A televisão é uma das paixões de Isabel Silva mas comunicar, independentemente do meio e da forma, é o que mais move a apresentadora de televisão, repórter e empresária de 34 anos, que lançou três livros nos últimos quatro anos. Para além da revista digital Dobem, de um estudio de treino personalizado na capital portuguesa e de uma marca de barras nutritivas saudáveis, também lançou, o ano passado, uma marca de moda ecológica, que pode (re)ver de seguida, em parceria com a marca de moda portuguesa.

Em grande entrevista ao Modern Life/SAPO Lifestyle, a empreendedora nortenha fala dos projetos empresariais que tem em mãos, explica porque transformou o seu blogue pessoal numa publicação informativa que pretende melhorar a vida dos que a leem, revela os hábitos que nunca perdeu em tempo de pandemia, comenta a contratação de Cláudio Ramos, Maria Botelho Moniz e Mafalda Castro pela TVI e ainda assume fraquezas e fragilidades. "Não gosto de dar passos maiores do que as pernas", admite.

Muita gente aproveitou o confinamento e o facto de ter de passar mais tempo em casa por causa da pandemia viral de COVID-19 para arrumar a casa, para ver séries de televisão e até mesmo para dormir… A Isabel Silva, sempre muito ativa, aproveitou para idealizar uma série de projetos que tinha em mente, como foi o caso da revista digital Dobem...

Este projeto já nasce, na verdade, quando eu, há uns anos, decidi criar o blogue I Am Isabel Silva, porque a minha paixão é a comunicação. Eu sou licenciada em ciências da comunicação, tenho uma pós-graduação em cinema e televisão, apesar de também ter feito, depois, vários cursos práticos na área da rádio e da televisão. No entanto, muito mais importante para mim do que trabalhar em televisão, sempre foi a minha paixão de comunicar com palavras, também fora do ecrã, através da escrita.

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Sempre adorei escrever, sempre gostei de escrever sobre temas que não são informativos mas, também, sobre temas que inspirem as pessoas. Estando bem informadas, têm a capacidade de agir. Gosto muito do conceito que é informar mas tudo aquilo que escrevo convida a uma reflexão, coloca as pessoas a refletir e, quem sabe, gera, espero eu, uma mudança de hábitos e de comportamentos. Isto sem querer levar o meu ponto de vista avante. Não é esse o meu objetivo. O meu objetivo é pôr apenas as pessoas a refletir. E, dada esta minha curiosidade, porque adoro ler, ouvir, escutar e aprender, senti esta necessidade. Eu adoro trabalhar em televisão.

Comecei na base do jornalismo, na parte da pesquisa e também na reportagem. As pessoas começaram a conhecer-me pela minha vertente de repórter mas não sabem que aquilo que me levou para a comunicação foi a paixão pela produção de conteúdos. É isso que gosto muito de fazer. Gosto desta parte criativa! E é por isso que, a par dos meus projetos em televisão e como repórter, me faltava ali mais qualquer coisa. Porque eu também adoro escrever e por isso é que eu lancei o blogue...

E por que é que eu não se ficou só pelo blogue?

Porque, na verdade, apesar de ser uma excelente plataforma, altamente inspiracional, não deixa de ser redutora quando queres deixar o teu ponto de vista ou escrever com tempo sem estar confinada a um espaço. Eu decidi criar o blogue porque era, na altura, uma espécie de diário, só que sem cadeado, porque não estava fechado. Estava aberto a toda a gente.

E, até ao lançamento da Dobem, era muito centrado em mim. Eu nunca quis ser a protagonista dele mas era um blogue que não deixava de ser um diário, que falava sempre da minha perspetiva das coisas, do que eu gosto de fazer, daquilo que eu quero fazer e daquilo que eu acho que é importante dizer às pessoas para as levar a uma mudança de comportamento.

O que é que este novo projeto digital, já a caminho dos nove meses, tem, então, de diferente?

Eu quero que a Dobem se afirme como uma revista digital porque lançar uma era um projeto que eu já queria desenvolver há muito tempo. E porque é que eu ainda não o tinha desenvolvido? Porque gosto de fazer as coisinhas bem feitas. Antes da quarentena, andava sempre numa lufa-lufa. Nós andamos sempre a mil, sempre cheios de pressa, nunca temos tempo para fazer nada. A quarentena obrigou-me a parar, a refletir e a perceber que, agora que tinha tempo, era a altura para a lançar.

