A utilização de pesticidas na agricultura está a dizimar as mariposas europeias. Só nos últimos 50 anos, desapareceram 80% dos artrópodes noturnos, garante Josef H. Reichholf. A denúncia é feita pelo biólogo alemão num novo livro que reúne três décadas de investigação e que aponta o dedo à ação nefasta destes químicos nos terrenos envolventes às plantações agrícolas. "A vegetação circundante está a tornar-se muito simples", critica o cientista de 76 anos.

"Atualmente, tende a ser composta por poucas espécies, variedades botânicas que são muito tolerantes ao nitrogénio e que acabam por sobreviver às plantas mais sensíveis. Por isso, as mariposas acabam por perder as que lhes são mais favoráveis", refere. Cerca de 90% das mariposas que existem no continente europeu são noturnas. "A importância das que voam de noite é muito maior do que a das que voam durante o dia, porque servem de alimento", esclarece.

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"Estes insetos lepidópteros atuam como elementos-chave no ecossistema", adverte ainda o investigador no livro "La desaparición de las mariposas", que acaba de ser publicado em Espanha mas ainda não está disponível em Portugal. De acordo com o cientista germânico, nos países do norte da Europa, a ameaça é maior do que nos do sul, devido a um uso de pesticidas e fertilizantes superior. A subida das temperaturas noutras regiões do planeta também tem vindo a agravar o problema. "A curto prazo, o aquecimento global no norte dos Alpes será maior para as mariposas e para outros insetos", avisa Josef H. Reichholf.

As regiões do sul de Portugal que têm vindo a perder vegetação na consequência do processo de desertificação em curso também se estão a tornar menos atrativas para os artrópodes. "A maioria destes animais depende muito das temperaturas cálidas. Neste momento, há territórios muito grandes que estão a secar. A sequidão está a convertê-los em desertos e, em consequência disso, o número de mariposas voltará seguramente a diminuir", vaticina o biólogo.