Hoje, discute-se a importância do equilíbrio emocional no fortalecimento da autoestima, na perceção do corpo e na capacidade de nos ligarmos intimamente aos parceiros. O que se entende por saúde emocional?

A saúde emocional refere-se ao estado de equilíbrio psicológico que nos permite lidar de forma eficaz com os desafios da vida, gerir emoções de maneira saudável e estabelecer relações interpessoais significativas. É um pilar essencial para o bem-estar geral, influenciando a forma como percebemos a nós próprios, o mundo e os outros.

No contexto do equilíbrio emocional, destacam-se três aspetos cruciais. Começo por referir o fortalecimento da autoestima, ou seja, a capacidade de aceitar e valorizar quem somos, independentemente de imperfeições ou desafios, promove uma visão positiva de nós mesmos. Há também a destacar a perceção do corpo. Neste contexto, a saúde emocional contribui para uma relação mais saudável com a imagem corporal, combatendo padrões de julgamento negativos ou irrealistas. Finalmente, o terceiro aspeto crucial prende-se com as relações íntimas: quando estamos emocionalmente equilibrados, é mais fácil desenvolver conexões profundas e autênticas com os parceiros, criando laços baseados em confiança e respeito mútuo.

Este equilíbrio é alcançado através de práticas como autoconhecimento, gestão de stresse, estabelecimento de limites saudáveis e, quando necessário, busca de apoio psicológico. A sua manutenção é vital para viver de forma plena e consciente.

Mónica ferreira
Mónica ferreira

De que forma a falta de saúde emocional pode comprometer a saúde sexual?

A falta de saúde emocional pode comprometer a saúde sexual de forma significativa, uma vez que emoções desequilibradas influenciam diretamente a capacidade de vivenciar a intimidade de forma plena.

Em primeiro lugar, sentimentos como ansiedade, stresse ou baixa autoestima podem gerar insegurança e dificultar a expressão da sexualidade, conduzindo a dificuldades como a falta de desejo ou a incapacidade de atingir satisfação plena.

Além disso, problemas emocionais podem afetar a comunicação entre parceiros, criando barreiras à intimidade e gerando mal-entendidos ou ressentimentos que enfraquecem a relação. O desajuste emocional também está frequentemente associado ao aumento do risco de disfunções sexuais, como a disfunção erétil ou a anorgasmia, resultantes da pressão psicológica e da desconexão com o corpo.

Por fim, a falta de saúde emocional tende a reduzir a capacidade de estabelecer confiança e segurança na relação, condições indispensáveis para uma vida sexual saudável e gratificante. Assim, cuidar da saúde emocional é essencial para preservar tanto a qualidade da relação sexual como o bem-estar geral.

Saúde sexual é sinónimo de prática sexual saudável?

Saúde sexual não é sinónimo de prática sexual saudável, embora estejam interligadas. A saúde sexual refere-se ao bem-estar físico, emocional, mental e social em relação à sexualidade, englobando direitos como o consentimento, a proteção contra riscos e o respeito mútuo.

Já a prática sexual saudável diz respeito a comportamentos que promovem este bem-estar, como o uso de proteção, a comunicação entre parceiros e o respeito pelas necessidades e limites de ambos.

Assim, enquanto as práticas saudáveis contribuem para a saúde sexual, esta abrange também aspetos mais amplos, como a aceitação do corpo, o equilíbrio emocional e a qualidade das relações íntimas.

Atualmente, diversos fatores contribuem para afetar a saúde sexual, sendo o stresse e a ansiedade dois dos mais relevantes.

Presentemente, quais são os fatores que mais concorrem para afetar a saúde sexual?

Atualmente, diversos fatores contribuem para afetar a saúde sexual, sendo o stresse e a ansiedade dois dos mais relevantes. Estes estados psicológicos interferem diretamente no desejo, na performance e no prazer sexual, criando bloqueios emocionais e físicos que dificultam a vivência plena da sexualidade.

Outros fatores incluem a falta de comunicação entre parceiros, que compromete a intimidade, e a baixa autoestima, que influencia negativamente a perceção do corpo e a confiança. Adicionalmente, hábitos de vida pouco saudáveis, como o sedentarismo, má alimentação, consumo excessivo de álcool ou drogas, também impactam negativamente a saúde sexual.

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Por fim, questões culturais e sociais, como tabus sobre sexualidade, pressão por desempenhos ideais e desigualdade de género, aumentam o impacto psicológico e emocional, dificultando a vivência saudável da sexualidade. A conjugação destes fatores sublinha a importância de uma abordagem holística ao bem-estar sexual.

Quais são os sinais de que uma disfunção sexual pode ter uma causa psicológica?

Os sinais de que uma disfunção sexual pode ter uma causa psicológica incluem a sua ocorrência em situações específicas ou com determinados parceiros, a variabilidade dos sintomas dependendo do contexto emocional e a ausência de causas físicas evidentes.