Mas em que é que a revista digital difere do seu blogue?

A Dobem é uma revista digital que não fala de mim. Vai para lá do blogue... Tem muito de mim, ainda assim, mas, sobretudo, tem o universo que eu valorizo e que acredito que é o motor de uma mudança de comportamentos e que pode levar as pessoas a ter uma vida mais feliz. Pode levar as pessoas a serem do bem. Baseia-se muito na área da alimentação, do desporto, da sustentabilidade e do ambiente. Estes são os grandes temas. E eu deixei de ser a figura central! As protagonistas são estas temáticas.

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Temos artigos credíveis, informativos, escritos por especialistas das mais diversas áreas. Estamos a falar de médicos e de nutricionistas mas, acima de tudo, da minha equipa editorial. Eu sou a diretora-geral da revista, sou também editora. Também escrevo e também estou dentro de conteúdos mas a minha equipa, aqui, assume também uma persona. Enquanto que, no meu blogue, todos os artigos eram escritos por mim, aqui não... Muitos são escritos por mim mas outros são escritos pelo Ricardo [Martins Pereira], que é um brilhante jornalista, tal como a Ana Gordo. São pessoas que estão dentro do meu ADN e que valorizam o mesmo que eu.

Mas que, ainda assim, têm pontos de vista diferentes em relação às várias áreas. Além disso, não temos apenas artigos opinativos. Temos, sobretudo, informação credível. A Dobem pretende-se assumir como uma revista digital líder na área do lifestyle, da alimentação, do desporto, do ambiente e da sustentabilidade. Esse é o meu objetivo e, todos os dias, temos sempre artigos novos dentro destas áreas. Enquanto que, no blogue, eu pensava muito em mim, aqui estou mais à procura do que o meu consumidor quer ler.

Muitos dos projetos de revistas digitais que têm surgido nos últimos anos em Portugal acabam por ter, nem que seja pontualmente na maioria dos casos, uma edição impressa. Isso também está nos seus planos?

Não penso muito nisso ainda mas não é uma carta fora do baralho. Neste momento, o que eu pretendo é que as pessoas se habituem a ler a Dobem. O que eu quero aqui, no fundo, é informar, partilhar e inspirar. E quero que as pessoas sintam que a revista quase como se fosse a bíblia delas. Habituarem-se a ir à Dobem quando querem saber coisas das áreas que a revista retrata. Se as coisas correrem bem e se houverem condições para isso, porque não?

Pode vir a ser uma realidade, portanto...

Sim, podemos vir a lançar uma revista impressa. Mas eu gosto de correr riscos calculados. Não gosto de dar passos maiores do que as pernas. Não me vou aventurar ainda nisso... Para já, a revista é digital porque, assim, consigo controlar melhor as coisas. Se correr bem, nunca se sabe, mas não estou a pensar nisso...

Ao longo da sua carreira, já foi, por mais do que uma vez, comparada com a Cristina Ferreira. São as duas apresentadoras de televisão e empresárias e as duas lançaram projetos digitais que, com o tempo, evoluíram noutro sentido. Não teme que a acusem de mimetização?

Não! Eu estou muito alinhada com o meu propósito. Gosto muito da Cristina. Comecei a minha carreira como jornalista no programa da Cristina e do Manuel Luís [Goucha], onde cresci muito. O "Você na TV!" foi a minha escola. Foi lá que eu evolui como repórter. A exigência deles também me ajudou a ser uma melhor profissional. Quando penso no meu propósito nesta vida, acho que vim ao mundo para produzir conteúdos, bons conteúdos que eu sinto que vão acrescentar valor à vida das pessoas.

A minha grande paixão é pensar como é que eu vou montar uma determinada peça para fazer com que as pessoas fiquem sentadas a vê-la e não queiram mudar de canal, é refletir sobre como é que vou escrever um artigo e saber que vou agarrar a pessoa desde a primeira frase até à última. Tenho uma paixão muito grande por saber que aquele conteúdo que eu estou a fazer em determinada altura vai acrescentar posteriormente valor à vida das pessoas que o virem ou que o lerem.

