Um júri do estado americano da Califórnia irá decidir se Elizabeth Holmes, uma antiga estrela em ascensão de Silicon Valley ou Vale do Silício, é culpada de fraude, de acordo com os argumentos iniciais do seu julgamento, que teve início esta quarta-feira.

Quando criou a empresa de diagnósticos Theranos em 2003, a carismática Elizabeth, na época com 19 anos, prometia resultados mais rápidos e baratos do que os laboratórios tradicionais e realizados com apenas gotas de sangue. A tecnologia prometia detetar várias doenças como o cancro.  Mas os procuradores federais apontam que os testes não funcionavam como prometido e agora Elizabeth enfrenta acusações de fraude que, se condenada, podem custar-lhe anos de prisão.

"Este é um caso de mentira e trapaça para obter dinheiro", acusou o procurador-geral Robert Leach, durante a abertura dos argumentos em um tribunal em San José, no coração do Vale do Silício.

Fotos do dia em que começou o julgamento de Elizabeth Holmes

Em 2015, uma investigação jornalística expôs um dos maiores escândalos de Silicon Valley, um dos maiores e mais famosos clusters de inovação do mundo. Em 2018, a Theranos colapsou e a empresária foi detida, juntamente com o seu parceiro de negócios e ex-namorado Ramesh "Sunny" Balwani.

Mas a defesa argumentou que Elizabeth estava totalmente dedicada à Theranos e que ela não era a "vilã" que os promotores descreveram, mas que cometeu erros. "A Theranos falhou em parte porque cometeu erros, mas erros não são crimes", afirmou o advogado Lance Wade num tribunal repleto de jornalistas, familiares e grandes equipas jurídicas.

A defesa também alega que Elizabeth sofreu abuso psicológico e era dominada pelo seu sócio e ex-parceiro amoroso, que é julgado separadamente.

"Controlava o que ela comia, vestia, o dinheiro que gastava e com quem podia interagir. Basicamente, dominava-a, anulando a sua capacidade de tomar decisões", afirmaram.

Elizabeth foi uma celebridade do mundo da tecnologia. o seu empreendimento bilionário prometia revolucionar os exames de laboratório, antes de ser soterrado por acusações de fraude. Ela e Balwani, diretor operacional da Theranos, foram acusados de conspirar para enganar investidores e clientes da empresa.

O caso chama a atenção da imprensa norte-americana devido à história de sucesso meteórico de Elizabeth.

Durante a seleção do júri na semana passada, o advogado da réu, Kevin Downey, perguntou a vários candidatos em potencial se eles tinham sofrido "abuso de alguém próximo", sinalizando que a defesa apostaria nesse argumento. Mas o procurador Jeffrey Schenk deverá apostar em profissionais de saúde para desmascarar essa tese.

"Finja até conseguir"

Nomes de peso, como o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger e o ex-secretário de Defesa James Mattis, assim como o magnata dos média Rupert Murdoch, investiram no que parecia ser uma aposta certa.

Elizabeth foi considerada uma visionária e chegou a ser comparada ao fundador da Apple, Steve Jobs. Mas depois de alguns anos e alguns biliões, a promessa fez água e as máquinas milagrosas não funcionaram.

Segundo os procuradores, Elizabeth sabia disso e mentia aos investidores, médicos e pacientes para continuar a arrecadar dinheiro. Chegou a acumular uma fortuna estimada em 3,6 mil milhões de dólares, segundo a revista "Forbes" de 2014.

Naquela época, era a bilionária mais jovem de sempre sem ter herdado fortuna.

Em 2018, a Securities and Exchange Commission apresentou o caso Theranos como uma lição para o Vale do Silício, destacando-o como um alerta para a cultura do "finja até conseguir".

O julgamento foi adiado diversas vezes, porque a ré teve um filho no mês passado.