O nascimento da revista Onco Glam prende-se com um momento específico das vossas vidas. O que as uniu em torno deste projeto partilhado?
A revista Onco Glam nasceu num momento muito específico das nossas vidas: ambas recebemos o diagnóstico de cancro em 2021. Esta experiência mostrou-nos o impacto profundo que esta doença tem, não apenas fisicamente, mas também emocionalmente e na maneira como nos vemos e nos relacionamos com o mundo. Foi aí que percebemos uma grande lacuna no mercado, com a falta de uma publicação que tratasse o cancro com sensibilidade, oferecendo não só informações, mas também apoio e inspiração para quem passa por esta doença.
Unimos a nossa experiência e a vontade de transformar o nosso diagnóstico e vivência em algo positivo, e foi aí que decidimos criar a Onco Glam. Queríamos uma revista que não apenas informasse, mas que acolhesse, inspirasse e devolvesse autoestima às leitoras. Para nós, o cancro pode ser tratado com seriedade sem perder a humanidade, e foi essa visão que nos uniu e deu vida a este projeto.
A beleza aqui é uma questão de autenticidade e de aceitação, é sobre sermos a melhor versão de nós mesmas, mesmo com as cicatrizes e as marcas da doença.
Em momentos anteriores confidenciaram que este era um projeto numa área que vos era alheia. Lançar uma revista envolve a superação de inúmeros obstáculos. Querem partilhar com os leitores este trajeto, desde o esboço da publicação ao produto entregue ao leitor?
Embora tenhamos formação nas áreas de comunicação e design, lançar a Onco Glam foi um desafio completamente novo para nós, pois nunca havíamos desenvolvido uma revista antes, ainda mais uma publicação tão específica, voltada para o universo oncológico. Desde o início sabíamos que não queríamos apenas criar uma revista generalista, mas sim algo que realmente acrescentasse valor e oferecesse informação segura e inspiração para a mulher com cancro, o cuidador ou o profissional de saúde na área.
Foi fundamental cercar-nos dos melhores profissionais nas mais diversas áreas. O nosso objetivo sempre foi reunir os parceiros certos, e contamos especialmente com o apoio da enfermeira Joana Preto, que connosco, lado a lado, faz a curadoria dos segmentos de saúde e bem-estar, garantindo que as informações sejam rigorosas e fidedignas.
Mas com todos os grandes sonhos, também existem dificuldades. Explicar a essência deste projeto a pessoas que não viveram esta realidade foi um desafio à parte. São realidades e sensibilidades muito diferentes, e tivemos de superar várias barreiras para traduzir a importância da Onco Glam, mostrando o impacto que uma revista como esta pode ter na vida de quem está a passar por um diagnóstico tão transformador.
No site que serve de abrigo à divulgação da revista há um lema que, presumo, seja a assinatura deste vosso projeto: “O cancro não é bonito, mas nós podemos ser”. Qual é o alcance destas palavras?
A frase "O cancro não é bonito, mas nós podemos ser" reflete bem o nosso espírito. Sabemos na primeira pessoa o quanto o cancro é doloroso, exaustivo e desafiador e não queremos romantizá-lo, mas também acreditamos que mesmo no meio da dor, ainda podemos encontrar forças para cultivar a nossa autoestima e valorizar a nossa beleza – por dentro e por fora.
Para uma mulher que deseja continuar ativa na sociedade, no trabalho e na família, estas palavras são um lembrete de que, apesar das mudanças físicas e emocionais, esta mulher merece sentir-se confiante e capaz. Mas precisamos das ferramentas certas para isso: desde um apoio emocional forte até acesso a cuidados que ajudem a preservar a nossa identidade e autoestima. Não se trata apenas de aparência, mas sim de recuperar o senso de dignidade, de bem-estar e de poder, que muitas vezes é ameaçado durante o tratamento. O cancro tira-nos tudo. Precisamos de recuperar tudo novamente.
A beleza aqui é uma questão de autenticidade e de aceitação, é sobre sermos a melhor versão de nós mesmas, mesmo com as cicatrizes e as marcas da doença. Este lema é uma afirmação de que, apesar de tudo, não somos definidas pelo cancro, e sim pela nossa capacidade de sermos resilientes, belas e autênticas no meio do desafio.
Subjacente ao nascimento da revista esteve a constatação de que em Portugal ainda não se olha para a doença oncológica como um período de “nojo”, uma suspensão do querermos estar bem e apresentarmo-nos bem?
Sim, em Portugal ainda prevalece a ideia de que a doença oncológica implica uma espécie de “suspensão” do desejo de estar bem e nos cuidarmos. Carregamos muito a ideia de que este é o nosso “fado”. Muitas vezes a sociedade tende a ver o cancro como um período onde o foco deve ser apenas o tratamento, colocando o bem-estar e a autoestima para segundo plano, quase como se cuidar da aparência e manter-se ativa fossem supérfluos diante da gravidade da doença. Mas para muitas pessoas, e principalmente para as mulheres, sentir-se bem, bonita e com autoestima elevada faz parte da força para enfrentar a doença.
Por isso acreditamos que é essencial olhar para o período do tratamento oncológico como um momento em que cuidarmos de nós, e querer estar bem, são na verdade partes fundamentais do nosso processo de recuperação. Não estamos a negar as dificuldades ou a intensidade da doença – sabemos na primeira pessoa que é um caminho árduo. Mas acreditamos que querer sentirmo-nos bem connosco não é só um direito, é também uma necessidade que pode ajudar-nos a enfrentar o dia a dia com mais resiliência e confiança.
