As tecnologias de informação e comunicação têm vindo a melhorar o fluxo de informação, proporcionando uma melhoria contínua na prestação e gestão dos sistemas e cuidados de saúde.

A situação pandémica recente, originada pelo vírus SARS-CoV-2 (COVID19), veio impulsionar esta temática ao mostrar que a Telemedicina, Telesaúde e Telemonitorização permitiram o acompanhamento de muitos doentes, garantindo a contínua prestação dos cuidados de saúde num período em que o distanciamento social era necessário e em que existiu a necessidade de redução de consultas presenciais não urgentes. 

Devemos continuar a tirar partido das potencialidades destas ferramentas até mesmo para atenuar as dificuldades que decorrem da limitação de meios e de recursos da saúde em diversas regiões de Portugal, na procura contínua da melhoria, qualidade e eficiência dos serviços de saúde. 

A Telemedicina consiste na prestação de cuidados clínicos (prevenção, avaliação, diagnóstico, tratamento e reabilitação) remotos no espaço e/ou no tempo, através de redes de telecomunicações, como é o exemplo da Teleconsulta. A Telesaúde é a utilização das tecnologias de informação e comunicação para apoiar à distância a saúde nas vertentes da prestação de cuidados, da organização dos serviços e da formação de profissionais de saúde e pacientes. Permitem otimizar a gestão de recursos e um dos principais benefícios é melhorar o acesso e promover a equidade no acesso a cuidados de saúde, pois aumenta a comodidade do cidadão, evitando deslocações por parte de doentes e cuidadores (saúde universal), em especial em condições de doenças crónicas. 

A Telemonitorização consiste na utilização de tecnologias, como smartphones, tablets e outros aparelhos digitais para monitorizar à distância parâmetros biométricos do doente, como a pressão arterial, ritmo cardíaco, glicemia, peso, oximetria e temperatura e gordura corporal, que são transmitidos através de aplicações/dados ao médico assistente. Consiste numa forma de seguimento dos doentes à distância e em função dos parâmetros medidos e dos resultados apurados permite disponibilizar precocemente apoio clínico e ajustar terapêuticas. Particularmente nas doenças crónicas, tem como propósito a deteção de sinais e sintomas precoces de descompensação, proporcionando uma oportunidade de intervenção antes do paciente vir a necessitar de hospitalização. A Telemonitorização apresenta um enorme potencial de melhorar a gestão clínica e a prestação de serviços de saúde ao fomentar o acesso, a qualidade, a eficiência e a relação custo-efetividade e ao promover a capacitação do doente na gestão da sua saúde, aprendendo a reconhecer potenciais problemas de forma objetiva.

Todas as potencialidades da Telemedicina, Telesaúde e Telemonitorização, de fácil acesso através das tecnologias atualmente existentes e que todos possuímos ou podemos aceder através dos centros de saúde, lares e centros de apoio continuado são um forte argumento para a sua generalização de forma a melhorar a qualidade, segurança e eficiência da prestação de cuidados de saúde em Portugal. 

A emergência de novas tecnologias como a Internet of Things (IoT), inteligência artificial, machine learning e a robótica têm impulsionado o desenvolvimento constante de novos serviços e produtos no setor da saúde. A Telemedicina, Telesaúde e Telemonitorização surgem por via de soluções inovadoras das tecnologias de informação e comunicação permitindo a melhoria do acesso, qualidade e eficiência dos serviços prestados na área da saúde. São atualmente uma estratégia de eSaúde para os países desenvolvidos. Existe sem dúvida muitos desafios nesta área, mas as inúmeras oportunidades devem ser exploradas na busca da melhoria contínua da prestação de cuidados de saúde ao utente. 

Atualmente as tecnologias de informação e comunicação existentes são bastante promissoras, quer para o utente, quer para o profissional de saúde. Através de dispositivos como os smartphones e tablets é possível uma gestão autónoma de sinais vitais e outros parâmetros que são importantes nas doenças crónicas (Telemonitorização) e também estabelecer contato com os profissionais de saúde sob a forma de Teleconsulta. 

Portugal tem apostado nos últimos anos no desenvolvimento da Telesaúde, quer ao nível da melhoria da gestão da informação médica para os profissionais de saúde, quer ao nível de iniciativas úteis à gestão da saúde por parte do doente. De ferramentas úteis disponibilizadas ao doente destaca-se:

  • App MySNS - permite acompanhar as notícias do SNS e disponibiliza dados de contacto e localização das instituições de saúde como Hospitais, Cuidados de Saúde Primários e Farmácias;
  • App MySNS carteira – agrega dados individuais como o eBoletim de vacinas, registo de alergias e receitas eletrónicas; 
  • Prescrição Eletrónica Médica - Receita sem Papel – prescrição e dispensa eletrónica de medicação; 
  • Prescrição Eletrónica Médica - Exames sem Papel - prescrição eletrónica de exames, aumentando a comodidade para o utente e profissionais de saúde, facilitando a gestão da informação por parte do SNS;
  • Área do Cidadão - possibilita a consulta de dados clínicos e de resultados de exames. Permite o acesso a um conjunto de serviços que antes obrigavam à deslocação às unidades de saúde, como a marcação de consultas com o médico de família, o pedido de renovação de medicação crónica, entre outros.

De ferramentas úteis disponibilizadas aos profissionais de saúde destaca-se:

  • Software de registo clínico – Sclínico – informatiza os registos clínicos nos cuidados de saúde primários e hospitalares. Facilita a partilha dos dados entre profissionais de saúde de diversas áreas, contribuindo assim, para uma atuação mais eficaz, eficiente e articulada (a nível local e nacional);
  • Registo de Saúde Eletrónico – sistema eletrónico de referenciação entre prestadores do SNS que gera um processo clínico único do cidadão; 
  • Plataforma de Dados de Saúde Live - meio para a realização de teleconsultas em tempo real com recurso ao vídeo.

A sociedade portuguesa tende a apresentar-se cada vez mais envelhecida e com população dispersa em zonas rurais, pelo que o recurso a estas tecnologias de informação e comunicação surgem como uma oportunidade para melhorar a prestação dos cuidados de saúde. A generalização dos serviços de Telesaúde é um passo importante para o SNS:

  • Permite uma maior equidade (conceito de saúde universal);
  • Diminuição das listas de espera e otimização da capacidade por parte das instituições de saúde; 
  • Contribui para a organização dos cuidados de saúde de uma forma mais coordenada e articulada; 
  • Possibilita a partilha de conhecimento e experiência dos profissionais de saúde na gestão de casos acompanhados por diferentes especialidades; 
  • Possibilita uma monitorização contínua da saúde do utente, capacitando-o para uma gestão conjunta da sua doença com o médico assistente, fora dos estabelecimentos de saúde, através de intervenção mais atempada, evitando agravamento da doença, necessidade de cuidados de urgência ou de internamentos não programados;
  • Melhoria dos hábitos de saúde da população, através de uma melhor gestão de comportamentos dos cidadãos, prevenindo a doença;
  • Teleconsulta - acelera o processo de realização de diagnósticos clínicos e referenciação dos utentes para cuidados especializados;
  • Aumenta a comodidade do utente, evitando deslocações do próprio e/ou cuidadores.

Um artigo de opinião de Germano de Sousa, médico especialista em Patologia Clínica.