Cheguei ao Vietname no final de fevereiro de 2015, em pleno Tet, o primeiro mês lunar do calendário chinês, que é o por eles seguido. É a ocasião das festas mais importantes do ano Vietnamita. Não sei se é sempre assim mas, nesta época, as ruas de Hanoi, Hoi An, Hue, Ho Chi Minh e Can Tho, por onde passei, enchem-se de flores, com destaque para o crisântemo amarelo e para grandes cartazes encarnados com letras a amarelo dizendo «Happy New Lunar Year».
Painéis que contribuem para um ambiente festivo. Veja a galeria de imagens que mostra as belezas naturais de um dos mais belos países do sudeste asiático. O regime político é considerado comunista. Há apenas um partido. Mas já não há vestígios do habitual cinzentismo e constrangimento que se verificam noutros países com o mesmo modelo, embora o último campo de reeducação de cariz político ainda funcionasse há poucos anos.
A escolaridade e a saúde não são gratuitas e é admitida a propriedade privada. As pessoas, embora pobres, parecem felizes e contentes e a economia cresce a 6% ao ano, o que abre boas perspetivas. É um país seguro e tranquilo. Depois de 1.000 anos de domínio chinês, de cerca de 150 anos de ocupação francesa de parte do território, da invasão japonesa durante a II Guerra Mundial e, finalmente, da guerra do Vietname contra os EUA e as suas terríveis consequências, os tempos mudaram.
O povo vietnamita está, finalmente, a viver um período de paz e, por isso, ainda não chegou àquele ponto em que a necessidade de total liberdade de expressão e a aspiração à democracia levam ao protesto e à revolta. Talvez venha a acontecer daqui a duas gerações, quando os dramas da guerra e do violento pós-guerra já não fizerem parte da memória dos vivos.
Espetáculo de fartura vegetal
À chegada ao Vietname, o primeiro impacto que se tem, além do peso da história deste povo, é o da beleza natural da paisagem, que atinge o seu expoente máximo na Baía de Halong, nos arrozais de Sapa (na imagem) e no espectáculo do delta do Mekong. A riqueza da flora encontrada impressiona. As condições climáticas e a abundância de água fazem com que o Vietname seja um autêntico espetáculo de fartura vegetal.
Nunca vi noutros mercados orientais, que conheço bem, uma tal quantidade e variedade de frutos e legumes. Suponho que as dificuldades de anos e anos de guerra levaram este povo engenhoso e inteligente a nada desperdiçar de toda esta abundância que o mundo vegetal lhe oferece. Por exemplo, na flor-de-lótus (Nelumbo nucifera), flor, folhas e raízes, tudo é transformado em deliciosos pratos ou bebidas.
Experimentei (e trouxe) um excelente chá verde, que não é chá mas, sim, uma infusão das folhas secas do lótus. A variedade de frutas entontece-nos a vista e o paladar. Jackfruit (Artocarpus heterophylla), coqueiros, carambola (Averrhoa carambola), Carica papaya, bananeira (da musa species), pequenas e deliciosas, a juntar a uma muito mais interessante palmácea, a Ravenala madagascarensis.
Tal como essas, também a manga e o rambutan são presença constante dos terrenos adjacentes às casas mais modestas. A sua utilização é infinita (crua, cozinhada e em sumo) e a sua exposição ao cliente de uma surpreendente sofisticação. No delta do Mekong, centenas de barcos vendem toda a espécie de frutos e legumes, provindos do interior.
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Os mercados autênticos que ainda pode visitar
Os barcos fazem de casa dos seus proprietários durante dois ou três dias, até esgotarem a mercadoria, altura em que regressam à base para novo reabastecimento. Menos agradável à vista que o mercado de Banguecoque, o mercado do delta do Mekong , um dos mais tradicionais que ainda consegue visitar, é muito mais autêntico e ainda não contaminado para o turista ver. Os campos de arroz, muito verdes e bem organizados, produzem três colheitas por ano e o Vietname é, agora, o segundo maior exportador de arroz do mundo.
Este país é um jardim de fruteiras. Em qualquer superfície de terreno não ocupado, há um verdadeiro festival de plantas que, além de não necessitarem de cuidados de manutenção, embelezam e põem na mesa todos os vegetais necessários para acompanhar uma igual abundância de peixe. E as flores? Essas também deslumbram. A flor-de-lótus, perfumada e símbolo de beleza divina, é a flor nacional do país.
Texto: Vera Nobre da Costa
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