Eu vou querer fazer televisão para o resto da minha vida. Não tenho qualquer dúvida. Mas aquilo que realmente gosto de fazer é de produzir conteúdos, porque a minha formação académica, como já referi anteriormete, é, na verdade, essa. Se eu puder fazer isso em televisão, tudo bem. Mas, se eu puder produzir conteúdos no meio digital através das minhas plataformas, se eu puder produzir conteúdos e comunicar para uma plateia daquilo que eu considero que são as bases para uma vida feliz, eu estou bem.

Há cada vez mais figuras públicas a aventurarem-se no mundo empresarial. A Isabel Silva, além da revista digital Dobem, abriu um estúdio de treino personalizado em Lisboa, que recorre à estimulação elétrica muscular (EEM), lançou uma linha de roupa com características distintas e ainda desenvolveu a IncríBel, uma marca de barras energéticas saudáveis. Tudo isto num par de anos...

Eu sempre fui muito empreendedora na minha vida e tenho noção de que o sucesso faz-se com uma boa equipa. Eu tenho uma coisa que é muito característica do signo touro, que são os pezinhos muito assentes na terra. Sei exatamente aquilo que faço muito bem e sei aquilo para o qual não tenho tanto jeito. E sei que isso é fundamental para ter uma empresa de sucesso. Àquilo que faço muito bem dedico-me a 100%.

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Sou boa nas relações humanas, sou muito boa na parte social, sou boa na visão, na parte empreendedora, na comunicação e no saber fazer conteúdo. Toda a parte de logística, números, gestão, orçamentos e técnicos de contas, quero ter noção de como é que isso se faz, mas sei que não é a minha área. Nunca estudei gestão. Por isso, em todas as parcerias e em todos os projetos em que me envolvo, tenho sempre sócios que me acrescentem valor e que vão dar aquilo que sei que não vou poder dar mas que é fundamental para o sucesso do negócio. Quando eu lancei o projeto E-Fit Isabel Silva, fui buscar para meu sócio o Luís Santana.

É a pessoa em Portugal que mais domina a eletroestimulação, está mais do que habituado a implementar um negócio, é uma pessoa do terreno e é um excelente gestor. A par dele, tenho a minha gestora, que também tem uma noção de todas as minhas contas. Nunca avanço para nenhum projeto na minha vida sem antes falar com ela. Apresento-lhe a minha ideia, digo-lhe o que quero fazer e pergunto-lhe se posso cometer o risco calculado. Analisamos e ela, depois, diz-me se avanço ou não.

Sou aquela que gosta de voar e não gosto que ninguém me corte as asas mas quero ter alguém que me diga se posso voar mais alto ou se ainda não posso voar lá tanto para cima. Eu não duvido das minhas capacidades mas quando abri o E-Fit Isabel Silva, a 2 de maio de 2019, não tinha experiência na altura nem tenho tempo para me dedicar a 100% nem para ser sócia exclusiva. Tenho que estar com um sócio que me acrescente valor e me dê aquilo que eu não consigo dar. O sucesso é feito de boas parcerias.

A minha veia empreendedora existe mas as coisas só fazem sentido quando tens uma boa equipa. A equipa, para mim, é tudo. Nunca lançaria a Dobem se não tivesse a certeza de que tenho a equipa certa e de que todos os jornalistas estão alinhados com aquilo que acredito e que defendo. Os jornalistas que estão comigo, acompanham-me desde o início do meu blogue. Nós somos família. Eu sou boa a fazer uma coisa mas, para nos metermos nos negócios, temos que ser bons em muita coisa.

A Isabel Silva, no meio de tantos afazeres, continua ligada, entre outras, à marca desportiva New Balance. Tendo essa veia de empreendedora em si e uma grande vontade de fazer coisas, alguma vez pensou em colaborar com uma dessas marcas e desenhar uma linha de roupa desportiva ou até mesmo umas sapatilhas?

Por acaso, a New Balance nunca me fez essa proposta, mas é uma questão dos responsáveis da marca me porem essa ideia em cima da mesa, que eu sou menina para alinhar.... [risos] Todas as relações que tenho na minha vida, mesmo com as marcas, são altamente próximas e familiares. Também a este nível, gosto de valorizar as marcas que sinto que acrescentam valor à vida das pessoas. Há muitas ligações que tenho a marcas que são parcerias que eu faço, que são pagas, mas há outras que não.

