Em estúdio, a gravar o próximo álbum, que será o sétimo em sete anos de carreira, David Carreira não para. Para além da digressão que está a fazer e da marca de roupa interior masculina que está a promover, ainda arranjou tempo para lançar uma coleção cápsula da etiqueta que criou, a Ninety One Paris by David Carreira, como revelou na primeira parte da entrevista exclusiva que deu ao Modern Life/SAPO Lifestyle.
Apesar de ter enveredado inicialmente, em termos artísticos, pela moda e pela representação, a música tem sido, no entanto, a sua principal ocupação. Em 2013, surpreendeu o público ao lançar um single com o Snoop Dogg. Ainda hoje mantêm o contacto ou nem por isso?
Mantivemos contacto durante os cinco ou seis meses subsequentes mas depois, por acaso, não tivemos mais… Mas já cheguei a pensar, algumas vezes, em desafiá-lo para um novo dueto. Até podia ser giro, por acaso…
Além do Snoop Dogg, também trabalhou com o Justin Timberlake…
Sim. Eu já emprestei a voz a três filmes de desenhos animados. O primeiro foi o "Lorax", o último foi o "Príncipe bué encantado" e o do meio foi o "Trolls". Na altura, combinaram-me um encontro com ele e com a Anna Kendrick, que acabou depois por não estar presente. Fui ter com ele a Londres e acabámos por falar das personagens.
Este acompanhou de muito perto esse filme porque fez a banda sonora, que integra o grande êxito mundial que foi o "Can’t stop the feeling". Eu fiz a personagem dele na versão nacional e cantei essa canção em português. Para mim, foi muito fixe, porque é um cantor que eu sempre admirei.
Não o tentou convencer para colaborarem musicalmente?
Por acaso, não. Na altura, a minha preocupação foi conhecer melhor a pessoa que sempre admirei. A dada altura, até tive uma brincadeira com ele. Cheguei a dizer-lhe que ele estava um bocado velho.
Nós temos 10 anos de diferença. Eu devia ter 25 [anos] na altura. E ele respondeu "Porra, já tenho 35"… É um tipo muito porreiro. Muito porreiro mesmo!
Já que estamos a falar de idades, já admitiu publicamente que não gosta de dizer a sua. Porquê?
Porque não gosto… Não gosto! [sorri timidamente e faz uma pausa] Não sou muito de dizer a idade. Acho que, se não dissermos a nossa idade, ninguém a vai saber. Pelo menos, tento acreditar nisso…
Mas existe alguma razão em concreto para isso? Tem medo de envelhecer?
Se calhar, é isso. Preocupo-me um bocado. Apesar de não ser propriamente velho… [risos] Acho que é uma coisa que preocupa todos os cantores… Vejo o Pharel [Williams] que tem 45 anos e parece ter 25 ou 30… [faz nova pausa]
Voltando à música, depois do sucesso em Portugal, lançou um primeiro álbum em francês, "Tout recommencer", que correu muito bem. O segundo, "1991", já não teve o mesmo êxito. O que é que aconteceu?
Além da grande dificuldade do segundo álbum, há uma coisa que eu percebi. É muito complicado fazeres duas carreiras. Quando, por exemplo, o Justin Timberlake lança um álbum é para o mundo inteiro e apenas numa língua. Com o Enrique Iglesias e com a Shakira, é a mesma coisa.
Agora, lançares dois álbuns completamente diferentes em duas línguas diferentes para dois públicos que não estão ligados em nada, a não ser a comunidade portuguesa lá e a comunidade francesa cá, é muito complicado, porque os dois álbuns chocam.
Na altura do "Obrigado la famille" [primeiro single do primeiro álbum em francês], eu não estava a lançar nada cá. Mas, quando depois lancei lá o [segundo] álbum, estava a lançar singles cá. Então, chocou! Eu estava cá com o "Ficamos por aqui" e lá com o "Domino".
Era muito complicado ir para as rádios e para a televisão lá enquanto tinha que fazer o mesmo cá. Também tinha concertos. Não podia parar a digressão que estava a fazer em Portugal. A conclusão a que cheguei é que, para ir para lá, tenho de desaparecer aqui e vice-versa.
É isso que vai suceder no futuro? A carreira em França é para continuar?
Sim! Eu já tentei várias formas de pensar em estar nos dois países ao mesmo tempo com as mesmas músicas mas é impossível. Quando pensar em trabalhar novamente num álbum em francês, tenho de deixar Portugal de lado e concentrar-me apenas em França e vice-versa. Porque eu gosto muito de cantar em francês e gosto muito de cantar em português…
O seu irmão, Mickael Carreira, tem tido a mesma dificuldade com a carreira paralela que tem tentado manter na América do Sul…
Como são duas línguas diferentes, o português e o espanhol, não há assim muito interesse por parte do público latino e até do público espanhol de conhecer a música portuguesa. Há ali barreiras musicais.
Eles têm ali códigos específicos, tal como os Estados Unidos da América, onde também não se ouve música portuguesa. A solução passa por fazer um álbum universal, em espanhol ou em inglês, mas não é o meu caso. Não me interessa cantar em espanhol ou em inglês.