Um dos propósitos de uma publicação é levar informação esclarecida e fundamentada aos seus leitores. No caso em apreço, o que oferece a Onco Glam a quem a lê?
Com esta revista queremos oferecer às nossas leitoras uma abordagem única e completa sobre o cancro, combinando informação especializada e dicas práticas. A revista traz artigos que falam sobre cancro de forma tanto específica como transversal, explorando temas como sexualidade e saúde mental, como questões práticas do dia a dia, que muitas vezes não são discutidas. Também abordamos moda, lifestyle, cuidados para o corpo e a mente, pilares essenciais para quem deseja manter o bem-estar durante e depois de um cancro.
A Onco Glam responde a perguntas que antes considerávamos óbvias, mas que, na verdade, muitas vezes nem as pessoas mais próximas sabem responder, simplesmente porque não passaram pela experiência de um cancro. Queremos ser a “amiga” que oferece informações úteis, honestas e fundamentadas, criando um espaço onde cada leitora possa encontrar clareza e veracidade em cada página.
Nestes dois anos temos recebido um retorno emocionante das nossas leitoras, e isso é sem dúvida, uma das partes mais gratificantes deste projeto.
Nos dois anos que trazem de projeto, por certo que se multiplicam as histórias de superação, de resiliência, mas também momentos menos bons convosco partilhados. Querem destacar algumas destas histórias?
Ao longo destes dois anos de projeto, tivemos a honra de partilhar histórias de superação e resiliência inspiradoras no nosso segmento de “Vidas Reais”. Mulheres de diversas idades, de norte a sul do país, confiaram contar-nos as suas histórias. Estas histórias não apenas humanizam a jornada oncológica, mas também mostram a força e a beleza que cada uma encontra dentro de si.
Uma história que nos marcou foi a da Carolina, na edição número cinco, uma jovem que decidiu casar-se durante o tratamento de quimioterapia. Ela estava deslumbrante no dia do casamento, onde fez uma sessão fotográfica maravilhosa — algumas fotos sem cabelo, outras com a peruca, sempre autêntica e cheia de vida. Em vez de presentes de casamento, a Carolina e o marido pediram que os convidados fizessem doações à Liga Portuguesa Contra o Cancro, reforçando a sua vontade de transformar este dia num ato de solidariedade e apoio. Histórias como a dela inspiram-nos, lembrando-nos do poder de cada mulher em enfrentar desafios com coragem e coração.
Nestes dois anos também terão mudado vidas. Por certo recebem esse retorno por parte dos vossos leitores. Quais as palavras mais gratificantes?
Nestes dois anos temos recebido um retorno emocionante das nossas leitoras, e isso é sem dúvida, uma das partes mais gratificantes deste projeto. Saber que a Onco Glam tem sido uma fonte de apoio, informação e inspiração para tantas pessoas dá-nos força para continuar. Entre as mensagens que mais nos tocam estão aquelas em que as leitoras nos dizem que se sentiram compreendidas, que a revista foi “como uma amiga” num momento em que precisavam de força e de alguém que realmente entendesse o que estavam a passar.
Também recebemos relatos de mulheres que redescobriram a sua autoestima e sentiram-se mais confiantes para enfrentar o dia a dia após lerem uma edição ou um artigo específico. Muitas dizem-nos que os conteúdos as ajudaram a enfrentar o cancro com um olhar diferente, menos solitário e mais fortalecido. Estas palavras de agradecimento e partilha são um lembrete impacto positivo que a Onco Glam tem na vida das leitoras, e é este retorno que faz todo o esforço valer a pena.
No site deixam um convite, o de nos tornarmos membros exclusivos do Onco Club. Quais as vantagens na associação a este clube?
Ser membro do Onco Club é integrar uma comunidade única de mulheres falam a mesma língua. Ao associarem-se, as participantes recebem todas as edições da revista Onco Glam diretamente em casa, garantindo acesso a conteúdos que informam, inspiram e acolhem. Mas o Onco Club é muito mais do que uma assinatura de revista – é um espaço de conexão genuína, onde cada membro encontra não apenas informação, mas também carinho e compreensão.
As associadas têm ainda a possibilidade de participar nos nossos eventos exclusivos, momentos especiais de partilha e troca de experiências que fortalecem os laços dentro desta comunidade. Estes encontros proporcionam um ambiente seguro para conversar, aprender e inspirar-se com outras mulheres que enfrentam ou já enfrentaram o cancro, criando uma rede de apoio que faz a diferença.
Que palavras gostariam de deixar a alguém que recentemente recebeu a notícia de ser portadora de um cancro?
A quem acabou de receber este diagnóstico, queremos dizer que entendemos a avalanche de emoções e dúvidas que surgem neste momento. É normal sentir medo, tristeza e até raiva – é uma notícia que muda tudo. Mas por mais desafiador que seja o caminho, não está sozinha. Existe uma comunidade de pessoas que passaram por isso e que hoje estão aqui para mostrar que é possível atravessar essa fase com coragem e apoio.
Pode e deve continuar a cuidar de si mesma, valorizando a sua autoestima e procurar buscar formas de sentir-se bem, tanto por dentro quanto por fora. Permita-se aceitar ajuda, informe-se, e confie que cada passo conta. É um caminho difícil, mas também é uma oportunidade de redescobrir a sua força e a sua resiliência.
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