O número de pessoas que realiza viagens internacionais é cada vez maior, estimando-se que cerca de um mil milhões de pessoas viaje anualmente.

Viaja-se cada vez mais e por períodos de tempo muito variáveis (dias, semanas, meses ou mesmo anos) e por diferentes vias (aérea, terrestre ou aquática). Viaja-se em qualquer idade e percorrem-se cada vez maiores distâncias, a velocidades mais rápidas e por inúmeros motivos (recreativos, profissionais humanitários, sociais, entre outros).

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A crescente facilidade e rapidez nas deslocações para qualquer parte do globo possibilitam riscos acrescidos na saúde do viajante. A mobilidade de pessoas para países e locais que não os de origem, expõe o viajante a novas experiências e novos desafios culturais, psicológicos, físicos, emocionais, ambientais e microbiológicos. A súbita exposição a algumas doenças endémicas nos locais de destino ou a mudanças a que o viajante é exposto (ex: climáticas, alimentares, etc), podem alterar o estado de saúde do viajante e defraudar os objetivos da sua viagem.

No entanto, a maioria dos riscos pode ser minimizada mediante a prática de precauções adequadas. É neste enquadramento que se torna fundamental a realização da consulta do viajante que tem como principal objetivo a realização de uma viagem com saúde e segurança, procurando reduzir a possibilidade de ocorrência de doenças associadas à mesma.

Porque é importante a consulta do viajante?

Porque constitui um espaço de educação e aconselhamento médico especializado ao viajante internacional, orientado para medidas preventivas que devem ser seguidas antes, durante e após a viagem. Esta consulta deve, preferencialmente, realizar-se nas 4 a 6 semanas antes da partida, sobretudo se for necessária vacinação.

A consulta do viajante baseia-se no estabelecimento de riscos possíveis e prováveis na deslocação do viajante e na forma de os evitar. Procura sempre aconselhar e preparar o viajante internacional para que sejam minimizados os potenciais riscos de ocorrência de doenças endémicas nos países de destino e fornece uma perspetiva alargada sobre questões pertinentes de saúde associadas às viagens e ao viajante, com informação orientada para os riscos de saúde que o viajante poderá enfrentar durante a sua viagem.

A avaliação médica realizada na consulta do viajante é feita de acordo com vários fatores, uma vez que os riscos associados a viagens internacionais são influenciados pelas características do viajante (ex. idade, sexo, estado de saúde) e da viagem (ex: local de destino, tipo de viagem, objetivo, duração da estadia).

Que informação deve ser dada ao médico na consulta do viajante?

- O local de destino ou locais de destino (continente, país, região dentro do país);

- O tipo de Viagem que se irá realizar (férias, negócios, missão humanitária, religiosa, motivo de saúde);

- A duração da viagem (1 dia, 1 semana, 1 mês, 1 ano...);

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- O tipo de alojamento (resort, acampamento, casa de empresa, casa de familiares...);

- O perfil do próprio viajante (ex: idade, sexo, doenças pré-existentes, situação vacinal).

Ou seja, numa consulta do viajante, cada viajante, e cada viagem, é diferente e a consulta deve ser realizada de acordo com as características que diferenciam o viajante e a viagem.

O que se faz na consulta do viajante?

- Avaliação das condições de saúde individuais antes da viagem. Esta avaliação pode ser especialmente importante para o aconselhamento específico a viajantes com características especiais (ex: crianças, grávidas, idosos) ou com doenças crónicas;

- Aconselhamento sobre medidas preventivas a adotar antes, durante e depois da viagem, nomeadamente:

  • Vacinação: avaliação do estado vacinal do viajante com recomendação, administração e registo no boletim de vacinas ou no Certificado Internacional de Vacinação das vacinas indicadas para a sua viagem/destino (ex: Febre Amarela, Febre tifoide, Hepatite A, Meningite Meningocócica, Encefalite Japonesa, Raiva, Sarampo, entre outras);
  • Informação sobre cuidados a ter com a água e alimentos e formas de prevenção de doenças transmitidas pelo seu consumo, como é o caso da diarreia do viajante;
  • Informação sobre doenças endémicas no(s) local(ais) de destino e a sua prevenção geral ou específica (ex: malária, dengue, Zika, Hepatite A, entre outras), com recomendações e prescrição de medicação preventiva para doenças como a malária;
  • Aconselhamento da farmácia da viajante adequada às necessidades individuais do viajante e prescrição de medicamentos eventualmente necessários;
  • Aconselhamento dos cuidados e procedimentos que o viajante deverá ter em caso de doença após o regresso de viagem e/ou diagnóstico dos problemas de saúde possivelmente contraídos durante a viagem.

As explicações são da médica Gabriela Saldanha, do Centro de Vacinação Internacional do Porto.