem em mãos?

Estou muito contente porque escrevi um livro de poemas há dois anos para o lançamento desse meu disco e pensámos, na altura, fazer uma edição especial para o vendermos nas lojas, mas nunca o fizemos e agora decidi retomar essa ideia. Tenho andado a rever alguns. Muito em breve, espero lançar o meu livro de poemas, são 100 ao todo, pela primeira vez.

Eu escrevo poesia desde muito nova, então o livro vai ter poemas que fiz desde pequenina até agora. Fui buscar os meus poemas de criança e nota-se que há uma evolução até aos dias de hoje. Tenho um carinho gigante por aquele livro e estou ansiosa que ele saia! Mas eu tenho que estar sempre com projetos novos e já tenho uma série de coisas em mente que são surpresa e que ainda não posso contar...

Viaja muito e gosta de destinos de praia, como é o caso de Cuba, um dos últimos que visitou, mas também das Bahamas, onde esteve em abril deste ano numa viagem a convite da RFM. "Luz", como já aqui referimos, é o nome do seu último disco. A luz dessas paragens inspira-a?

É impossível não inspirar! No fundo, acaba por ser um pouco a mesma luz, que é a luz do equilíbrio interior e esses são cenários perfeitos para encontrarmos essa luz interior. No caso da viagem com a RFM, um cruzeiro, estávamos no camarote e íamos à varanda ou estávamos deitados na cama, olhávamos para a janela e tínhamos um quadro em movimento. Não só tínhamos um quadro incrível como estava em movimento. E, depois, todas as paragens e as praias lindas onde fomos... Foi uma viagem inesquecível, mesmo!

Foi a sua primeira experiência num cruzeiro?

Num cruzeiro à séria, foi a primeira! Já fiz o Cruzeiro do Fado, que é um cruzeiro muito pequenino que vai de Lisboa a Marrocos e depois regressa. É só um dia... E fiz um cruzeiro nas várias ilhas dos Açores com a National Geographic, também era um barco muito pequenino, para observação de baleias. Agora num cruzeiro à séria, como este da Royal Caribbean, é uma experiência única, mesmo!

Aproveitou também alguns momentos nesse cruzeiro para meditar. Consegue-se meditar num cruzeiro?

Por mim, passava o tempo todo a meditar! Há muitos lugares onde apetece fazê-lo... Estamos na praia, num sítio com uma paisagem linda, apetece irmos até lá ao fundo, sentar-mo-nos e meditar. No camarote, em todos os lugares... Para mim, a meditação precisa muito de um espaço próximo da natureza e encontrei lá uma explosão de natureza.

Aproveitei para poder fazer a minha prática de ioga todas as manhãs. Acordava muito cedo e fazia-a ainda antes de começar o dia. Foi espetacular fazer ioga num barco com aquela vista. Foi mesmo uma inspiração incrível!

Tem também uma história curiosa com um passageiro que queria fazer ioga consigo nessa viagem...

Até tive dois! [Risos] Houve uma senhora que chegou quase no fim, tentou reproduzir a posição que eu estava a fazer, não conseguiu e queixou-se de que era muito difícil. Mas já não dava para a ensinar porque eu já estava numa fase muito avançada da minha prática.

Mas, nesse dia, quando estava a começar, apareceu um senhor no ginásio que me pediu se podia fazer ioga comigo. Disse-lhe que sim e estive a ensiná-lo. Fez os primeiros movimentos e combinámos fazermos ioga juntos na manhã seguinte mas depois não deu porque era o último dia do cruzeiro...

Viaja muito em trabalho e também por razões pessoais, como já afirmou em várias entrevistas. Quando tem tempo livre, apetece-lhe ir para fora? Na altura de marcar férias, apetece-lhe viajar ou prefere ficar sossegada no seu canto?

Gosto muito de estar em casa! É o meu porto seguro, é onde tenho as coisas de que mais gosto e onde nunca estou. Quero sempre estar em casa! Nós só temos um mês de férias, em junho, por causa do trabalho do meu marido. Nessas férias, tiramos sempre uns dias para fazer uma viagem. Fazemos sempre uma viagem em família. Mas, depois, não fazemos mais nenhuma, queremos é ficar em casa. É lá que está o meu piano, que gosto de tocar todos os dias desde pequenina.

É em casa que tenho a minha viola... Tudo aquilo de que mais gosto! É o nosso porto seguro e, no fundo, o nosso prazer é ao contrário das outras pessoas. Tenho muita vontade de ter rotina, porque nunca tenho rotina. Todos os meus dias são diferentes. Estive cinco dias em Miami e nas Bahamas nessa viagem, foram dias em que pude acordar sempre à mesma hora e fazer ioga sempre à mesma hora e foi espetacular. Fica tudo certinho e encaixado.

Quando faz essas viagens, destinos paradisíacos como Bahamas e Cuba, onde também esteve recentemente, são o seu destino de eleição ou prefere outro tipo de destinos, mais aventureiros e/ou mais urbanos?

Destinos desse género, como as Bahamas, são os destinos de que eu gosto. É descanso e natureza! Eu gosto de cidades mas não tenho muito interesse em ir porque estou sempre rodeada de muitas pessoas. Por exemplo, toda a gente adora ir a Nova Iorque. Eu gosto de lá ir, claro, mas, se for eu a escolher, prefiro destinos assim, de natureza, descanso e praia.

A praia é uma coisa de que gosto muito e tenho pouco. No verão, tenho sempre concertos. Há muitos anos que não tiro mais de cinco dias de férias nessa altura e, por isso, tudo o que seja praia, natureza e pureza é o que eu procuro. Bahamas, para mim, são as férias perfeitas.

E o destino das próximas férias, já está escolhido ou não?

Por acaso, o das últimas estava escolhido mas não pudemos ir. É o Sri Lanka. Já tínhamos comprado bilhetes para ir mas infelizmente aconteceu aquela tragédia, o ataque a uma mesquita...

Na viagem da RFM às Bahamas, também foi o chef Kiko Martins. O chef José Avillez já lhe escreveu uma letra…

É verdade! Tenho muitos amigos chefes... Conheço o Kiko desde os 14 anos. Conhece-mo-nos numa peregrinação a Fátima. Tenho uma foto dele a descansar nessa peregrinação. Fizemos vários campos de férias e peregrinações juntos, tínhamos muitos amigos em comum e foi giro porque acabámos por nos reencontrarmos mais tarde. O José Avillez é um amigo de infância que eu trato por Zézinho e que veio a tornar-se um chefe muito conhecido. Sou, por acaso, muito amiga de vários chefes... Da Justa [Nobre], do Olivier...

E já lhe passou pela cabeça pedir ao chefe Kiko ou a outro chefe para lhe escrever uma letra? 

O José, desde pequenino, que escreve poemas e partilhava-os muito comigo. Ele escreve muito bem! Foi giro quando nós nos reencontrámos mais tarde. Ele depois foi para a faculdade, eu também e, quando fomos, afastá-mo-nos um bocado. Nós somos os dois de Cascais.

Um dia, encontrei-o e ele disse-me "Quem diria que virias a cantar fado e eu a ser chef!"... E eu respondi-lhe "Por falar nisso, tu sempre escreveste muito bem, bem que me podias dar uma letra". Ele aceitou e é uma música linda, da qual gosto muito. Ele era católico e esta letra fala sobre Jesus. Ele deixou de o ser entretanto mas, para mim, a canção tem um significado incrível. É linda!