Muitos ignoram-no mas houve quem se desse ao trabalho de fazer as contas. São, pelo menos, 63 os tipos de violência que uma criança pode sofrer durante a infância, avança a edição online do jornal espanhol El País. No dia em que se assinalam os 29 anos da assinatura da Convenção sobre os Direitos da Criança, um tratado internacional que visa a proteção de crianças e adolescentes, o panorama continua a ser preocupante.

Adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989, o documento seria ratificado por Portugal em em 21 de setembro de 1990. No entanto, quase três décadas depois, tendo em conta os abusos e os maus tratos a que muitas crianças são sujeitas em várias partes do mundo, apesar de 195 países terem aceite as normas defendidas no tratado das Nações Unidas, ainda é longo o caminho a percorrer.

Em muitos países, as últimas décadas foram de avanços a vários níveis mas, noutros, os problemas persistem, aproximando-se nalguns casos de realidades como as que o fotógrafo Lewis Hine, contratado pelo National Child Labor Committee, nos Estados Unidos da América, captou em 1908. Imagens de uma dureza extrema, que pode ver de seguida e que (ainda) remetem para alguns dos flagelos dos dias que correm.

Descubra, de seguida, alguns dos principais tipos de violência avançados pela publicação:

1. Violência perinatal

Na fase da gravidez, muitos fetos sofrem com o consumo de álcool e de drogas, com o tabaco e com a ingestão de fármacos, condenam muitos especialistas.

2. Escassez

Há crianças que crescem na pobreza, sem água potável, sem acesso a energia, sem saneamento básico e, nalguns casos, sem acesso a educação ou até mesmo a um registo. Continuam a ser milhões em todo o mundo.

3. Desigualdade de género

Muitas crianças crescem inferiorizadas por serem do sexo feminino. Além da mutação genital e do casamento infantil, são muitos os obstáculos e as desigualdades que têm de enfrentar.

4. Abusos sexuais

Não olha a idades nem a géneros. Há países onde o incesto não é crime e, em muitos casos, o abusador vive em casa da criança ou paredes-meias com a sua realidade familiar.

5. Violência doméstica

Os pais portugueses de hoje não se comparam aos de antigamente mas, ainda assim, à semelhança do que continua a suceder em muitos países, há crianças que continuam a ser vítima de intimidação, uma coação psicológica que pode condicionar o desenvolvimento psíquico e relacional dos mais pequenos.

6. Recrutamento militar

Em muitos países, em vez de brincar, as crianças são recrutadas, convertidas em soldados e enviadas para o campo de batalha.

7. Perseguição

Ciganos, albinos, indígenas, imigrantes, muçulmanos, refugiados, párias, deficientes... Pertencer a uma minoria étnica, geográfica, social, política e/ou religiosa faz com que muitos menores de idade sejam perseguidos e discriminados em várias regiões do globo.

8. Distúrbios alimentares

À pobreza e ao crescimento em contextos desfavorecidos, estão muitas vezes associados problemas como a fome e a subnutrição. No extremo oposto, surgem a obesidade, a bulimia e a anorexia, distúrbios que também afetam a vida de milhares de crianças.

9. Terrorismo

Além das que são vítimas de atentados, há as que são usadas para semear o terror e ainda as que são raptadas e mantidas em cativeiro, para serem usadas como moeda de troca.

10. Exploração

Muitas crianças são obrigadas a prostituir-se, a mendigar nas ruas, a trabalhar em condições desumanas e/ou até a participar em filmes pornográficos que são, depois, distribuídos por redes pedófilas.

11. Alterações climáticas

O planeta está a mudar e a subida das temperaturas acaba por ter impacto na vida quotidiana e até na economia de muitos países, tornando as comunidades que vivem em condições mais precárias em sociedades mais vulneráveis.

12. Doenças

O paludismo é a primeira causa de morte infantil em África mas, nesta e noutras regiões do globo, doenças como a malária, a tuberculose e até a sida continuam a ceifar muitas vidas inocentes.

13. Discriminação sexual

Nalguns países, a homossexualidade já é socialmente aceite e/ou tolerada mas, noutros, continua a ser perseguida e criminalizada. Muitas crianças e adolescentes com uma orientação sexual que se encaixe na sigla LGBT, que agrupa as lésbicas, os gays, os bissexuais, os travestis, os transexuais e as pessoas transgénero, são obrigadas a reprimi-la.

14. Distúrbios mentais

Por norma, as crianças são alegres, bem-dispostas e otimistas mas, crescendo em contextos de violência, repressão, discriminação e/ou pobreza, são mais propensas a doenças do foro psicológico, muitas vez em função de uma baixa autoestima.

15. Privação de liberdade

Segundo a Convenção sobre os Direitos da Criança, só deve ser usada em último recurso mas, um pouco por todo o mundo, são muitas as que se veem privadas de um dos seus bens mais preciosos, vivendo internadas em reformatórios.

16. Orfandade

O caso da Índia é paradigmático mas está longe de ser único. Neste país, o número de crianças órfãs ultrapassa os 50 milhões mas, dessas, apenas um milhão está institucionalizado. Tal como sucede em muitos países, muitas vivem na rua ou em orfanatos.

17. Negligência

Não são raras as notícias de casos, mesmo nos países mais desenvolvidos, em que muitas crianças sofrem devido à incúria dos pais, de familiares, dos cuidadores ou ainda de outras pessoas.