O que são doenças reumáticas?

Quando falamos de Doenças Reumáticas, estamos a referir-nos a mais de 150 entidades diferentes, uma vez que nesta designação estão incluídas todas as afeções não traumáticas do sistema músculo-esquelético (articulações periféricas, coluna vertebral, músculos, tecido conjuntivo, vasos e estruturas periarticulares).

Segundo a Organização Mundial de Saúde, as Doenças Reumáticas Músculo-esqueléticas representam cerca de metade das doenças crónicas em pessoas com mais de 50 anos de idade são uma das principais causas de incapacidade, e representam elevados custos para a sociedade.

Porque é importante o diagnóstico precoce?

É importante esclarecer que as Doenças Reumáticas Músculo-esqueléticas não são características das idades mais avançadas. Podem atingir em ambos os sexos e surgir em qualquer idade, embora com prevalências diferentes. Entre 2011 e 2013 decorreu o maior estudo sobre as doenças reumáticas realizado em Portugal, o EpiReumaPt/ReumaCensus, que nos revelou que 56% dos portugueses têm uma doença reumática. No entanto, só cerca de 22% estavam diagnosticadas.

É muito importante um diagnóstico precoce para controlar a doença evitando a sua progressão e a consequente incapacidade, já que, em Portugal, as Doenças Reumáticas Músculo-esqueléticas são a primeira causa de incapacidade temporária e representam cerca de 40% das reformas antecipadas.

Quais são os sinais de alerta?

As principais doenças reumáticas são a Artrite Reumatóide, a Osteoartrose, as Raquialgias (dores na coluna axial), a Osteoporose, a Fibromialgia, as alterações das estruturas periarticulares e algumas doenças sistémicas (que podem atingir vários órgãos) como o Lúpus e as Vasculites. Estas várias doenças têm origens e quadros clínicos diferentes, mas as manifestações mais comuns são a dor, a tumefação (inchaço) e a limitação da mobilidade. De um modo geral estas queixas são insidiosas, vão-se instalando de forma progressiva.

Na presença de algum destes sintomas o doente deverá procurar um Reumatologista que é o médico mais adequado para fazer o diagnóstico e orientar o tratamento de todas as doenças reumáticas.

Podemos prevenir estas doenças?

Não temos forma de evitar em absoluto o aparecimento de grande número das Doenças Reumáticas Músculo-esqueléticas, no entanto há vários fatores que podem contribuir para a sua prevenção, nomeadamente os hábitos alimentares e os estilos de vida. No geral, podemos dizer que uma alimentação saudável é benéfica, traduzindo-se por uma dieta do tipo mediterrânico: consumo habitual de frutos e vegetais, baixo teor calórico e quantidade moderada de proteínas e gorduras. Em relação aos hábitos de vida é muito importante a prática de atividade física regular. Atualmente é bem conhecido o risco efetivo do tabaco no desenvolvimento de algumas doenças reumáticas, pelo que a evicção tabágica deve ser incentivada desde cedo.

Após o início dos sintomas, a chamada prevenção secundária para evitar a progressão e a instalação de deformidades ou sequelas definitivas é igualmente importante. Qualquer que seja a doença, quanto mais precoce for o início do tratamento maior a probabilidade de se conseguir que a pessoa mantenha a sua atividade, idealmente com a doença em remissão, ou seja, sem sintomas.

Existe tratamento?

A maioria das Doenças Reumáticas Músculo-esqueléticas são cónicas, sem cura definitiva. No entanto, um tratamento atempado e adequado pode evitar sofrimento e prevenir deformidades e incapacidade. O objetivo é sempre o alívio das queixas e a manutenção da capacidade funcional.

O tratamento tem uma vertente farmacológica com vários tipos de medicamentos que variam com as doenças e com o objetivo pretendido, podendo ser analgésicos, anti-inflamatórios, medicamentos para prevenir ou tratar a osteoporose, medicamentos para modificar o curso da doença, como são os vários utilizados na Artrite Reumatoide, por exemplo. Pode também haver indicação para tratamentos locais, como as infiltrações.

Não menos importante é o tratamento não farmacológico que inclui a dieta, os hábitos de vida, a atividade física, os tratamentos de fisioterapia e muitas vezes apoio psicológico, uma vez que o diagnóstico de uma doença crónica nem sempre é facilmente aceite e a gestão da dor e as implicações na vida social e familiar são muitas vezes fatores predisponentes a estados depressivos.

Em todos os casos, o Reumatologista explica as várias opções e a decisão deve ser sempre partilhada com o doente que deve perceber a importância de cumprir o programa de tratamento estabelecido para que haja sucesso.

Com as várias estratégias terapêuticas o objetivo do plano terapêutico é manter a pessoa ativa, com a capacidade funcional preservada e com a doença controlada.

Um artigo da médica Lúcia Costa, Reumatologista no Hospital da Ordem da Trindade.