A ansiedade é uma emoção universal que surge associada à experiência subjetiva de tensão sem agressividade (senão sentiríamos irritabilidade) e que é do ponto de vista médico e psicológico considerado grande parte das vezes como normal.

Considera-se a ansiedade do ponto de vista evolutivo uma parte importante da reação a uma situação de stress para o qual ancestralmente (e também nos dias de hoje embora mais raramente) era necessária uma preparação do corpo para uma situação de fuga ou de confrontação física ou agressão - "flight ou fight". Assim perante a suspeita de que uma reação desse tipo vai ser necessária, em termos mentais inicia-se o processo de estreitamento do campo de interesses na forma de preocupação em relação ao estímulo de stress e simultaneamente vão ocorrer diversas alterações no corpo para o preparar fisicamente para reagir ao stressor, sendo as mais importantes a aceleração dos ritmos cardíaco e respiratórios e, a nível metabólico, o aumento dos nutrientes em circulação.

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Exemplificando a importância deste fenómeno constata-se que a ansiedade melhora genericamente a performance até certo ponto e quando adequada às circunstâncias que a causaram. Nestes casos pertencentes à experiência normal ao longo da vida, a ansiedade é vivida sem sofrimento e com compreensibilidade do próprio e pelos outros pela sua adequação ao estímulo: ninguém estranhará uma reação ansiosa se tivermos um encontro inesperado com um animal selvagem ou fizermos uma apresentação em público para uma audiência.

Os fatores que podem tornar a experiência de ansiedade patológica são a sua grande intensidade, a sua duração ser prolongada ou surgir como reação a uma situação desadequada ou mesmo sem qualquer estímulo como acontece por exemplo nos estados de pânico.

A ansiedade pode ser também dividida em estado e traço (Sims e Snaith 1988), em que o estado é temporário e circunscrito a um momento limitado e o traço uma tendência ao longo do tempo (muitas vezes ao longo de toda a vida). O traço ansioso poderá ser a manifestação do temperamento, característica da personalidade com forte componente hereditário e fator de risco para o desenvolvimento de doenças ansiosas.

Os sintomas de ansiedade são vários:

- Somáticos e autonómicos: Palpitações (sensação de batimento cardíaco acelerado ou fora do tempo), dificuldade em respirar, boca seca, náuseas, aumento da frequência urinária, tonturas, tensão muscular, sudorese excessiva, desconforto abdominal, tremores, pele fria;

- Psíquicos (psicológicos): Sentimentos de temor ou ameaça, irritabilidade, pânico, antecipação ansiosa, preocupação excessiva com situações triviais, dificuldades de concentração, dificuldades em adormecer, dificuldade em relaxar. Nas consultas médicas surgem tipicamente três síndromes ansiosos principais:

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1. Perturbação de ansiedade generalizada:

tem uma prevalência de cerca de 3% na população adulta, caracteriza-se por ansiedade e preocupação excessivas e desproporcionais interferindo com a capacidade de trabalho ou alterando o padrão de socialização e hábitos da pessoa. Está associada frequentemente à sensação de estar no limite, cansaço fácil, dificuldades de concentração, irritabilidade, tensão muscular e alterações do sono

2. Fobia (social ou específica):

Tem uma elevada prevalência estimando-se que 7-9% das pessoas possam ter critérios para esta perturbação e muitas vezes não procuram ajuda médica. Caracteriza-se por medo ou receio intenso de um objeto ou situação específica (por exemplo alturas, andar de avião, elevador ou de metro, animais, sangue) havendo esforço activo para evitar o objeto fóbico. O medo é desproporcional em relação à situação e contexto socio-cultural. A fobia social tem uma prevalência de 3-7% e caracteriza-se por medo da exposição social, evitamento de falar em público, falar com estranhos, ser observado durante a alimentação.

3. Perturbação de pânico:

Surge em 2-3% dos adultos, sendo diagnosticada nos casos em que ocorrem episódios de pânico de forma recorrente. Um ataque de pânico caracteriza-se por mais vários dos seguintes sintomas: Palpitações, sudorese, tremores, falta de ar, sensação de estar a sufocar, náusea ou desconforto abdominal, sensação de tonturas ou desmaio, arrepios ou sensação de calor, formigueiros ou alterações da sensação, desrealização ou despersonalização, medo de perder o controlo ou enlouquecer, medo de morrer.

Os quadros de ansiedade patológica têm um elevado impacto na qualidade de vida, produtividade e saúde física devendo ser tratados adequadamente. As pessoas que apresente quadros destes poderão iniciar o tratamento no Serviços de Saúde Primários (Médico de Família) que estão completamente habilitados a tratar a grande maioria destes quadros e a referenciar os quadros com indicação para Psiquiatria e Psicologia quando for necessário.

Um artigo do médico João Reis, especialista em Psiquiatria no Hospital Lusíadas Lisboa.