Longe das excentricidades do seu antecessor, Alessandro Michele, De Sarno, de 40 anos, trouxe à passerelle desenhos austeros e intemporais, com os quais pretende encarnar um regresso às origens da Gucci.

Os modelos desfilaram com diferentes peças de couro, saias longas, casacos monocromáticos e camisas às riscas, numa mostra que teve a apresentação do músico britânico Mark Ronson e da qual participaram famosos de Hollywood como Julia Roberts e Ryan Gosling.

A paleta de cores também passou do cinza ao azul marinho, do preto ao branco e o bordô, o verdadeiro fio condutor desta coleção, intitulada "Ancora" ("Ainda" em italiano).

"A história de um todo, a história de um todo que ainda se expressa através da alegria", explicou De Sarno sobre o espírito da sua coleção.

A presença de inúmeros vestidos com pele provocou críticas por parte de coletivos de proteção animal, cujos militantes mostraram no final do desfile um cartaz com a mensagem "Ban exotic skins" ("Banam as peles exóticas).

No último minuto, a Gucci foi obrigada a mudar o local do desfile por causa da chuva que atingiu Milão. Antes ao ar livre, a apresentação acabou por ocorrer nos escritórios da Gucci na periferia da cidade.

"Novo capítulo criativo"

A estreia desse estilista de Nápoles ocorre num momento de mudanças e incerteza na Gucci e na sua empresa-matriz, Kering.

A saída de Michele em novembro de 2022 deixou um vazio substancial, mas a marca decidiu substituí-lo por este experiente estilista, que já trabalhou para Prada, Dolce&Gabanna e Valentino.

"Muitas coisas estão a acontecer na Kering", explica à AFP Luca Solca, um especialista em moda e luxo da consultoria Bernstein, que menciona "a tentativa de dar um novo impulso a Gucci", "a modernização da organização desta marca italiana" e "uma nova equipa dirigente no grupo Kering".

A designação de De Sarno como diretor artístico da Gucci não foi a única mudança revelante na marca, mas também a nomeação do francês Jean-François Palus como CEO.

O grupo de luxo Kering sofreu no primeiro semestre deste ano uma queda de 10% no seu lucro líquido, a 1,78 mil milhões de euros, em parte devido a uma diminuição de 1% das vendas da Gucci.

Segundo Solca, "a mudança mais importante de longe é o novo capítulo criativo da Gucci. Se isso funcionar, a Kering funcionará".

"A Gucci necessita de novas ideias e iniciar um novo capítulo. Ao colocá-lo em prática, permitirá aumentar o número de negócios e os lucros como deseja [François] Pinault", proprietário da Kering, acrescenta esse especialista.