A diabetes, a longo prazo, pode provocar várias complicações no organismo. Mas será que também poderá vir a afetar o funcionamento dos rins? "As alterações microvasculares provocadas pela diabetes no rim conduzem frequentemente ao desenvolvimento de doença renal crónica. Estima-se que cerca de 40% das pessoas que têm diabetes tipo 2 e 30 % das que têm o tipo 1 da doença irão, eventualmente, desenvolver doença renal crónica", refere mesmo um artigo publicado no Diabetes 365º.

"A doença renal crónica é definida geralmente por um aumento lento e progressivo dos níveis da proteína albumina na urina, também chamado de albuminúria, o que poderá ser seguido de uma redução da taxa de filtração feita pelos rins, a taxa de filtração glomerular estimada. Além disso, quando não controlada, a doença renal crónica pode progredir para doença renal crónica terminal", refere o projeto multiplataforma de literacia de saúde que pretende ajudar os portugueses a lidar com a patologia.

Nos países desenvolvidos, cerca de 50% das pessoas que têm doença renal crónica terminal têm diabetes, podendo vir a necessitar de diálise ou, em última instância, de transplante renal. "Sabemos atualmente que uma elevada percentagem de doentes têm simultaneamente diabetes e doença renal crónica", refere ainda o Diabetes 365º. Até hoje, diversas teorias foram avançadas para explicar a complexidade das alterações provocadas pela diabetes que podem levar à doença renal crónica, nomeadamente:

- Alterações a nível metabólico

A hipótese de que a hiperglicemia e as alterações no metabolismo consequentes podem provocar a perda de estruturas vasculares internas do rim, a que se dá o nome de rarefação microvascular, é uma das teses que têm vindo a ser defendidas pela comunidade científica.

- Hiperfiltração nos primeiros estádios da diabetes

Nem todas as pessoas com diabetes irão desenvolver doença renal crónica ou terão esse problema com a mesma trajetória. No entanto, a simples presença de hiperglicemia no sangue, provocada pela diabetes, coloca o rim em pressão. Este órgão tentará, assim, reabsorver glicose ao invés de a eliminar pela urina. Porquê? Porque sem a insulina para fazer chegar a glicose às células, as células continuam a precisar de energia e são emitidos sinais de que o organismo precisa de glicose.

Assim, o rim reabsorve a glicose, contribuindo paradoxalmente para a hiperglicemia. Para além disso, para conseguir absorver glicose, o rim acumula ainda também outros componentes, como é o caso do cloreto de sódio, que provoca a hiperfiltração. "A hiperfiltração, a longo prazo, promove danos nas estruturas do rim, podendo levar à doença renal crónica", adverte o projeto de literacia Diabetes 365º, que tem o Modern Life e as revistas Prevenir e Saber Viver como parceiros.

- Desenvolvimento de neuropatia

Se os nervos que conduzem as mensagens da bexiga para o cérebro sofrerem danos, podemos vir a perder sensibilidade. Pode, por exemplo, não sentir que tem a bexiga cheia. A pressão constante da bexiga no rim pode lesioná-los. Por outro lado, a retenção de urina na bexiga por períodos de tempo longos aumenta a possibilidade de desenvolvimento de infeções urinárias, que podem propagar-se aos rins. A urina dos diabéticos é mais rica em açúcares, propiciando o desenvolvimento rápido de bactérias.