Quem entra na Milot Hydroponics é recebido pelo enorme sorriso de Emílio. É ele o responsável pela empresa que contraria as condições desfavoráveis à agricultura e que tem conseguido produzir graças à hidroponia – uma técnica que permite cultivar sem terra e na qual as raízes recebem os nutrientes através da água.

Alfaces, morangos, muitas ervas aromáticas, papaias, tomates-cereja, pepinos e muitas outras frutas e vegetais crescem em Palha Verde, na ilha do Sal. As plantas crescem em estruturas, nas quais as raízes se apoiam na água e recebem os nutrientes através dos tubos onde vão crescendo.

A água vai correndo e é constantemente reaproveitada, gerindo um recurso raro e valioso na ilha do Sal. Passa-se tanto tempo sem chuva, meses, e por vezes anos, que quando acontece é notícia nos jornais locais e os miúdos saem à rua para brincar com a água. O país atravessa uma forte seca há quatro anos, que tem afetado  produção agrícola em todo o arquipélago, contudo este ano há melhores perspetivas para o país e uma campanha mais chuvosa.

A falta de água e a consequente fraca fertilidade na ilha levaram Emílio Sousa Lobo a criar a Milot Hydroponics, há cerca de vinte anos. Filho de agricultor, recorda-se da pequena horta do pai. Emílio trocou a terra pela água, aprimorou a forma de cultivo e começou a plantar tomates. Seguindo as pisadas da família, a irmã é a agrónoma da empresa e a filha, Eveline Sousa Lobo, também trabalha na Milot. Além do carácter familiar da empresa, há mais 18 pessoas, naturais de Espargos, a capital da ilha.

Emílio e a filha Eveline na Millot Hydroponics
Emílio e a filha Eveline na Millot Hydroponics créditos: Bárbara Gouveia

Hoje, crescem na localidade da Palha Verde cerca de 20 mil plantas por mês. E cerca de "90% da produção é acidentalmente biológica". Emílio explica: "Tento não usar pesticidas, mas uso-os no caso raro de haver alguma praga”. E adianta que este método de cultivo contribui bastante para controlar também as doenças que afetam as plantas. “Se não fosse este sistema, não ia ter sucesso. É uma técnica limpa, não há necessidade de pesticidas. É a melhor ideia para a ilha”, afirma Emílio.

Mais do que um projeto interessante de uma empresa familiar que contorna os condicionantes da ilha, a Milot Hidroponics mexe realmente com a economia local. Como a oferta é pouca, os preços destes bens essenciais são altos. Tão altos que há muitas pessoas que encomendam os frescos de mercearias de outras ilhas e que chegam no mesmo dia de barco. Dizem que o preço, a qualidade e a fraca oferta na ilha tem compensado este esquema de ir buscar frutas e vegetais aos barcos que chegam de Santiago, S. Vicente ou Fogo.

Expansão agrícola à boleia do crescimento turístico na ilha

Com o aumento da produção, Emílio tem conseguido fazer face a esta realidade e pôr no mercado produtos bons, frescos e a um preço mais baixo do que os importados. A TUI Care Foundation, através do projeto "Field do Fork", deciciu apoiar a Milot Hidroponics através de financiamento, mentoria e escoamento de parte da produção para hotéis, entre eles o Robinson Cabo Verde, do grupo TUI.

“Em três anos ou menos consigo avançar com o projeto de expansão que ia demorar cinco ou seis anos a concretizar”, conta Emílio. Este programa começou em julho de 2022 com o objetivo de criar uma estufa para pepinos, um pomar para abacates, limas e mangas; criar mais infraestruturas, seja para armazenamento ou produção, bem como uma câmara fria e uma carrinha de entregas. Além destas áreas, há também a ideia de transformar produtos em compotas artesanais e diversificar mais os produtos. A introdução de espécies como a acácia ou a limpeza florestal fazem ainda parte do projeto de crescimento da Milot.

Millot Hydroponics
Colaboradoras da empresa a apanhar morangos créditos: Bárbara Gouveia

No fim de 2025, a Milot e a TUI Care Foudation esperam que a empresa tenha dois mil metros quadrados de cultivo de alface, beterrabas e cenouras e 16 mil metros quadrados de pomares de papaia, manga e lima.

É também objetivo criar experiências ligadas o turismo, já que é o maior motor de turismo na ilha e que a fundação que apoia o projeto tem também suporte do grupo turístico. Assim, espera-se que até ao final de 2025, mais de 2500 turistas possam ir conhecer a Milot e que esta se torne o fornecedor de doze dos maiores hotéis da ilha. Neste momento, a produção da Milot vai metade para os hotéis e metade para o comércio local.

Com isto, foram criados já três postos de trabalho e espera-se que a empresa possa continuar a crescer e a fornecer alimentos frescos à ilha do Sal, usando a água como elemento principal e semeando o sucesso num dos lugares mais improváveis para a agricultura.

O SAPO Lifestyle viajou até à ilha do Sal a convite da TUI Care Foundation.