A dieta afeta as hipóteses de engravidar? Esta pergunta levou dois investigadores a reunir num livro as principais descobertas sobre alimentação e fertilidade. «The Fertility Diet», que integra o top cinco das melhores dietas pelo US News World Report em 2015, baseia-se num dos mais longos estudos de saúde realizados, o «Nurses’ Health Study».
Tudo começou em 1976, nos Estados Unidos da América, quando uma equipa médica financiada pelo National Institute of Health decidiu estudar os efeitos da toma da pílula contracetiva na saúde das mulheres. O alvo foram enfermeiras (acreditava-se que seriam mais rigorosas na resposta) e a pesquisa assentava em questionários que preenchiam a cada dois anos.
Estima-se que já tenham participado 238 mil enfermeiras neste estudo, que continua a decorrer. A terceira edição começou em 2010 e é coordenada por Walter Willet e Jorge Chavarro, os autores desta dieta. Se prende vir a ter filhos ou anda a tentar aumentar família, conheça os 10 comportamentos que vão melhorar a sua fertilidade.
A quem se destina
É reconhecido que o estilo de vida pode ter influência na capacidade reprodutiva e está provado que o excesso de peso ou a magreza acentuada representam maior risco de infertilidade. «A função ovárica depende diretamente do peso equilibrado», confirma Marcela Forjaz, médica ginecologista. Os investigadores quiseram apurar que alimentos podem ser benéficos e que alimentos devem ser evitados por mulheres que desejam engravidar.
Para definir esta dieta, publicada em 2008, além de acompanhar um grupo de 19 mil participantes do «Nurses’ Health Study» durante oito anos, os investigadores basearam-se em estudos sobre o consumo de laticínios, cafeína, hidratos de carbono, ácidos gordos ou a toma de vitaminas e ferro e a infertilidade por disfunção ovulatória. A dieta promove a ingestão de proteína e gorduras vegetais, cereais integrais, em detrimento de gorduras saturadas, cereais refinados e carne vermelha.
Segundo o painel de especialistas da US News, que a incluiu nas melhores de 2015, esta dieta destina-se sobretudo a mulheres com problemas ovulatórios, nomeadamente ovulação irregular e síndrome do ovário polisquístico. Não deve ser encarada como uma prescrição médica nem uma solução milagrosa. É um plano equilibrado, que pode contribuir para criar condições mais propícias à gravidez e um estilo de vida saudável.
As principais regras a seguir
O plano dá preferência a cereais integrais e a gorduras insaturadas (como o azeite). A proteína privilegiada é a de origem vegetal, mas pode também ser incluído peixe, ovos e laticínios. A carne vermelha deve ser excluída. Os laticínios, em versão gorda, ocupam um lugar de destaque, assim como a água, que deve ser a principal bebida.
Os refrigerantes devem ser eliminados . O menu diário é composto por três refeições e dois lanches, num total de duas mil calorias. O exercício regular também entra nesta equação, nomeadamente por ajudar a regular os níveis de insulina, uma hormona que pode interferir na ovulação. Reduzir o stresse e a exposição ao tabaco é aconselhado.
Veja na página seguinte: Os prós e os contras desta dieta
Prós e contras da dieta
Segundo os autores da dieta, a ingestão diária de duas porções de laticínios gordos poderá reduzir em cerca de 85 por cento o risco de infertilidade causada por problemas ovulatórios. A explicação estará num componente lipossolúvel presente no leite gordo e retirado das versões magras que pode melhorar a ovulação. Marcela Forjaz não concorda.
«Muitos estudos indicam não ser necessário incentivar a ingestão de leite, quanto mais gordo. Alergias à proteína do leite de vaca e intolerâncias à lactose são apenas a ponta visível do problema. As vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) podem ser absorvidas através de outros alimentos e a E, relacionada com a fertilidade, encontra-se em óleos vegetais, frutos secos, gérmen de trigo e cereais integrais», diz.
«As desvantagens do seu consumo (aumento do colesterol e impacto no aparelho gastrointestinal) ultrapassam os benefícios», comenta ainda a especialista. Ainda assim, refere, «com a ressalva da utilização do leite gordo, indicaria esta dieta à população em geral. Nos casos de mulheres obesas a tentar engravidar, seria ainda mais assertiva pelas vantagens metabólicas e impacto que uma dieta saudável e o peso e forma física ideais têm na função ovárica».
O imperativo de uma alimentação polifracionada
A especialista destaca ainda, neste plano, o facto de a «alimentação ser polifracionada, diversificada e equilibrada em termos de necessidades calóricas, bem como a qualidade dos alimentos». «A exclusão da carne vermelha é defendida por várias correntes na medicina», acrescenta ainda.
«Uma dieta rica em vegetais, cereais integrais e ácidos gordos insaturados é um garante de proteção cardiovascular, ingestão de cálcio, controlo do metabolismo dos açúcares e de flora intestinal equilibrada. O exercício é a cereja no topo do bolo, se tiver frequência, duração e intensidade moderadas», refere ainda.
O percurso dos investigadores
Walter Willett e Jorge Chavarro são médicos e investigadores da Harvard T.H. Chan School of Public Health que, há várias décadas, se dedicam ao estudo do papel da dieta e dos hábitos de vida na saúde, nomeadamente na fertilidade. Foi Walter Willett quem coordenou a segunda edição do Nurses’ Health Study, em 1989, quando foram introduzidos critérios de avaliação relacionados com o estilo de vida.
Jorge Chavarro, também diretor do Boston Nutrition Obesity Research Center, tem investigado os fatores que afetam a fertilidade, masculina e feminina, incluindo a relação entre a massa corporal e a qualidade do sémen. O seu mais recente estudo aponta os benefícios do consumo da soja por mulheres que seguem tratamentos de fertilidade. Acredita-se que reduz a presença de bisfenol A, um químico presente nos plásticos e latas, que mimetiza a ação do estrogénio e pode interferir na fertilidade.
Texto: Manuela Vasconcelos com Marcela Forjaz (médica ginecologista)
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