Trabalho há vários anos na área da comunicação em saúde e ainda hoje me questionam o porquê da necessidade de comunicação dentro de uma estrutura de saúde, nomeadamente em hospitais, o que fazemos, qual o nosso papel e propósito.

Já ouvi até algumas vozes a dizer: “ Imprimem cartazes ou folhetos?” Respondo com algum humor (para não dizer desalento) que não, não somos contratados com o propósito de imprimir cartazes ou folhetos, para esse efeito existem as reprografias e reforço logo que não somos aqueles profissionais que fazem apenas “coisas giras”. Fazemo-las, também, é um facto, mas fazemo-las segundo uma estratégia, um caminho previamente definido, em equipa e de forma multidisciplinar. É que isto de se ser profissional de comunicação tem muito que se lhe diga. Mais do que as pessoas poderão pensar…

Custa-me perceber que chegados a 2023 muitos ainda não percebem a verdadeira importância de um profissional de comunicação em saúde e as áreas que lhe competem.
E mais me custa perceber que muitos daqueles que não valorizam a profissão são aqueles que em lugares de chefia ou liderança vêem a comunicação como um lugar secundário na estratégia de uma organização.

Acredito que a forma como uma Instituição trabalha a comunicação e a assessoria de imprensa é o reflexo das suas lideranças e isso refletir-se-á, sem dúvida alguma, na proximidade ou distância com os seus diferentes públicos.
Apesar da minha área de intervenção mais direta ser a área da assessoria de imprensa e a relação com os media, conheço bem a realidade dos Serviços de Comunicação dentro dos Hospitais e diria que, apesar de já termos dado passos de evolução significativos relativamente a esta área na saúde, ainda há caminho a percorrer.

Entendo que a comunicação dentro das organizações assume um papel cada vez mais estratégico, no sentido de planear e gerir a identidade, imagem e reputação, dentro e fora de portas.

Ora, objetivamente, quais são as áreas que definem um Serviço de Comunicação dentro de uma Instituição de Saúde? Identificaria os grandes eixos: assessoria de imprensa, comunicação interna e externa, marketing, design e eventos. Como é fácil de perceber, cada uma destas áreas tem na sua estrutura diferentes atividades que, inevitavelmente, consomem muito tempo de estratégia, foco e trabalho.

Dentro desta perspetiva, muitas vezes perguntam-me: que modelo de comunicação defendes dentro de uma Instituição de Saúde?

Respondo sempre muito perentoriamente: a função dos profissionais de comunicação dentro das organizações (seja ela qual for) deve estar bem definida enquanto área de intervenção. Entendo e defendo que a figura de um Diretor de Serviço de Comunicação faça sentido e seja necessário dentro de uma estrututra de saúde, mas também entendo que um(a) Diretor(a) de Comunicação não pode ter na sua alçada todas as áreas de comunicação existentes, porque dificilmente conseguirá responder, de forma eficaz, a todas as solicitações se tiver um sem número de atividades por concretizar, com áreas tão importantes e diferenciadoras.
Diria assim, que o modelo que defendo é um Serviço de Comunciação liderado por um profissional com competência nesta área, mas que tenha funções de liderança em áreas de comunicação interna e externa, marketing, digital, eventos e design, sendo que a assessoria de imprensa deve encontrar-se à parte deste Serviço.

E a pergunta impõe-se. Porquê? Porque trabalhar comunicação é trabalhar estratégia, numa atitude pró-ativa e dinâmica e os resultados só serão efetivamente diferenciadores se na minha organização eu tiver um profissional que trabalhe a relação com os media de forma regular e consistente e, por outro lado, se tiver uma equipa dedicada às outras áreas da comunicação igualmente relevantes na Instituição.

Se eu tiver um(a) Diretor(a) de Serviço que se encontra focado em todas as áreas da comunicação, nomeadamente na assessoria de imprensa (área, por norma, da sua responsabilidade), dificilmente não falhará nas suas atividades se tiver de acumular a comunicação de imprensa estratégica e, ao mesmo tempo, todas as outras áreas que tem de acautelar juntamente com a equipa (por muito boa que a mesma seja).

Dificilmente, um(a) Diretor(a) de Serviço que conjugue todas as áreas da comunicação conseguirá desenvolver uma assessoria de imprensa antecipada, atempada, regular e de estreita proximidade. E se conseguir, outras áreas ficarão para trás.

Se há muitos que o fazem? Há sim, eu própria já o fiz, mas considero não ser a melhor solução.

Acresce a isto, que as áreas da comunicação em saúde terão tendência em alargar, basta pensarmos que temáticas como a sustentabilidade, responsabilidade social e outras estão a ganhar força em saúde e onde a comunicação terá que ter, inevitavelmente, intervenção.

Perguntam-se se neste modelo que defendo os profissionais de comunicação devem trabalhar em conjunto? Claro que sim. A separação das áreas não implica afastamento das mesmas, a complementaridade deverá ser uma constante.

Haverá espaço para esta mudança? Acredito que sim. Quando os decisores perceberem que a comunicação não é um gasto, mas sim um investimento.

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