Não é certa a origem da adoração dos portugueses pela Bola de Berlim quando sobem as temperaturas e o ar livre pede praia. Em abono da tradição há quem defenda que esta predileção pela Bola de Berlim nos areais nasce do contraste, nos lábios, entre o doce do bolo e o salgadiço da água do mar.

Como certa temos na Alemanha a pátria da nossa avó Bola de Berlim, versão nacional. No Norte da Europa, a guloseima (a Berliner) é recheada com doce de morango, framboesas, outros frutos silvestres. Por cá, entrou nos anos de 1930, na bagagem de uma família judia que procurava abrigo ao que se adivinhava chegar (e não seria nada doce) com a Segunda Guerra Mundial.

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À nossa Bola de Berlim, caberia juntar-lhe os ovos, neste caso o creme pasteleiro (uma mistura de água, leite, açúcar, farinha, gemas e claras de ovos, limão, baunilha e manteiga).

Como em tudo mais, também a Bola de Berlim não está imune às inovações e, aqui, para além da “velhinha”, apregoada nas praias, chegam aos lábios salgados novas versões, com creme, sem creme, assim como uma versão alternativa “mais saudável”, a Bola de Berlim de Alfarroba. Mas será, de facto, mais saudável? Vamos perceber.

A Alfarroba é um alimento que pertence à família das leguminosas. Como alimento de origem vegetal é rico em fibra possuindo ainda diversas vitaminas e minerais. É essencialmente constituído por hidratos de carbono, sendo pobre em gordura ou proteínas. A sua cor e paladar faz com que seja utilizada como alternativa ao chocolate.

Quando usamos alfarroba para fazer Bolas de Berlim, apenas estamos a alterar a cor e o paladar deste bolo. Na realidade, como bolo que é, continuamos a ter açúcares em quantidade elevada assim como gordura (ingrediente presente na maioria dos bolos), agravado pelo facto destas bolas serem fritas o que vai avolumar o conteúdo final em gordura.

Em suma, para se obter uma Bola de Berlim de Alfarroba, uma pequena percentagem de farinha comum (10-15%) é substituída pela congénere farinha de alfarroba. Tal, não permite justificar o consumo com o argumento de que é mais rica do ponto de vista nutricional.

As desvantagens superam largamente qualquer pequeno acréscimo nutricional.

De resto, degustar uma Bola de Berlim, seja qual for a farinha que lhe acrescentemos, ou recheio, será sempre um prazer quando for a exceção dentro de uma alimentação equilibrada.

Veja também: Bola de Berlim: Avó germânica mas identidade bem portuguesa


Cláudia Viegas é Professora Adjunta na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa. Os seus principais interesses de investigação estão relacionados com Alimentação em contexto de Hotelaria e Restauração na relação com a Saúde Pública, Promoção e Proteção da Saúde e Estilos de Vida.