
Com mais de sete anos de experiência, Malik, ao abrir o NUMA Studio, quis quebrar com o "estigma que a tatuagem tem", que considera ainda estar muito associado a ambientes pesados, onde domina a cor preta e o estilo rock'n'roll. "Queria uma coisa mais leve, mais calma, onde as pessoas se sentissem confortáveis, que entrassem e encontrassem um espaço mais acolhedor".
Nascido no Brasil, no Rio de Janeiro, e a viver em Lisboa desde a adolescência, Malik recorda-se de gostar de tatuagens desde a infância. No entanto, terá sido depois de concluir a licenciatura em Artes Visuais na Universidade Lusófona, que decidiu fazer desta arte uma carreira. "Queria seguir uma área no mundo das artes, mas não me via a ser professor ou a vender quadros. Lembrei-me das tatuagens e percebi que era uma arte direta, entre mim e o cliente, sem intermediários", conta ao SAPO Lifestyle. "Também era uma arte onde eu podia me expressar, estar mais à vontade", acrescenta. "Dentro do meio artístico, surgiu o caminho da tatuagem e eu segui-o".

Tal como a maioria dos tatuadores, também Malik começou por tatuar amigos em casa. Com o tempo foi aperfeiçoando a técnica e a acumular experiências em estúdios na Alemanha, Suíça e Luxemburgo. "Depois de tudo isto e de adquirir muito conhecimento, senti que estava na hora de abrir o meu próprio espaço". Sobre se se inspirou em estúdios que conheceu ao longo da sua jornada, refere que não se deparou com nenhum "soft e calmo". "Há estúdios que são mais carinhosos com os clientes, mas ainda têm uma pegada um pouco mais dark. O preto continua a ser predominante nos estúdios", comenta. "Esta ideia nasce da ausência desse espaço", afirma o tatuador que não tem dúvidas de que "a tatuagem ainda tem muito estigma" e de que continua a existir "muito preconceito" relativamente a esta arte.
Inaugurado em abril, o NUMA Studio nasce com o propósito de elevar a tatuagem a um novo patamar. A estética foge à da velha guarda e aposta em elementos que refletem a visão e estilo do artista com a intenção de criar um ambiente acolhedor e profissional para os clientes. Decorado com quadros de trabalhos da casa e tons neutros como o bege e o castanho e iluminado por luzes quentes, apresenta-se como um lugar elegante e confortável, seguindo a tendência de muitos espaços dedicados ao bem-estar.

Para além de quebrar com o visual habitual das lojas de tatuagens, o NUMA investe num atendimento e consultoria artística personalizados: o cliente partilha a sua ideia, discute-se o local, o tamanho e ajusta-se a proposta para criar algo verdadeiramente único e com identidade. Segundo o artista, há quem queira fazer tatuagens iguais às de outras pessoas. "Isso não é ideal", explica. "O ideal é trabalharmos a arte e criar algo mais pessoal, com mais personalidade".
Assim, o estúdio procura garantir que cada trabalho imortalizado na pele de quem o procura é único, ainda que possa ter em comum com outros clientes o estilo predominante do estúdio: o fine line, especialidade de Malik. Para dar resposta a outras ideias, o espaço conta também com a colaboração da artista Omnia, também especialista em fine line, além de microrealismo e botânica, e de Wesley Lemes, que domina o realismo colorido, escala de cinza e blackwork. A casa recebe ainda artistas convidados, que são anunciados nas redes sociais e no site oficial.

Outro aspeto em que Malik investe para diferenciar o seu negócio dos demais é no acompanhamento pós-tatuagem. No final de cada trabalho, todos os clientes recebem um kit de cuidados e são agendadas consultas de seguimento, três a quatro semanas depois, para avaliar a cicatrização e fazer eventuais retoques. "A tatuagem não é um processo que começa e termina no mesmo dia", defende.
Quanto à dor, o tatuador garante que é suportável. "Normalmente, é a expectativa que dói mais. As pessoas vêm com medo, mas depois dizem: ‘É só isto?’". E sim, admite com humor: "Normalmente são os homens que gritam. Já houve um que desmaiou", recorda.
Para quem quer fazer uma tatuagem pela primeira vez, o conselho é claro: há que pensar bem. "A tatuagem é uma expressão. Se estás com a autoestima em baixo, a tatuagem pode ajudar a elevá-la", menciona, acrescentando que esta é um gesto de afirmação pessoal, às vezes estético, outras simbólico, mas que, porém, deve ser sempre verdadeiro.

"Eu, por exemplo, tenho tatuagens unicamente por estética", admite. "Nunca fiz uma que tenha um significado profundo", observa. "Olhava e dizia, acho interessante, quero fazer. Correu bem? Correu mal? Já está, mas era a ideia".
Por outro lado, reconhece que existem pessoas com vontade de fazer uma tatuagem, mas que não sabem o que fazer. Nestes casos, acredita que "o melhor é procurar um significado: pode ser uma cena de família, um momento ou uma viagem marcante. Assim, a tatuagem ganha mais relevância e há uma desculpa".
"Hoje em dia já nada é permanente", lembra. "É possível remover a tatuagem a laser. Então, é tranquilo, porque, às vezes, há esse medo. Só que a tatuagem também é o momento. Naquele momento eras aquilo. Mal ou bem, aquilo é uma marca que ficou da tua história".
"Acho que todos deviam experimentar, pelo menos, uma vez esta sensação", partilha com o SAPO Lifestyle. "Pode ser uma coisa pequena ou grande, é irrelevante: tem significado de todos os tamanhos", finaliza o artista que defende que "as tatuagens são história e percurso".
O nome NUMA — palavra de origem swahili que significa "voltar" — reflete a filosofia do estúdio: um lugar onde se regressa à escuta, à calma e às origens da tatuagem como gesto humano e emocional.
Com preços as partir dos 80 euros, o NUMA Studio funciona de segunda-feira a sábado, entre as 10h e as 20h.
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