Com a efeméride, destinada precisamente a alertar para a poluição das cidades provocada pelos veículos, a não ter qualquer visibilidade no local, com as vias da Praça Duque de Saldanha repletas de automóveis, os números da Zero indicavam que os valores do dióxido de azoto estavam muito acima do que a legislação obriga, e ainda mais acima do que recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS), que é mais restritiva, disse à Lusa Pedro Nunes, membro da associação.

Susana Miguéis, outro elemento da Zero presente no Saldanha, onde os ambientalistas montaram o aparelho de medição da qualidade do ar, reforçou em declarações à Lusa que os valores quer do dióxido de azoto quer das partículas finas estavam acima dos valores recomendados pela OMS, que são baseados em dados científicos e com estudos que demonstram o impacto dos poluentes na saúde.

“E hoje não está muito vento e os poluentes não se vão dispersar assim tão rápido, há um valor que acumula”, alertou, admitindo que o trânsito será intenso ao longo do dia, como deverá ter sido nos últimos dias e como continuará a ser nos próximos, porque hoje, apesar de ser o Dia Europeu sem Carros, é “um típico dia em Lisboa” em termos de trânsito.

Susana Miguéis disse à Lusa que a Zero fez uma análise dos dados das estações de medição da qualidade do ar deste ano (do início de janeiro a meados deste mês), nas estações da Avenida da Liberdade e de Entrecampos, e que a média na Avenida da Liberdade está em 45.7 microgramas de dióxido de azoto por metro cúbico, quando o valor legislado indica como limite uma média anual de 40 microgramas.

Como a diretiva sobre a qualidade do ar está a ser revista esse valor passará até 2030 a ser de 20 microgramas por metro cúbico e em 2035, num alinhamento com as recomendações da OMS, o valor será de 10 microgramas, explicou a responsável, para mostrar o quanto os valores de poluição em Lisboa são elevados. “Estamos 78% acima do recomendado pela OMS”, disse.

Nas declarações à Lusa, entre ruídos de motores e buzinas, Pedro Nunes lembrou também a revisão da diretiva e lamentou os custos socioeconómicos que decorrem da fraca qualidade do ar que se respira.

Tem custos, lembrou, de 1.100 euros por habitante de Lisboa por ano, pelas doenças que a fraca qualidade do ar origina, nomeadamente cancro e doenças do coração e pulmonares. “A fraca qualidade do ar é a maior causa de morte prematura ambiental na Europa, causa cerca de 400 mil mortes prematuras todos os anos, seis mil mortes em Portugal”, recordou.

Portugal nesta matéria está a caminhar em sentido contrário ao desejável, com as emissões poluentes a crescerem a um ritmo de 4,5% ao ano, quando esse valor devia era estar a descer, e o tráfego acima dos níveis de pré-pandemia, disse.

No Dia Europeu sem Carros, no âmbito da Semana Europeia da Mobilidade, a Zero estará hoje em vários locais da cidade a medir a qualidade do ar.

As ações visam chamar a atenção para os problemas da qualidade do ar nas cidades portuguesas, para a urgência de retirar carros das cidades, para a necessidade do reforço do transporte público e para as consequências para a saúde de níveis de concentrações de poluentes acima dos valores recomendados pela OMS.