Tomar ou não medicamentos para a dor nas costas depende mais do impacto sentido pelo doente do que dos conhecimentos em saúde. É o que revela um estudo conduzido por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

A dor lombar (na parte inferior das costas) é altamente prevalente, estimando-se que afete 26,4% da população portuguesa de forma aguda, desaparecendo habitualmente entre seis a oito semanas depois. Apesar do prognóstico ser normalmente bom, provoca muitas vezes perda de mobilidade, de funcionalidade e de qualidade de vida.

A medicação utilizada, que inclui analgésicos e relaxantes musculares, contribui para aliviar e controlar a dor. No entanto, sabe-se que cerca de metade dos doentes não procura a ajuda de um médico.

Publicado no Family Medicine & Primary Care Review, o estudo da FMUP aplicou questionários a 249 participantes, dos quais 41% reportaram a toma de medicação para a dor, sobretudo anti-inflamatórios não esteróides (85%). Apenas 16,1% faziam fisioterapia e 24,1% recorriam a terapias alternativas. Nos doentes que usavam medicação, a adesão ao tratamento foi de 84,4%.

Mais de metade dos participantes tinha tido dor lombar no mês anterior.  A maioria (63,1%) conseguia identificar um movimento ou posição que estaria na origem dessa dor. Cerca de 32% consideravam que a sua dor era grave/severa. Como previsto, 47,4% disseram que a dor tinha um impacto significativo nas suas atividades de vida diária, provocando sérias limitações em 2,8%.

“O principal fator associado à adesão à medicação foi o impacto da dor na vida diária, incluindo a duração e intensidade da dor. A perceção do impacto da dor é mais relevante para a toma da medicação do que a literacia ou as crenças individuais”, explicam os autores Ana Luísa Amorim e Paulo Santos, da FMUP/CINTESIS e Laboratório Associado RISE.

De acordo com os investigadores, estes resultados podem ser explicados, em parte, porque a medicação para a dor aguda apresenta um benefício evidente para o doente, ao contrário do que acontece nas doenças crónicas, em que “é necessário educar os doentes a propósito dos benefícios do tratamento ou em que existem crenças e receios sobre os potenciais efeitos secundários”.

Neste modelo de doença aguda, o acesso ao tratamento adequado é mais relevante do que a educação contínua e a literacia, ainda que tenha de existir algum cuidado na extrapolação destes resultados para a população geral, pois estes participantes eram mais novos, tinham menos doenças associadas e tinham mais literacia em saúde.

Este estudo é o primeiro a analisar a relação entre literacia em saúde e adesão à medicação na dor lombar, enquanto modelo de doença aguda.