A fertilidade é um tema cada vez mais presente na vida de muitos casais. Como forma de abrir espaço a uma conversa mais informada e integrativa, o ginecologista-obstetra, especialista em medicina de reprodução, Miguel Raimundo organizou o evento “Fertilidade sem Tabus”, a 14 de junho, em Lisboa. A alimentação, muitas vezes negligenciada nas consultas de fertilidade, foi chamada a discussão como um dos pilares da saúde reprodutiva, entre outras áreas. 

A sessão contou com a participação da nutricionista Virgínia Marques, especialista em nutrição na fertilidade e gravidez, que trouxe uma visão poderosa e pouco abordada em contexto clínico: “a qualidade dos óvulos não é um acaso. Ela é construída todos os dias, através das escolhas que fazemos, especialmente à mesa”. 

Um dos pontos centrais da conversa foi o papel do homem na preparação para a gravidez. Virgínia Marques lembrou que “um embrião é 50% óvulo e 50% espermatozoide” e que, por isso, a fertilidade deve ser encarada como um projeto conjunto. Não basta focar apenas na mulher. A saúde e os hábitos do homem são igualmente decisivos para aumentar as probabilidades de conceção. 

“A fertilidade não é sorte nem acaso, é o reflexo diário das escolhas que fazemos pelo nosso corpo, principalmente na alimentação. Cuidar do que comemos é cuidar da vida que queremos criar”, concluiu Virgínia Marques. 

engravidar
engravidar Ginecologista-obstetra Miguel Raimundo e a nutricionista Virgínia Marques.

Os pilares invisíveis da fertilidade 

De acordo com informação disponibilizada pelos organizadores do encontro, “a saúde do intestino é hoje reconhecida como um fator determinante para a fertilidade. Um intestino saudável ajuda a equilibrar os níveis hormonais e a reduzir a inflamação sistémica, um dos grandes inimigos da conceção. A presença de uma microbiota equilibrada melhora a absorção de nutrientes essenciais e apoia o sistema imunológico, preparando o corpo para a gravidez”. 

A mesma fonte indica que “muitas vezes negligenciados, os défices nutricionais podem comprometer a qualidade das células reprodutoras e o ambiente uterino. Vitaminas como o ácido fólico, vitamina D, antioxidantes como a vitamina E e minerais como o zinco e o selénio desempenham funções chave na formação celular e na proteção contra o stress oxidativo”. 

Ainda de acordo com Miguel Raimundo, “a inflamação prolongada e silenciosa pode alterar o equilíbrio hormonal, dificultar a implantação do embrião e reduzir a qualidade do esperma. A alimentação anti-inflamatória, rica em gorduras boas (ómega 3), frutas, vegetais e pobre em açúcares refinados e alimentos processados, é fundamental para combater este problema”. Acrescenta o mesmo especialista que “hormonas em desequilíbrio impactam diretamente a ovulação, a produção de espermatozoides e o ambiente uterino. Nutrientes específicos, combinados com um estilo de vida saudável, ajudam a regular a produção hormonal e a melhorar a fertilidade”. 

Finalmente, “um bom padrão de sono, para além de promover uma melhor reparação celular, proporciona níveis adequados de melatonina, hormona importante na ovulação e na regulação do ciclo menstrual, e também afeta a qualidade do esperma. O sono ajuda a equilibrar o sistema endócrino e reduz o stresse”, outro fator que pode prejudicar a fertilidade. 

Durante a demonstração culinária no evento, foram apresentadas refeições práticas, acessíveis e baseadas na ciência, que favorecem os aspetos atrás indicados, desde a redução da inflamação até o suporte nutricional para o desenvolvimento das células reprodutoras. O objetivo é descomplicar a alimentação para que ela seja uma aliada real no processo de conceção. 

Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik.