É uma verdadeira cidadã do mundo. Filha de uma brasileira descendente de português e de um brasileiro com cidadania letã, Laura Rizzotto vive atualmente em Nova Iorque, nos EUA. A Letónia, país que representa no Festival da Eurovisão da Canção de 2018 com a canção "Funny girl" é, no entanto, aquela que considera a sua nação. Em entrevista exclusiva ao Modern Life, a cantora e compositora faz revelações curiosas e surpreendentes.
Quais são as suas expetativas em relação à edição deste ano do Festival da Canção da Eurovisão?
A minha ambição é conseguir contar a historia de "Funny girl" com muita verdade e intensidade, criando uma ligação especial com a audiência, na esperança de representar a Letónia na Eurovisão da melhor forma possível. Este ano, comemoramos o aniversário dos 100 anos de independência da Letónia, o que torna este evento ainda mais especial no meu país.
A história de "Funny girl" é autobiográfica? Já se sentiu a funny girl, a mulher com sentido de humor com quem os homens gostam de estar quando se querem rir mas pela qual nunca se apaixonam, nalgum momento da sua vida ou é uma mulher com sorte ao amor?
Todas as minhas canções são inspiradas em experiências pessoais, inclusive "Funny girl". Poder expressar os meus sentimentos mais profundos em forma de música funciona como uma terapia para mim. A criatividade musical foi a forma que encontrei de compreender melhor o que se passa no meu íntimo e de lidar com emoções que, muitas vezes, transcendem a lógica e a razão.
Recebo muitas mensagens nas redes sociais de pessoas, de ambos os sexos e de diferentes faixas etárias, que se identificam com a história de "Funny girl".
Espero que a canção inspire os que a ouvem a não terem medo de expor a sua vulnerabilidade e de expressarem o que sentem, antes que seja tarde demais.
E quem é o boy que a fez sentir uma funny girl? E, já agora, sabe se ele já ouviu e se gostou da canção?
Eu escrevo canções a partir de histórias pessoais mas as pessoas sobre quem as escrevo não sabem que é sobre elas. Não gosto que o saibam. Neste caso, o homem que inspirou a canção não sabe que ela é sobre ele e eu gostava de manter as coisas nesses termos.
Como é que vai ser a sua apresentação em palco?
Vestirei uma roupa 100% Made in Latvia, confecionada especialmente para o evento, a partir de sugestões minhas e de um brainstorm [troca de ideias] que fizemos com várias estilistas letonianas. O meu amuleto da sorte, que uso sempre e que também usarei na Eurovisão, é o pingente de Saule, a deusa letoniana do sol e do ciclo da vida.
O staging da performance da Letónia, como já puderam ver nos vídeos dos ensaios que entretanto foram divulgados, é vermelho, a minha cor preferida, que simboliza paixão, desejo, amor, energia e determinação, tudo o que quero trazer para o palco da Eurovisão durante a minha atuação.
Já tinha estado em Portugal antes de vir cá gravar o vídeo de promoção do país que será transmitido antes da sua atuação na semifinal e na final do festival?
Sempre tive o sonho de conhecer Portugal, porque nasci e cresci no Brasil. Os portugueses e os brasileiros têm um elo profundo e especial. Somos povos irmãos! A minha mãe é brasileira descendente de portugueses e o meu pai tem dupla nacionalidade, brasileira e letoniana. Herdei a cidadania letã pelo lado da família do meu pai.
Essa foi a minha primeira visita a Portugal e senti-me totalmente em casa. A arquitetura de Lisboa lembrou-me a do Rio [de Janeiro] antigo e acho o sotaque lusitano fofinho. Fui tratada com carinho por todos os portugueses com quem interagi nesta viagem e fiquei com um gostinho de quero mais. Não vejo a hora de regressar a Portugal!
Por que é que escolheu o Algarve para gravar o seu vídeo promocional de Portugal?
Tenho uma ligação muito forte com o mar, pois cresci na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Sou uma verdadeira garota de Ipanema. Como pratico desportos aquáticos, como esqui aquático e stand up paddle no Brasil, os produtores sugeriram gravar o meu vídeo no Algarve, nas grutas de Benagil. Benagil é um dos lugares mais bonitos que eu já visitei.
