Publicado na revista BMC Medicine por dois investigadores da Universidade de Glasgow, o estudo identifica cinco fatores de isolamento social ou solidão e refere que, quando combinados, podem aumentar em 50 por cento o risco de morte.

“Devemos considerar o isolamento e a solidão como importantes para o risco de morte e devemos ter políticas de intervenção públicas adequadas”, afirmou um dos autores, Hamish Foster, em conferência de imprensa, sugerindo que este levantamento estatístico pode ser utilizado para ajudar a identificar pacientes com maior risco, devido a fatores sociais.

Utilizando 458 mil adultos que fazem parte do UK Biobank – um grupo de meio milhão de voluntários do Reino Unido que está disponível a ser acompanhado ao longo da vida, para efeito de estudo sobre predisposição genética e da exposição ambiental no desenvolvimento de doenças -, os autores procuraram investigar a associação entre mortalidade e cinco tipos de interação social.

Usando registos de voluntários entre 2006 e 2010, com idade média de 56,5 anos, e cruzando esses dados com o número de mortes 12 anos depois (33.135 pessoas), foi possível avaliar, estatisticamente, a relação entre os comportamentos sociais e a morte.

Os autores identificaram dois tipos de solidão (sem confidentes ou sentimento de solidão) e três tipos de isolamento social (sem atividades semanais ou regulares com outras pessoas fora do trabalho, viver sozinho e não ter visitas de amigos ou familiares).

A combinação de pelo menos duas das variáveis é mais frequente entre os voluntários que morreram, um valor que sobe, em alguns casos aos 49%. E só os casos em que não há visitas e contactos com familiares ou amigos têm uma frequência superior em 39% à média.

Apesar disso, Jason Gil, outro dos autores, refere que a frequência das visitas de familiares ou amigos parecem não ser relevantes. “O que interessa é visitar uma vez por mês ou por semana, porque ver frequentemente não parece trazer quaisquer benefícios”, explicou.

O estudo fez a análise por comparação de idade e critérios de morbilidade, agregando os voluntários no mesmo padrão. “É normal que uma pessoa mais idosa sofra de mais solidão, por exemplo”, explicou Hamish Foster.

O facto de os contactos com pessoas próximas (amigos ou familiares) ser benéfico para o risco de morte estará relacionado com outras causas sociais, salientou Jason Gil.

“Uma pessoa que seja acompanhada terá sempre uma segunda opinião sobre situação de saúde, por exemplo”, disse.

Hamish Foster alertou que é necessário estudar também as variáveis socioeconómicas, porque muitos casos de isolamento e solidão estão relacionados com contextos mais fragilizados em que as pessoas têm menos acesso à saúde ou a outros cuidados.

Tendo em conta o universo de inquiridos, os autores consideram que os resultados podem ser generalizáveis para outros contextos, mas salientam que a amostra do UK Biobank “não é totalmente representativa da população geral do Reino Unido”, porque se baseia em voluntários já atentos a questões de saúde.