Cláudia Silva Lopes possui uma Licenciatura em Gestão pelo ISCTE e um Mestrado Executivo em Gestão - Marketing Estratégico, pela Católica Lisbon School of Business and Economics. Atualmente é Marketing Manager na Fujitsu Global, empresa pioneira em trabalho remoto.

O que é um workplace digital?

O workplace digital é uma nova forma de trabalhar que passa pela utilização de novas tecnologias, tais como ferramentas de trabalho colaborativo, soluções cloud, novos devices. Mas é muito mais do que isso, é uma nova perspectiva de trabalho com foco na experiência das pessoas. Num workplace digital a cultura corporativa é redefinida em torno de novos modelos de trabalho flexíveis, mais colaborativos, que têm na informação (data) o fio condutor do negócio.

O estado da arte” sobre o workplace digital: o que nos dizem os visionários destas questões?

O workplace digital não é um conceito novo mas é um conceito com cada vez mais relevância para as organizações. Vivemos uma época de verdadeira “caça ao talento”, especialmente na área das TI. E isto faz com que as empresas tenham não só elas de ser apelativas, mas as condições que oferecem têm de o ser também.

Antigamente bastava pagar um bom salário, hoje em dia as pessoas querem qualidade de vida. E não só as novas gerações de millennials e geração Z, também os chamados “cuidadores”, que trabalham, têm filhos e muitas vezes ajudam os pais, precisam de condições para o fazer. E isto passa por terem as tecnologias adequadas à sua função mas também flexibilidade no local de trabalho, horário de trabalho, entre outros. As organizações que não se adaptarem rapidamente a este modo de trabalho vão começar a ter problemas em recrutar talento, vão perder produtividade e o negócio irá sofrer com isso.

Estamos perante um vislumbre do futuro? O que irá acontecer ao posto de trabalho tal como o conhecemos hoje?

O posto de trabalho deixou de ser um “posto” e um local específico. É cada vez mais comum nas diferentes indústrias dividir o espaço de trabalho entre o escritório, a própria casa e o trabalhar “on the move”. O trabalho deixará de estar fixo a um local, a um horário, e o que se vislumbra também deixa de estar ligado a uma só empresa. Cada pessoa terá associada a si determinadas skills e prestará serviços a diferentes empresas.

As empresas, por seu lado, também deixarão de ter pessoas fixas nos seus quadros para ter equipas por projetos que trabalharão em conjunto para determinado projeto e depois de terminado saem da empresa até voltarem a ser necessárias. Este futuro não está assim tão distante, já temos muitas pessoas a trabalhar dessa forma em regime “freelancer”.

Como se posicionam as empresas portuguesas relativamente ao trabalho digital? O que as motiva/inibe?

As empresas portuguesas, especialmente as de TI, já começam a fazer alterações na forma de trabalhar e algumas já permitem essa flexibilidade. Mas há um longo caminho a percorrer. A mudança necessária é uma mudança cultural e essa demora sempre.

Prevê-se que em 2025 as direções das empresas já tenham cerca de 50% de millennials, o que vai mudar e transformar ainda mais digitalmente as empresas. As empresas têm de estabelecer objectivos e garantir que são cumpridos onde quer que seja o local de trabalho.

Até em indústrias como o retalho ou nas fábricas, onde o trabalho remoto é mais complexo, começamos a ver soluções em termos de tecnologia, como dashboards ou modelos que replicam as instalações, que permitem controlar tudo à distância. Soluções baseadas em inteligência artificial, IoT, predictive maintenance e outras terão cada vez mais impacto.

Quebra da produtividade associada ao trabalho digital: um mito urbano ou uma realidade incontornável?

A quebra de produtividade é um mito urbano, claro. Cada vez mais temos de trabalhar por objectivos. Todos temos ritmos e formas diferentes de trabalhar e não é por estarmos 10 horas no escritório que somos mais produtivos. Se retirarmos no nosso dia a dia as horas no trânsito e as somarmos a horas de trabalho, fica fácil perceber como se é efetivamente mais produtivo em casa.

Geralmente, o que muda na vida de quem começa a trabalhar digitalmente?

Normalmente, quem tem flexibilidade para trabalhar em casa trabalha mais horas. Começa mais cedo, em vez de sair para almoçar come em frente ao pc, mas também consegue sair mais cedo e ir buscar os filhos, ir às reuniões de pais, etc. E isso tanto mulheres como homens.

Trata-se de encontrar um equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal. Desenvolver espaços para os colaboradores praticarem atividades associadas à sua saúde e bem estar, assim como espaços de convívio que servem para reuniões mais informais. Esta mudança é cultural, tecnológica mas também em termos da disposição do próprio escritório. Espaços verdes, espaços criativos, espaços para relaxar, tudo isto faz parte do workplace do futuro.


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