A visão que se tem dentro da gruta é encantadora, mágica e inesquecível. A equipa de filmagens ficou muito feliz com o tempo bom que apanhámos na altura, pois parece que choveu muito na região nas semanas que antecederam a gravação. O sol forte e o céu azul tornaram a paisagem do Algarve ainda mais deslumbrante. Foi uma experiência incrível!
Alguma história curiosa que tenha ficado por contar acerca dessa sua primeira visita a Portugal?
Sim, muitas… Um dia, à noite, tive desejo de provar os famosos pastéis de nata lusitanos, que já conhecia do Brasil. Procurámos pelo Algarve, mas não os encontrámos em lado nenhum. Explicaram-me, depois, que cada região de Portugal tem o seu próprio doce conventual e que os pastéis de nata são uma especialidade mais típica de Lisboa.
Assim que voltámos para a capital, fomos diretamente a Belém, provar os autênticos pastéis de Belém, quentinhos, com canela… Uma delícia! Adorei também ver a expressão de surpresa dos portugueses quando constataram que eu, letã, falava fluentemente o idioma de Camões.
Tentaram imitar o meu sotaque brasileiro carioca, sem sucesso. É curioso… No Brasil, nós dizemos cadarço e não atacador. Utilizamos a palavra trem em vez de comboio, rotatória em vez de rotunda e celular em vez de telemóvel. Adorei aprender mais sobre as diferenças entre o vocabulário português e o brasileiro.
Já conhecia alguma coisa da música portuguesa antes do Salvador Sobral ganhar o Festival da Canção da Eurovisão de 2017?
Sim, adoro o cantor e compositor Rui Veloso. Também conheço o trabalho de Luísa Sobral, irmã de Salvador. Tal como eu, estudou em Berklee College of Music, em Boston. Ela regressou depois a Portugal e eu continuei nos Estados Unidos. Após o bacharelado em música que fiz, comecei a fazer um mestrado na Universidade da Columbia, em Nova Iorque, onde resido atualmente.
Qual é a opinião que tem de "Amar pelos dois", a canção que surpreendentemente, contra todas as expetativas, venceu o Festival da Canção da Eurovisão de 2017?
Gostei muito de "Amar pelos dois" e considero a vitória de Portugal merecida. Salvador Sobral é um excelente intérprete, cantou lindamente, com muita emoção. Conquistou o coração de todos, inclusive o meu.
Alguns dos intérpretes da edição deste ano, já assumiram publicamente quais são as canções que mais os entusiasmam este ano. Quais são as suas?
Este ano, fiquei encantada com a diversidade de géneros musicais a concurso e com o alto nível da produção das canções selecionadas. São tantas boas opções que não consigo escolher uma só.
E o que pensa da canção de Portugal com que Portugal participa no Festival Eurovisão da Canção de 2018?
Acho linda esta homenagem de Isaura à sua falecida avó! A simplicidade da letra e a sonoridade inconfundível da voz da Claudia Pascoal são cativantes. Considero uma benção a nossa capacidade de reciclagem emocional, de conseguimos criar arte e beleza a partir de uma das dores mais pungentes da vida, como a perda de um ente querido.
A seguir ao Festival da Canção da Eurovisão, vai-se logo embora ou vai aproveitar para ficar em Lisboa e para conhecer melhor Portugal?
Cheguei a Lisboa no dia 1 de maio e ficarei, ao todo, duas semanas, para conhecer a cidade e participar nos eventos relacionados a Eurovisão. Quero muito descobrir os lugares charmosos e secretos de Lisboa, que não são frequentados por turistas, apenas pela população local.
Pretendo também conferir o cenário atual de música pop lusitana. Numa próxima oportunidade, gostaria de conhecer um bocadinho da região norte de Portugal, nomeadamente cidades como o Porto, Coimbra, Braga e Aveiro.
Depois do festival, são muitos os projetos que tem em mãos? O que é que pode já revelar?
Logo após a Eurovisão, lançarei o meu próximo single, "Bonjour", cujo vídeo foi gravado em Paris no final de abril. Pretendo, depois, apresentar-me em festivais de música no verão e lançar o EP "Amber", o segundo do meu atual projeto autoral, a série de "Precious stones", que também integra o EP "Ruby".
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