Para uma projeção internacional maior, que poderia ser benéfica para essa carreira dupla que tem tentado manter em Portugal e em França, alguma vez pôs a hipótese de participar no Festival Eurovisão da Canção, um espetáculo que é visto anualmente por 200 milhões de pessoas?
Não, porque… [faz uma pausa] Eu respeito os que o fazem mas não me vejo naquele palco. Não sei porquê! Há certas coisas que temos que sentir. Eu já recusei vários convites para fazer musicais, por exemplo. Em França, estive quase para fazer um. Estive ali resvés… Posso também falar do Spielberg. Recebi um convite para um musical que ainda não estreou sequer.
Um filme musical tipo o "Moulin rouge" realizado pelo Steven Spielberg. Recebi o convite, através da Sony Music cá em Portugal, para ir fazer o casting. Eles queriam que eu o fizesse. Tinha toda a gente a dizer "David, é o Spielberg", mas eu disse que não o ia fazer.
Eu sabia que não ia gostar. E, como não gosto, não iria saber fazê-lo. Não o iria conseguir fazer bem. Iria sair uma coisa forçada. Quando tu acreditas e quando tu queres, as coisas correm bem. Quando não acreditas, não correm…
Ainda assim, já admitiu publicamente que quer fazer cinema. Não seria um mal menor ter ido fazer esse casting e até fazer esse musical se ficasse com o papel tendo em conta que seria uma oportunidade para entrar na sétima arte pela porta grande e para ficar com um nome como o do Steven Spielberg no currículo? Nem assim se deixou convencer?
Durante muito tempo, acreditei nesses males menores e, nas vezes em que cedi, correu sempre mal. Tenho alguns exemplos de coisas que não vou dizer, que foram esses males menores. Coisas que eu não queria fazer e que fiz porque me disseram que me iam ajudar e que me iam abrir portas…
Aconteceu o mesmo com esse musical que eu estive resvés para fazer. Só que eu sou muito teimoso e, se eu não acredito nas coisas, fico triste. E, das poucas vezes em que acabei por não seguir o meu feeling, as coisas correram mal. O musical que eu estive quase para fazer em França foi um flop. Dou graças a Deus por não o ter feito!
Há três projetos aos quais se chegou a associar o seu nome que acabaram por nunca avançar, como foi o caso da telenovela "Belmonte", de uma das edições da versão francesa do programa de entretenimento "Dança com as estrelas" e de alguns reality shows com celebridades da TVI. Nestes casos, também foi uma questão de feeling?
Para reality shows nem sequer me contactaram porque sabem que eu não os iria fazer. O "Dança com as estrelas" em França… [faz uma pausa] Não me lembro o que é que aconteceu porque acabei por fazer o de Portugal a seguir. Acho que, na altura, estava no meio da promoção de um álbum e achámos, em conversações com a editora francesa, que não era a altura certa. Deve ter sido por causa disso…
E a telenovela "Belmonte"?
Eu não era para fazer o "Belmonte". Às vezes, são lançados nomes cá para fora que não correspondem à realidade. Deve ter sido isso porque eu, na altura, fiz uma telenovela logo a seguir…
Em 2013, foi eleito Sexy Teen pelo jornal Correio da Manhã. Cinco anos depois, sente-se um sexy adult?
Eles ainda fazem essa votação? Eles já não nos põem [nessa lista]… Nem a mim nem ao meu irmão nem ao meu pai porque os processámos. Aquilo [que eles fazem] é ilegal! Eles estão a ganhar dinheiro com chamadas [telefónicas] e eu não ganho nada…
Apesar de estarem a usar a sua imagem…
Sim, eles pegam nas fotografias de toda a gente e pedem às pessoas para votar nos que acham mais sexy mas as chamadas são de valor acrescentado. Por isso, não vou ser mais nomeado… [risos]
Por acaso, está. Faz parte dos nomeados em votação este ano. Independentemente dessa questão, a realidade é que é um sexy adult. Basta ver os comentários nas redes sociais sempre que publica uma fotografia mais provocadora ou onde surge com menos roupa. Como é que lida com esse rótulo? É um rótulo que favorece a carreira ou, pelo contrário, pode funcionar como um entrave?
[Faz uma pausa] Eu acho que nem é bom nem é mau. Não penso muito nisso, sinceramente. [volta a fazer uma pausa] É óbvio que fico contente. É melhor ter esse rótulo do que ter outro… [risos]
Sim, esse não é dos piores…
Sim… [risos] Em termos de imagem [pública], não tenho propriamente uma imagem de excessos e loucuras nem até mesmo de noitadas. Sempre fui bastante focado, também por causa [da disciplina] do futebol. Mas fico contente, é óbvio… Eu tenho muita tendência a publicar fotografias em tronco nu. Às vezes, dizem-me que tenho de ter calma…
Mas fá-lo porque faz parte da sua maneira de estar ou há dias em que publica essas fotografias para gerar muitas reações e para conseguir muitos comentários porque sente mesmo essa necessidade?
