As celebrações de Dias Mundiais têm o propósito de chamar a atenção para um determinado tema, contribuindo para uma maior sensibilização e literacia em saúde das populações.

A incontinência urinária representa um problema de saúde com impacto em múltiplos domínios da vida. Aspetos psicológicos tais como depressão, físicos (desconforto, lesões dermatológicas, risco de fraturas e morte) ou sexuais (evicção da atividade sexual) e ainda aspetos mais abrangentes como aspetos sociais (isolamento social) e profissionais (diminuição do rendimento laboral), têm um impacto profundo na qualidade de vida de muitos doentes.

A incontinência urinária é definida como a perda involuntária de urina. Afeta cerca de 35% das pessoas com mais de 60 anos, sendo 2 vezes mais comum nas mulheres que nos homens. A prevalência aumenta com a idade, estimando-se que 50-85% dos idosos que residem em lares sofram desta patologia.

São fatores de risco a gravidez e os partos, a menopausa, os prolapsos de órgãos pélvicos, as cirurgias pélvicas e a obesidade. Nos homens, a hiperplasia benigna da próstata e as cirurgias prostáticas estão frequentemente envolvidas. Outro tipo de doenças podem estar na origem ou contribuir para o agravamento da incontinência urinária – são exemplos as infeções do trato urinário, diabetes, insuficiência cardíaca, ou doenças neurológicas.

A maioria dos doentes demora anos a procurar ajuda. Quanto mais cedo for a procura de ajuda, menor o tempo de sofrimento e mais rapidamente se recupera a qualidade de vida. Daí a importância de ações como esta que servem de alerta para um problema comum, mas com soluções simples e eficazes para a maioria dos doentes.

Na verdade não se deve falar de incontinência, mas de incontinências pois existem diversos tipos e um diagnóstico exato é o princípio de um tratamento eficaz.

A incontinência urinária é frequentemente classificada em três tipos principais: incontinência de urgência, incontinência de esforço e incontinência mista (quando ambos os tipos estão presentes).

Outros tipos incluem a enurese noturna (urinar a dormir), incontinência urinária contínua, incontinência insensível, incontinência postural e incontinência por extravasamento.

Todas estas têm causas, métodos de diagnóstico e tratamento diferentes, pelo que carecem sempre de uma cuidada avaliação médica. A incontinência urinária tem tratamento na grande maioria dos casos, pelo que é essencial quebrar o tabu e a vergonha ligada a este problema e incentivar os doentes a consultar o médico.

O tratamento desta patologia é muito variado e faseado. Revestem-se de particular importância os tratamentos conservadores que devem estar sempre presentes em todas as fases da doença. Incluem mudanças do estilo de vida (alterações dietéticas e perda de peso) e reabilitação do pavimento pélvico (fisioterapia pélvica).

Como complemento aos tratamentos conservadores existe, tratamento farmacológico que melhora de uma forma sustentada os resultados.

Nos casos em que não se alcança o resultado desejado, recorre-se a técnicas cirúrgicas minimamente invasivas (injeção de toxina botulínica, neuromodulação sagrada, fita para sustentação da uretra), com elevada taxa de sucesso.

A incontinência urinária é realmente um tema tabu. Para muitos é uma inevitabilidade da idade, assunto que afeta a sua intimidade, a sua autoimagem e interação social. É um verdadeiro estigma social. Torna-se por isso premente alertar consciências para este problema, trazendo-o à discussão pública em iniciativas como o Dia Mundial da Incontinência. Não é necessário sofrer diariamente com este problema, pois há tratamentos eficazes que podem devolver qualidade de vida.