Por exemplo, problemas como falta de desejo, dificuldade em atingir o orgasmo ou disfunção erétil podem surgir após episódios de stresse, ansiedade ou conflitos interpessoais, mas não se manifestam em momentos de relaxamento ou segurança emocional.

Outros indícios incluem a associação dos sintomas a pensamentos negativos, como medo de falhar, baixa autoestima ou preocupações excessivas, bem como a coexistência de sinais de saúde mental fragilizada, como irritabilidade, fadiga ou depressão. Estes fatores apontam para uma origem psicológica, sugerindo a necessidade de apoio emocional ou terapia especializada.

Quer elencar algumas destas disfunções sexuais de origem psicológica?

Sim. As disfunções sexuais de origem psicológica incluem o desejo sexual hipoativo que se caracteriza por uma falta persistente ou recorrente de desejo sexual, frequentemente associada a stresse, ansiedade, depressão ou baixa autoestima. Também incluem a anorgasmia, ou seja, a dificuldade ou incapacidade de atingir o orgasmo, geralmente ligada a bloqueios emocionais, crenças limitadoras ou experiências traumáticas. Também aqui incluo o vaginismo, isto é, a contração involuntária dos músculos vaginais que impede a penetração, frequentemente associada a ansiedade, traumas ou medo da dor.

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Outra disfunção sexual de origem psicológica prende-se com a disfunção erétil, que se traduz na dificuldade em alcançar ou manter uma ereção, muitas vezes causada por pressão para "desempenhar", medo de falhar ou conflitos emocionais. Por fim, também destaco a ejaculação precoce ou retardada, ou seja, as alterações no controlo da ejaculação, muitas vezes relacionadas com ansiedade de desempenho ou preocupações emocionais.

Estas disfunções revelam como fatores psicológicos, como stresse, traumas, inseguranças e conflitos interpessoais, podem afetar a saúde sexual, sendo fundamental uma abordagem terapêutica multidisciplinar para compreender e tratar a sua origem.

A comunicação aberta entre parceiros desempenha um papel fundamental na superação de barreiras emocionais e sexuais.

Que sinais de alerta nos indicam que devemos recorrer à terapia sexual ou psicológica no sentido de superar traumas ou bloqueios emocionais que afetam a nossa sexualidade?

Os sinais de alerta que indicam a necessidade de recorrer à terapia sexual ou psicológica incluem dificuldades persistentes na vida sexual, que se traduzem em problemas como a ausência de desejo, dificuldade em alcançar o orgasmo, disfunção erétil ou dor durante o ato sexual, especialmente quando não têm causa física identificável.

Também destaco o impacto emocional significativo, associado a sentimentos de frustração, culpa, vergonha ou ansiedade relacionados com a sexualidade, que afetam o bem-estar geral e a autoestima. Outro fator a considerar prende-se aos conflitos nas relações, traduzidos em problemas de comunicação ou falta de intimidade com o parceiro devido a questões sexuais, criando distanciamento emocional ou tensão na relação.

Também aqui incluo a história de traumas, ou seja, experiências traumáticas, como abusos, violência ou relacionamentos abusivos, que dificultam a vivência saudável da sexualidade. Finalmente, destaco os bloqueios emocionais, associados a medos, crenças negativas ou pensamentos intrusivos que impedem o prazer ou a satisfação sexual.

Quando estes sinais se manifestam de forma persistente e afetam a qualidade de vida ou das relações, procurar terapia sexual ou psicológica pode ajudar a identificar a raiz do problema, promover o autoconhecimento e restabelecer o equilíbrio emocional e sexual.

A comunicação aberta é frequentemente citada como essencial para melhorar a ligação íntima. Qual o papel da comunicação entre parceiros na superação de barreiras emocionais e sexuais?

A comunicação aberta entre parceiros desempenha um papel fundamental na superação de barreiras emocionais e sexuais, pois promove a compreensão mútua, a confiança e a intimidade. Quando os parceiros partilham abertamente os seus sentimentos, medos, necessidades e expectativas, criam um ambiente seguro onde ambos se sentem ouvidos e valorizados, reduzindo tensões e mal-entendidos.

Este diálogo facilita a identificação das causas subjacentes às dificuldades, como inseguranças, traumas ou desentendimentos, permitindo encontrar soluções conjuntas e fortalecer o vínculo emocional. Além disso, a comunicação contribui para o respeito pelos limites e desejos de cada um, aumentando a satisfação e a harmonia na relação.

Em última análise, uma comunicação honesta e empática não só ajuda a ultrapassar barreiras emocionais e sexuais, mas também reforça a conexão afetiva, criando uma base sólida para uma relação íntima saudável e gratificante.