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Aquilo que eu valorizo e o que eu acho que é importante passar para as pessoas é aquilo que de bem se está a fazer neste momento... Eu estou com a New Balance há já algum tempo e foi graças a esta marca que fui correr as duas maratonas mais importantes da minha vida, a de Londres e a de Nova Iorque. Tenho uma relação próxima com os diretores de marketing e de comunicação ibéricos da New Balance e eles sabem que a Isabel Silva não é apenas um nome nem uma mera conta de Instagram. A Isabel Silva, para eles, é uma pessoa e é isso que eu valorizo. Só gosto de estar alinhada com as marcas que têm esse propósito.

Há marcas que só se interessam em olhar para uma conta de Instagram para verem quantos seguidores é que uma determinada pessoa tem. Isso para mim não vale nada! O que interessa saber é quem é que realmente te segue, quem é o tipo de público que te acompanha... Isso é que, para mim, é fundamental! E que a marca esteja alinhada, também, com o teu ADN. Na New Balance, isso acontece e, se a marca me lançasse esse desafio, respondendo à sua pergunta, porque não? Por mim, podia ser...

Tem tido também o apoio de outras marcas...

Há uma outra marca que sempre me disse muito e pela qual tenho um carinho enorme, porque já me proporcionou os melhores momentos da minha vida, que é a EDP. Já corri as melhores maratonas da minha vida com o apoio da EDP e tenho uma relação com eles, apesar de termos uma parceria anual, que vai para além do número de publicações e de tudo isso. Quando as marcas querem trabalhar comigo, sou eu e a minha equipa que reunimos com a marca e definimos um plano de comunicação ao longo do ano.

A minha equipa agiliza muita coisa diretamente com a marca, mas eu também falo diretamente com eles. Não há cá o passar a palavra a ninguém. É claro que a minha agência é fundamental porque me ajuda e tira-me um peso de cima de muitas coisas que eu, às vezes, não tenho tempo de tratar. A minha relação com as marcas é muito emocional. Também tenho uma relação com a Quinta do Arneiro há anos. A Scholl é uma marca com quem adoro trabalhar. Foca-se muito na saúde dos pés, que são a base de tudo.

É uma parceria que me dá um enorme prazer, pois tem o seu propósito alinhado e os seus conteúdos a cumprir mas adapta-se a mim e isso é muito importante. Também estou a adorar o trabalho incrível que tenho vindo a desenvolver com a Sociedade Ponto Verde. São o tipo de organizações a quem eu gosto de estar ligada porque me acrescentam valor. Gosto sempre de fazer parcerias com marcas que estimulem e que incentivem o bem. Eu vou praticando o bem e vou recebendo também, em troca, o bem.

Nos últimos quatro anos, lançou três livros. Vai surgir algum livro novo este ano?

Eu queria muito mas vai depender do tempo. O meu último livro, "Eu sei como ser feliz", faz muito sentido nesta fase da minha vida. Lancei-o em setembro de 2019 e baseia-se muito na filosofia de vida da revista digital Dobem, acreditar que o segredo para uma vida plena e feliz está na comida natural, na atividade física, na autorreflexão e na nossa relação com os outros, com o mundo e com a natureza. Fala muito disso, da minha experiência e, além de receitas, dou dicas práticas e ferramentas para o dia a dia.

Durante o confinamento, em março e abril do ano passado, sozinha e ao pôr-do-sol nunca deixou de correr. Esse período de quarentena foi particularmente difícil ou esses pequenos escapes foram suficientes para suportar o resto?

Ninguém foi feliz na quarentena! Não fomos felizes na quarentena mas tivemos que estar positivos e serenos. Foi assim que eu estive, sempre muito positiva e muito serena. Para me manter assim, tive que aplicar, durante os 47 dias em que estive confinada, um conjunto de regras que sei que me fazem bem. Sempre fui madrugadora, tenho um fascínio enorme por ver o dia a nascer e gosto de praticar desporto de manhã.

