Só vejo uma forma possível de começar a falar de emoções… Fazendo-vos sentir! Conseguem relembrar uma situação das vossas vidas, em que tenham tido uma perda? Uma perda significativa, de alguém que amavam, mas que fisicamente, deixou de estar ao vosso lado. Acredito que alguns de vós, neste momento possam estar a sentir alguma tristeza ou saudade, mas também acredito que outros possam estar a sorrir ao lembrar-se desse alguém, por tudo aquilo que ainda significa e pela importância que teve na vossa vida. Perante uma mesma situação, várias emoções podem ser despoletadas, bem como vários sentimentos. Esse sentimento é único, é vosso! E muitas vezes parece incompreensível para os outros…

Vou falar sobre psoríase e mente, mas não quero entrar apenas numa escrita racional, com argumentos e números que sustentam as minhas palavras. Como enfermeiro, quero escrever de forma a tentar passar um pouco mais do que a psoríase pode ser na vida de uma pessoa.

Voltando à vossa perda, sei que num primeiro momento, a dor e o sofrimento deve ter estado presente. Preciso que os tragam à vossa memória para sentirem as minhas palavras daqui para a frente. A psoríase é uma doença crónica, não contagiosa, que pode ter várias formas, mas quando aparece, pode trazer uma grande perda… Perda de uma aparência normal, perda de qualidade de vida! 

Por um lado, esta doença vai ser visível para os outros, que muitas vezes a desconhecem e então têm comportamentos previsíveis, como por exemplo, questionar, olhar de lado, fugir, discriminar, etc. Do lado da pessoa com doença, também tendem a surgir comportamentos adaptativos, como é o caso da adequação de roupa (para tapar, ou com cores que não se perceba tanto a descamação da pele), do isolamento (muitas vezes de pessoas próximas), de alteração de atividades de vida (lúdicas ou laborais), etc. Todas estas alterações vão ter um impacto nos pensamentos e nas emoções. Esta pessoa tem uma doença inflamatória crónica, que além da pele, pode ter efeito noutras áreas, nomeadamente nas articulações e no cérebro. A artrite psoriática pode ser altamente limitativa e dolorosa e o facto de estes fatores pró inflamatórios estarem sempre em níveis altos, também pode trazer uma consequência na sua ação com o cérebro, a depressão. Ver a psoríase apenas como umas lesões na pele, é altamente redutor e não traduz o processo fisiopatológico da doença e muito menos, o que a doença significa para a pessoa.

Como disse, vou falar pouco de números e estudos, mas vou basear-me em algumas conversas. Conversas em que me disseram que esta doença é causada pelo stress, que sentem vergonha em andar na rua ou mostrar o seu corpo ao companheiro, que têm dor, comichão, incapacidade para o trabalho, disfunção erétil, ideação suicida… As queixas são tantas, só é preciso tempo e disponibilidade para ouvir. Mas ao ouvir e ter conhecimento, também é preciso perceber o que mais pode ser feito para valorizar estas pessoas, para minimizar os danos causados por esta patologia que a vai acompanhar pela vida toda.

Apesar de ser para a vida, hoje em dia existem tratamentos que conduzem a uma melhoria de 100%. O diagnóstico deve ser feito o mais precocemente possível, para que o médico possa prescrever o tratamento adequado a cada situação. Fatores que estão para além das manifestações da pele também devem ser avaliados e caso seja necessário, trabalhados, pelos diferentes profissionais de saúde, para que a pessoa se sinta livre da doença. 

Não é fácil, em poucas palavras, dar a conhecer o outro lado da doença, mas acredito, que talvez por algumas situações de vida, se revejam e sintam o que pode ser viver com psoríase. Por fim, termino com uma homenagem a todas as pessoas que têm psoríase e, por isso, considero-as estoicas. 

Um artigo de Miguel Teixeira, enfermeiro do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho e na Mutual Clinic e Presidente da Associação Portuguesa de Enfermeiros em Dermatologia.