Senhor Abílio. Não era o mais afável dos comerciantes mas tinha paciência para Paulo Aguiar. Era na drogaria que possuía na Lapa, em Lisboa, que o agora empresário de restauração ia comprar muitas das coisas que os pais, dois cozinheiros de mão cheia, lhe mandavam ir buscar. Era também lá que, em criança, passava longos períodos a perguntar os preços das coisas para decidir que presente(s) é que iria oferecer à mãe. Depois da infância no bairro alfacinha, a vida levou-o para a Madeira e para Timor Leste.

Mas, na hora de regressar a Lisboa para abrir um novo negócio, Paulo Aguiar não teve dúvidas. Assim que percebeu que o espaço ocupado pela antiga drogaria, que depois do encerramento chegou a ser uma loja de móveis, estava livre, chegou-se à frente. Na altura de escolher o nome do novo restaurante que abriu no número 8 da rua Joaquim Casimiro, é que teve algumas incertezas. Senhor Abílio pareceu-lhe uma homenagem justa e uma opção pitoresca, mas Drogaria acabaria por ser a designação que vingaria.

A euforia da abertura, nos últimos meses de 2019, foi travada antes da chegada da primavera do ano seguinte por causa da pandemia mas, sensivelmente um ano depois, após um verão e um outono mais desafiantes do que Paulo Aguiar inicialmente esperaria, o restaurante reabre com um novo chef e com novas propostas, sem contudo deixar de ter algumas das especialidades gastronómicas que rapidamente se tornaram num clássico, como as guiozas de cozido à portuguesa, que pode apreciar de seguida.

Daniel Sousa, o novo chef executivo do Drogaria, assumiu a cozinha do restaurante em abril. "Identifiquei-me com a essência deste projeto. Tanto eu como o Paulo, viajámos e sentimos verdadeiramente saudades de Portugal. Aqui, voltamos ao local, ao bairro, trazendo ideias e sabores de proximidade e apostando numa relação próxima com os nossos clientes. Somos a favor dos produtos locais e da época. Gostamos do mar, das hortas, dos mercados, dos pequenos produtores e dos vizinhos", confessa o cozinheiro.

A brusqueta de filete de sardinha curada em salmoura tradicional com picadinho de cebola nova, tomate e salsa, uma das novas propostas da carta de verão de 2021, é uma criação sua, tal como a tigelada, elaborada a partir de uma receira tradicional beirã, que agora é servida com meloa prensada, favo de mel e espuma de iogurte, mel e lima. "O nosso objetivo é apresentar nos pratos texturas diferentes que se complementem", esclarece Daniel Sousa. "Temos alguma modernidade na comida", reforça Paulo Aguiar.

"Gostamos de fazer umas brincadeiras e usamos muito os produtos sazonais", assume o empresário. "Temos muita facilidade em fidelizar as pessoas", regozija-se. Além da qualidade da culinária, dos vinhos e dos coquetéis que serve, o requinte do espaço interior do Drogaria, que integra duas salas elegantes e acolhedoras, também agrada. A estética do espaço de restauração incorpora elementos estéticos das décadas de 1950, 1960 e 1970. Mais descontraída, a esplanada exterior também é muito procurada.