Foi a minha primeira viagem a África e espero que não tenha sido a última. Tomei as vacinas, comecei a profilaxia para a malária, coloquei na bagagem medicamentos, protetor solar, duas embalagens de repelente e muitas expetativas; tomei nota mental para não me esquecer de só beber água engarrafada (sou um pouco despreocupada com estas coisas) e embarquei num domingo de manhã.
São Tomé e Príncipe é um pequeno país, o segundo mais pequeno de toda a África, um ponto minúsculo perdido no mapa do Golfo da Guiné, um David defronte de Golias como a Nigéria, os Camarões ou o Gabão. É um estado insular composto por duas ilhas principais (a Ilha de São Tomé e a Ilha do Príncipe) e por várias ilhotas; e onde vivem cerca de 200 mil pessoas, cerca de metade das que vivem no município de Sintra, só para dar um exemplo que nos sirva aqui de régua.
Em São Tomé e Príncipe está quase tudo por fazer e falta um pouco de quase tudo. É um país que parece ter parado no tempo com a independência. O calor e a generosidade da natureza hão de ter a sua quota-parte de responsabilidades numa certa indolência, traduzida na típica expressão santomense “leve leve”, como quem diz “é para fazer com calma”. Mas esta calma e uma dependência grande da ajuda e do investimento externos resultam numa certa degradação e falta de serviços básicos que nos choca enquanto turistas em terra alheia e castiga quem faz daquela a sua morada de todos os dias.
O verde reina fora da cidade de São Tomé. Aqui e ali, pequenas povoações vão-se alinhando à beira da estrada, com as suas casas palafitas de madeira, algumas briosamente pintadas em azul ou rosa. Pela beira da estrada também circulam pessoas e animais. Crianças a correr na brincadeira, mulheres a equilibrar com destreza um alguidar na cabeça enquanto transportam uma criança presa às costas, rebanhos de cabras, varas de porcos, cães vadios, motorizadas que tanto podem transportar uma pessoa como uma família de quatro. Nos riachos, as mulheres lavam a roupa que colocam depois sobre as pedras para secar ao sol.
A natureza praticamente intocada é mesmo a principal riqueza de São Tomé e Príncipe. O pequeno país chegou a ser o maior exportador de cacau do mundo, mas a exploração de café e de cacau também pararam no tempo e, tirando raras exceções, as roças são agora uma mistura desordenada de habitações e vegetação. De resto, é quase o paraíso na terra: as pessoas são hospitaleiras, generosas e falam a nossa língua; as crianças têm um riso fácil e uma alegria contagiante; a natureza cresce a seu belo prazer; as praias são de sonho, enquadradas pelo azul do mar e o verde dos coqueiros; e, por fim, a comida é simples mas boa.
À mesa de São Tomé e Príncipe:
Em São Tomé e Príncipe come-se bem, sobretudo peixe e marisco (como o maravilhoso peixe andala, peixe azeite ou charuteiro, corvina, polvo ou choco). As doses são normalmente generosas e os acompanhamentos típicos são banana-pão frita, fruta-pão e matabala (parecida ao inhame) cozidas ou também fritas. Bebam a cerveja nacional, Rosema, servida numa garrafa sem rótulo, e procurem café local. Comam bananas, há imensas variedades diferentes, e jaca, que é absolutamente deliciosa. Visitem a fábrica de chocolate Claudio Corallo, fiquem a conhecer um pouco sobre o trabalho que desenvolve nas plantações de cacau e de café, façam a prova de degustação e não saiam de lá sem comprar um dos melhores chocolates do mundo ou o lote de café que mistura três variedades antigas de Arábica.
Estes são alguns dos restaurantes que visitei na cidade de São Tomé e que posso recomendar:
– Tété: a especialidade da Dona Tété é o tempero picante com que envolve o peixe, chocos ou frango que passam pela sua grelha. Não é fácil dar com o restaurante, só quem conhece consegue orientar-se pelos caminhos de terra batida e pouco iluminados. Aproveitem para falar um pouco com a Dona Tété porque ela é uma simpatia.
– Dona Hortênsia: a Dona Hortênsia serve em casa e tanto prepara um jantar para duas pessoas como um banquete para 100, mas devem reservar primeiro. A ementa varia ao sabor da inspiração do momento e é melhor irem com fome porque as quantidades são grandes. A Dona Hortênsia é de uma enorme simpatia e não se importa nada de partilhar as suas receitas, é só pedirem. Eu ainda tenho um frango com molho de coco e amendoim para experimentar em casa, uma delícia.
– Jasmim: provem os filetes de peixe andala, bem temperados com limão e, claro, picante.
– International Cuisine: se começarem a ter saudades da comida de casa, vão até ao restaurante do hotel Omali Lodge. É uma cozinha mais requintada e na ementa vão encontrar pratos Portugueses feitos com ingredientes locais. Eu provei a açorda de peixe e marisco e o leite creme com baunilha de São Tomé, ambos muito bons.
– O Pirata: um restaurante simpático, muito perto do hotel Pestana e com uma esplanada sobre a praia.
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