Em declarações à agência Lusa, Francisco Mello e Castro, a propósito do Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar, que se assinala na sexta-feira, salientou que não é apenas a água que se gasta mas a energia e todos os requisitos para produzir alimentos, que depois vão para o lixo.

Se o desperdício alimentar fosse um país seria o terceiro maior emissor de gases com efeito de estufa, disse, frisando depois a importância de instituições que procuram aproveitar esses alimentos que teriam como destino o lixo, como os bancos alimentares contra a fome, que recebem toneladas de alimentos que de outra maneira seriam desperdiçados.

Dados de 2019 indicam que nesse ano os 21 Bancos Alimentares evitaram que cerca de 17.218 toneladas de alimentos fossem para o lixo, alimentando-se com elas 320.000 pessoas ao longo de todo o ano. Os peditórios junto dos supermercados, salientou Francisco Mello e Castro, representam apenas cerca de 15% dos produtos recebidos e distribuídos.

Ainda assim, os números indicam que cada português desperdiça por ano 184 quilos de alimentos, o que dá 1,8 milhões de toneladas, um dos países (o quarto) que mais desperdiça na Europa. O bloco europeu manda para ao lixo em cada ano 88 milhões de toneladas de alimentos.

“Acreditamos que as pessoas ainda não percecionaram o problema”, disse nas declarações à Lusa, acrescentando que esse foi um dos motivos para a criação do movimento “Unidos contra o Desperdício”, uma organização que junta “várias vozes”, mais de 300 instituições com o mesmo objetivo, de lutar contra o desperdício.

E nessa luta o “grande desafio” é o consumidor, responsável por metade do desperdício, nas casas das pessoas, nos cafés e restaurantes. Francisco Mello e Castro deixou conselhos, o de nunca ir às compras com fome e fazer sempre uma lista, o de pedir “a dose certa” no restaurante e não ter vergonha de levar as sobras, “porque vergonha é desperdiçar”.

“Muitos pensam que o iogurte que passou o prazo e deitei para o lixo, que a maçã que deixei apodrecer não têm impacto, mas têm!”, salientou.

E alertou ainda para a importância da sensibilização, porque se as pessoas não tiverem consciência do problema não passam para a fase seguinte, que é a de mudar comportamentos.

A ONU pretende que se chegue a 2030 tendo-se atingido a meta de reduzir para metade o desperdício alimentar global.

O diretor executivo do movimento reconhece que é uma meta difícil de alcançar, mas considerou que têm de existir metas ambiciosas para que as pessoas não desmobilizem.

Na “corrida”, disse, são as empresas que estão a mudar, em todos os setores da cadeia alimentar, e com elas “se a meta não for atingida estará lá perto”. Nos consumidores é que será mais difícil de atingir.

É nomeadamente por eles que na sexta-feira o movimento organiza a conferência “Unidos damos tampa ao desperdício”, com a presença de vários setores da cadeia alimentar, quando será apresentada uma campanha de consciencialização para o problema.

O secretário de Estado do Ambiente, Hugo Pires, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, serão alguns dos participantes.

Na página oficial do movimento Unidos contra o Desperdício vários dados atestam a dimensão do “problema gravíssimo”.

Um deles indica que bastava um quarto dos alimentos desperdiçados para alimentar os 870 milhões de pessoas que passam fome todos os dias.