Não…
Não é por aí? Então é para provocar?
Não… Às vezes, estás em cima do palco, estás naquele ambiente e tiras a t-shirt. Às vezes, tem a ver com [a publicidade] a marcas, como acontece agora com a Tezenis. Eu não sou muito de ter cuidados com o corpo. Ainda há uns tempos estava no Brasil de férias, a beber caipirinhas e a comer picanha e pão de queijo. As coisas boas…
Quando regressei, tinha uma barriga que parecia que estava grávido de quatro meses, avisaram-se que, dentro de duas semanas, tinha a sessão fotográfica para a Tezenis. Liguei logo para o meu treinador pessoal a marcar treinos bi-diários. Foram dois treinos por dia, de manhã e à noite, para além de fechar a boca.
A avaliar pelas fotografias que já foram divulgadas, resultou. Habitualmente, é um bom garfo?
Sim, sou. Gosto muito de comer!
Do que é que gosta mais?
Faço muitos churrascos em casa. Gosto de massas, de pizas, de hambúrgueres…
E de pratos da cozinha tradicional portuguesa?
Sim, gosto de tudo o que são alheiras. De um bom cozido à portuguesa também. De uma boa posta mirandesa… Eu gosto muito de comer e como praticamente de tudo. Só há uma coisa que eu odeio que são os coentros. Não consigo! Mas gosto de comer e como bastante…
Nasceu em França, fala fluentemente francês e também canta em francês, apesar de ainda não compor nesta língua. Ainda assim, não tem dupla nacionalidade. Porquê?
Boa pergunta! Não sei porquê… [risos] Tenho de tratar disso. Nunca tratei! Não sei por que é que, na altura, os meus pais não chegaram a tratar disso. Mas tenho de tratar porque eu também me sinto francês…
Em situações como o campeonato mundial de futebol, também torce pela França? Como é que foi no jogo do Euro 2016? A final desse campeonato opôs Portugal à França…
Não, aí é 100% Portugal… Eu, quando vivi em França, estava integrado numa comunidade portuguesa e os franceses gozavam muito connosco porque, no futebol, estávamos sempre a perder quando jogávamos contra eles. Eu, na minha escola, devia ser o único português e levava de toda a gente. Então, ganhei essa coisa. A seleção é a seleção e mais nada!
Afirmou uma vez, numa entrevista em França, que gosta de mulheres complicadas. Porquê?
Eu disse isso?
Sim…
[faz uma pausa] Eu não me lembro de ter dito isso!
Mas é verdade ou mentira?
Não sei… Se calhar, devo ter dito isso de outra forma… Eu gosto de mulheres independentes! [faz nova pausa] Mas complicadas não…
Em várias outras entrevistas, assumiu também que é casmurro, bipolar e muito pouco dado a improvisos. As palavras e as expressões são suas. São estes os principais defeitos do David Carreira ou também não era isso que queria dizer e, afinal, não se reconhece em nenhuma delas?
Aqui, reconheço-me a 100%. Subscrevo! Não é que seja casmurro mas sou um bocado teimoso.
Na entrevista, disse casmurro…
É uma questão de adjetivos mas, quando estou errado, reconheço-o. Mas raramente estou errado! [risos] Também não diria bipolar, que é uma palavra forte, mas sou muito oito ou oitenta.
E a parte dos improvisos? Na altura em que a proferiu, estava mais a referir-se à dança. Tinha que ter as coreografias muito bem estudadas quando dançava na série de televisão "Morangos com açúcar" porque não é homem de improvisar…
Eu, instintivamente, não sou bailarino. Só sou bailarino por causa do meu trabalho e da minha dedicação. Não é algo que tenha nascido comigo! É algo que fui aprendendo, sempre a ter aulas e a praticar com os bailarinos. Mas, ainda hoje, não faço improvisos…
Já tem uma sobrinha pequena, filha do seu irmão Mickael. O convívio com ela já despertou em si a vontade de ser pai?
Não, não… Ainda tenho tempo… Mas o papel de tio é fixe. Eu gosto!
Além do disco novo que sai no fim do ano, da digressão e da marca de moda que entretanto lançou, há mais projetos que tenha em mãos?
Sim, estive agora no [NOS] Alive. Vou a Verona também com a Tezenis. Vou lá ver o desfile [de lingerie "Intimissimi on Ice"], ver mulheres bonitas e passear.
Vale a pena porque a cidade é fantástica!
Ai é? Por acaso, estava a pensar se valia a pena gravar lá um videoclipe ou não. Se calhar, vou pensar nisso mais a sério… Vou filmar os bastidores das miúdas! [risos]
Para além do Snoop Dogg, com quem já admitiu que gostaria de voltar a trabalhar no início desta entrevista, há assim outro nome, nacional ou internacional, que gostasse de convencer a gravar consigo?
[faz uma pausa] Há vários. Hoje em dia, oiço muito o Bad Bunny. Acho que ele é colombiano. Neste momento, acho que era a ele que telefonava…
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