Educar é um desafio, mas também uma alegria. “Se além disso formos observadores e empáticos, as crianças podem ensinar-nos coisas interessante e recordar-nos certas facetas esquecidas da infância que deviam ser mantidas na idade adulta, como espontaneidade, curiosidade, habilidade, surpresa, inocência e confiança”, defende Carolina Pinedo, num artigo do suplemento infantil do El Pais, lembrando que os nossos filhos também são professores, funcionando como um espelho nas questões que precisam de mudadas ou melhoradas.

“Eles observam os pais de cima a baixo, imitam muitos dos seus comportamentos porque os seus ‘neurónios-espelho’ são muito desenvolvidos, e conhecem muito bem os adultos com quem vivem, pelo que podem ensinar-nos muito”, corrobora o psicólogo Darío Fernández Delgado. O especialista dá exemplos de algumas lições que podemos aprender com as nossas crianças.

Ser coerente com o que se pensa, diz e faz

Quando os pais tentam educar os filhos, podem cair em incongruências – o que é mau. Se insistem para que as crianças não brinquem enquanto comem, mas depois leem o jornal ou veem a televisão enquanto estão à mesa, o que esperam obter como resposta? “As crianças lembram-nos um princípio geral da pedagogia. A linguagem verbal e corporal e as atitudes não podem ser contraditórias”, sublinha Darío Fernández.

O valor da empatia

Quando a criança mente “é provavelmente porque tem um desejo ou impulso incontrolável de mudar a realidade. Ela precisa que os pais se ponham no seu lugar, que a deixem falar sem interrupções nem julgamentos, porque caso contrário a comunicação com os pais será cortada. A criança ou adolescente assume que não vale a pena contar nada porque ninguém a compreende”, sublinha Darío Fernández.

Desfrutar do corpo e dos sentidos

É importante valorizar o “estar no aqui e agora, no presente contínuo, que é onde a vida realmente acontece”. Este estado, natural para as crianças, “é a aspiração dos praticantes da meditação”, explica Tristana Suárez, psicóloga clínica e infantil. “Só dessa forma é possível contrariar a tendência da mente para saltar para um futuro que não existe ou regressar a um passado impossível de modificar”.

A importância do outro

É melhor pensar antes de dizer coisas como “és um tolo e um egoísta” ou “da próxima vez o que tens de fazer é…”. “A criança sabe o que fez mal. O que ela espera dos pais é uma orientação sobre como agir ou reagir, passando assim a gerir melhor as emoções.

A espontaneidade e a autenticidade

As crianças são levadas pelos seus desejos e pela sua visão do mundo. “Ainda não é possível suborná-los com facilidade. É por isso que eles são capazes de negar um beijo ou expressar a sua opinião sobre o que sentem sem se importar com o que os outros pensam. Isso traz frescor à sua maneira de andar pelo mundo, o que, nas doses certas, seria bom recuperar”, defende Tristana Suárez.

Viver sem preconceitos

“Podemos recordar e imitar a mente fresca dos nossos filhos para ter uma perspetiva da realidade sem preconceitos. Dessa forma, recuperamos a capacidade de criar sem limites”.

A rebelião como tributo à nossa verdade

Uma lição preciosa: evitar fazer o que vai contra o que somos e pensamos só para agradar. “Imitar a capacidade dos miúdos para serem rebeldes tem a ver com saber ser verdadeiro connosco próprios”.

Apreciar a curiosidade e a capacidade de explorar

“Os nossos pequenos professores podem ensinar-nos a cometer erros e a aprender com eles. Experimente, sem medo, descobrir algo novo todos os dias.”

A inocência como um caminho para a magia

“Quer melhor professor de inocência do que uma criança? Melhor do que qualquer um é capaz de ser, e de olhar sem culpa nem julgamento.”

Usar a confiança para assustar medos e inseguranças

Aprenda com eles que o mundo é um lugar onde vale a pena viver. “A confiança tem muito a ver com a esperança e a certeza de que ventos positivos vão soprar, ou quando algo mau acontecer seremos capazes de superá-lo. As crianças mostram-nos diariamente o valor da autoconfiança”, diz Carolina Pinedo.