Os nossos cães são quatro e fazem parte da casa e (quase) da família. Damos-lhes afeto, de comer e de beber, abrigo quando é preciso, espaço para correr e para brincar e eles, em troca, são amigos, fiéis, bons guardas e sobretudo, uma ótima companhia. Esta visão paradisíaca é apenas perturbada por uma diferença de entendimento em relação ao que é um jardim. Para eles, é um playground, um espaço de jogo de prazeres infindáveis.

Para mim, é uma paisagem e um prolongamento da casa que tem que estar num estado perfeito de manutenção. Há ano e meio, substituímos todo o relvado, trocando o typhton, vulgo bermuda, pouco adequado ao clima do Estoril, onde resido, por uma mistura de 80% de Festuca arundinacea com 20% de Poa pratensis, sob o douto conselho da engenheira Ana Caldeira Cabral, que também escreve nas páginas da revista Jardins.

Os efeitos da troca foram imediatos e espetaculares. O relvado, próprio para a situação de sol e sombra do nosso jardim, exibia um verde invejável apenas conseguido com a bermuda no pino do verão. Infelizmente, a nova mistura, revelou-se mais vulnerável à urina dos cães que a anterior e, chegado junho do ano passado, começaram a aparecer aqui e ali umas manchas bem redondas, amarelas, inconfundíveis.

Plantas tóxicas para crianças e animais
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Surgiram, sobretudo na zona de baixo do relvado, que é justamente aquela que habitualmente apanha mais sol. Desesperei! Não havia meio de ter o jardim nas condições exigidas pelo meu perfecionismo. Quando comentava o caso com alguém, como sucedeu por diversas vezes, a resposta era sempre a mesma. Então eu não sabia que cães e um relvado impecável são coisa incompatível? Chegou o outono, depois o inverno e constatei que, com as chuvas, as manchas amarelas desapareciam. No pino do inverno, o relvado estava no seu esplendor, como nunca o tínhamos visto.

Deitei as mãos à internet e pus-me a pesquisar em inúmeros sites sobre o assunto. Dei-me conta que, em vez de cruzarem os braços, havia centenas de pessoas em busca de soluções e a partilharem as suas experiências. Os bons resultados convergiam todos para a mesma situação, baixar o nível de azoto na urina e fezes dos animais. É possível fazê-lo através de medicamentação própria ou alterando a alimentação.

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Optei por esta última hipótese dado que a outra trazia inconvenientes para a saúde dos canídeos. A quantidade de azoto na urina e fezes dos cães está relacionada com o teor de proteína bruta contido nas rações, pelo que havia que, pacientemente, ir a várias lojas de animais e ver qual era a ração com o teor mais baixo. Concluí que a ração que lhes dava, da cadeia de supermercado Lidl, que é ótima e tem um preço muito confortável, tinha um teor de proteína bruta de cerca de 26%, enquanto outras rações, infelizmente mais caras, tinham-no um pouco mais baixo.

Na mais cara de todas, a Science Plan da Hills, o teor de proteína bruta era apenas de 19%. Optei por experimentar a dita ração a partir dos primeiros calores de junho. Por minha própria iniciativa, dada a constatação de que a água diluía o azoto, resolvi também passar a rega da relva para três períodos. Passei a fazer uma rega de manhãzinha aí pelas 07h00, outra no pino do calor às 13h00 e uma última mais lá para as 00h00.

O investimento que compensou

O custo da água não se alterava, uma vez que a quantidade total era a mesma. E cruzei os dedos! Passou julho e agosto e o relvado continuava lindo! Está uniforme, impecável, como nunca o vimos no verão. Agora, estou desejando as chuvas do outono para poder voltar a equilibrar a bolsa com uma ração mais barata. Mas a despesa valeu a pena! O outro truque é para evitar os buracos que os nossos amigos gostam de fazer nos jardins.

Os buracos devem-se a várias razões sendo a mais frequente o aborrecimento de cães sozinhos e pouco estimulados. Não é o caso dos meus. A zona que esgravatam foi sujeita a um aterro quando se construiu o jardim e devem estar detritos de ossos ou qualquer outra coisa interessantíssima, que o faro deles encontrou. O aconselhável nestes casos é apanhar os culpados em flagrante delito e ralhar-lhes forte e feio.

Essa é uma das formas a que pode recorrer para lhes condicionar negativamente esse comportamento indesejável. Infelizmente, é impossível controlar 24 horas por dia o comportamento de quatro cães. Eu apanhei-os em flagrante duas ou três vezes, mas não chega. Eram todos a fazer a mesma coisa, no mesmo sítio, a maior parte das vezes à noite, quando não tinham os humanos para os distrair e entreter.

A solução que adotei é simples. Forrei a zona flagelada com rede fininha de capoeira, agarrada ao chão por grampos. Para que resulte bem há que cortar a relva bem baixa, colocar seguidamente a rede e, passado uma semana ou duas, a relva cobre completamente as malhas meláticas ou plásticas e esta fica invisível. Os quatro culpados bem que se fartaram de tentar mas, desde aí, já não conseguem abrir masis buracos.

Texto: Vera Nobre da Costa