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E, como sei que o sono é fundamental para me manter plena, para os meus músculos recuperarem convenientemente e para o meu cérebro descansar, tinha a regra de me deitar sempre entre as 21h30 e as 22h00. Fazia-o para poder começar a correr entre as 06h30 e as 07h00. Naquela altura, não queria correr o risco de me cruzar na rua com quem quer que fosse. Queria correr isolada, garantir que mantinha o distanciamento social e poder fazê-lo de uma forma segura. Também fiz sempre treinos mais curtos, de 45 minutos. Por vezes, eram 07h30 e eu já estava em casa. E só conseguia fazer isso se me deitasse todos os dias cedo...

A felicidade que sentia depois da minha corrida era tão grande e deixava-me tão produtiva para pensar na minha revista que percebi que o tinha que continuar a fazer. Não quer dizer que ao fim de semana não houvesse um dia ou outro em que me deitava mais tarde. Nesses dias, podia não ir correr mas ficava em casa e, ainda assim, fazia uma sessão de alongamentos.

Instituir algumas regras que eu sabia que me fariam bem foi muito importante para mim naquele período de quarentena. Teve a ver, sobretudo, com isso e com a necessidade de estipular horários para as minhas refeições. Tomava o pequeno-almoço, fazia um lanche a meio da manhã, almoçava, lanchava e, por fim, jantava. Sempre fiz isso para não andar, depois, a ratar entre as refeições. Outra das regras foi não andar em casa de pijama.

Tanto nessa fase de confinamento como ainda agora neste período em que ainda há muita gente em teletrabalho,  houve pessoas que, como estavam em casa, não usavam desodorizante, não faziam a depilação, passavam o dia de pijama. Tirando a parte do pijama, também fez este género de coisas?

A única coisa que não fiz foi a depilação porque não podia ir à esteticista e nunca arranjei as minhas mãos. De resto, fiz tudo! De repente, a tua casa passou a ser o centro de tudo, deixou de ser apenas o local onde tu dormes. Passou a ser o local onde comes, descansas, trabalhas, onde brincas com o teu cão, onde treinas... Passou a ser tudo! Então, tem que haver aqui regras. Só me sentava na mesa de trabalho quando estava vestida e perfumada e, às vezes, maquilhada ou com brincos.

O vestir-me como se fosse para sair impedia-me de ir ali para o sofá. O sentir-me bem e bonita, pronta a sair, faz-me ter outra postura em casa e esta regra para mim funciona muito bem. Nos primeiros quatro dias, andava sempre de fato de treino, nunca fui de andar de pijama em casa, mas chegou uma altura em que senti necessidade de me vestir melhor e de usar uma calcinha de ganga e, quando ia passear o Caju [cão] à rua, ia em bom. É importante sentirmo-nos bonitas. Tive reuniões no Zoom em que chegaram a elogiar-me.

E nunca houve nenhuma dessas reuniões virtuais em casa em que só estava apresentável da cintura para cima?

Nunca! Eu costumo dizer que, para aparato, já basta a minha personalidade. Sou muito alegre. Tenho, por isso, uma necessidade muito grande de que tudo o resto na minha vida seja simples. Não gosto de ter muita roupa. Gosto de básicos. As únicas coisas que tenho com padrão são, às vezes, as minhas sapatilhas e a minha vida é toda movida por muita simplicidade.

A minha roupa também. Mesmo, hoje, estou cheirosa, pus creme, fiz uma limpeza de pele, estou com uma t-shirt lavadinha, estou com umas calças bonitas mas estou super-simples. Quando digo estar arranjada é estar airosa, fresca... Nem sempre estive vestida como se fosse para um evento...

No meio de tanta atividade empresarial como é que fica a televisão?

Continua a ocupar um lugar de extrema importância na minha vida. A televisão, para mim, é tão importante como qualquer dos outros projetos que eu tenho. Neste momento continuo ligada de coração à TVI a aguardar pelo regresso da normalidade, porque tivemos muitos projetos, como o "Somos Portugal", que chegaram a estar parados...

E não tem vontade de fazer mais coisas no pequeno ecrã?

Claro que tenho, estou cheia de vontade... Adoro fazer televisão! Na televisão, também produzo conteúdo. Posso colocar o meu cunho, a minha criatividade, posso comunicar com a voz e com o meu corpo e trabalhar o meu improviso, porque a televisão também vive muito de improviso. A forma como fazemos televisão mudar um bocadinho. Quem é do toque, do apego e do aconchego tem que ter outros cuidados e o "Somos Portugal", por exemplo, é um programa de afetos, que temos agora de dar de outra forma. A televisão continua como uma das prioridades da minha vida.

E em termos de ambição maior? Há apresentadores que sonham com a condução de um grande talk-show, outros gostam mais de outro tipo de formatos. Qual seria o formato ideal para si nesta fase da sua carreira?

Gosto muito de formatos inspiracionais que mudem a vida das pessoas. Mas há formatos em day-time [horário diurno] que eu amaria fazer, da mesma forma que há formatos em prime-time [horário nobre] que eu posso gostar de fazer. Da mesma forma que há projetos que podem ser semanais e que podem até nem ter o destaque do day-time e do prime-time que eu posso adorar fazer na mesma. Aquilo que me motiva nos formatos de televisão é o formato do programa, um programa que não seja apenas para entreter.

Tem que ser um programa que entretém, porque eu adoro entretenimento, mas tem também de ter uma componente educativa e acrescentar valor. Os programas de day-time, por exemplo, têm entretenimento mas acrescentam valor. Ao longo do programa, há temas mais leves, temas mais sociais, há outros mais informativos, outros que abordam mais temas de atualidade e ainda outros que abordam mais a cultura e o facto de ser day-time, em que todos os dias tens de pensar em conteúdos, é algo que me alicia.

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Da mesma forma que há programas que são só entretenimento puro e duro e que eu acho que são fabulosos, como por exemplo o "Dança com as estrelas", que é muito diferente das propostas de day-time. O "Apanha se puderes" tinha entretenimento mas acrescentava valor porque as pessoas saíam dali mais informadas. Eu gosto de tudo o que seja para entreter e que acrescente valor e mude a vida das pessoas porque, aí, entrego-me a 100%. Não me interessa se é de day-time ou de prime-time. Eu quero fazer um projeto de entretenimento que acrescente valor, obviamente.

É muito importante as televisões pensarem nisso, em formatos que estejam relacionados com aquilo que a audiência quer ver mas que também estejam adaptados às características dos apresentadores. O formato que eu estava a fazer de manhã era um "Você na TV!", mas eu fiz daquilo uma pista de dança, porque adoro dançar. Os convidados tinham sempre um desafio, os pratos na cozinha, muitos também tinham a ver com aquilo que gosto de comer... Esta ligação ao apresentador também é importante.

Não fazia sentido, daqui por uns tempos, a Dobem ser também um programa de televisão?

Isso podia ser, vou dizer ao meu diretor. Se ele alinhar… A Dobem pode ser, um dia, um programa de televisão.

O "Big Brother 2020", o "Big Brother - A Revolução" e agora o "Big Brother - Duplo Impacto" são, além dos outros programas diários que rentabilizam o formato, algumas das apostas fortes da TVI nos últimos meses. A direção do canal foi buscar gente de fora para os apresentar. Não havia lá dentro que pudesse fazer o que Cláudio Ramos, Maria Botelho Moniz e Mafalda Castro foram fazer?

Eu acho que é importante que haja uma lufada de ar fresco. Eu entendo essa estratégia. É importante renovar. O sucesso faz-se na partilha. Acho que o Cláudio, a Maria e a Mafalda vieram acrescentar valor à TVI. Mas também não duvido que o canal tem profissionais de valor e que os valoriza. Não ponho isso em causa!

Mas viu com bons olhos a contratação destes novos apresentadores?

Se eu vi com bons olhos a entrada destes novos apresentadores? Sim, acho que há espaço para todos! Temos é que gostar de fazer o que estamos a fazer e, quanto a isso, estou muito tranquila. Adoro trabalhar. Com estas entradas, podem surgir novas duplas e novas sinergias e é importante a televisão renovar-se, também para não acharmos que temos a faca e o queijo na mão. Se calhar, nós acrescentamos valor ao trabalho deles e eles ao nosso. E estou a dizer isto porque penso mesmo assim. Não é para parecer bem!