“A vespa asiática ou velutina provocou uma enorme quebra na produção de mel, sobretudo no Norte do país, onde está muito presente”, disse à Lusa o presidente da Associação de Apicultores do Norte de Portugal (AANFP), João Valente.
Embora refira que a quebra não é igual a cada ano, João Valente estimou que ronde os 40 a 50%.
Essa quebra de produção não é transversal a todo o país, visto que a vespa está “mais instalada” no Norte do que no Sul, alertou.
Além da diminuição de produção, esta espécie causa mais danos aos apicultores, relacionados com o aumento de despesas na manutenção dos apiários, indicou o presidente.
Devido à presença da vespa, os apicultores têm de fazer mais deslocações entre casa e apiários, que regra geral estão numa zona afastada, para prestar uma assistência às abelhas "mais contínua”, sustentou.
A somar aos gastos com as deslocações está ainda a alimentação das abelhas, acrescentou.
A presença da vespa asiática obrigou também a fazer mudanças na produção de colmeias que, normalmente, acontece na primavera e agora foi antecipada.
“Esta era a altura [primavera] em que renovávamos os enxames, ou seja, que produzíamos outras colmeias, mas tivemos de fazer alterações e antecipar esse processo para fora da época da incidência da vespa asiática”, explicou.
Agora, a renovação dos enxames faz-se “fora de época”, o que dificulta o trabalho dos apicultores porque o tempo é mais frio e têm de criar estruturas mais quentes para ter as abelhas, adiantou João Valente.
O presidente da associação recordou que a época mais quente do ano é a altura da maior presença da vespa asiática, o que justifica a necessidade de antecipar esta renovação.
“Há muitos apicultores que estão a deixar de o ser”, afirmou.
João Valente ressalvou ainda que o principal malefício da vespa não é só comer as abelhas, mas tudo que sejam insetos alados [que têm asas].
E isso significa uma diminuição da polinização, em virtude de um decréscimo de insetos, situação a que se dá pouca atenção, mas que tem “enorme importância”, considerou.
“Essa é que devia ser a preocupação a ter agora em conta e não só quando se perceber que as macieiras não produzem maçãs, por exemplo”, esclareceu.
O responsável entendeu que as autoridades oficiais deveriam “dar mais atenção” a este assunto.
O problema resolvia-se se houvesse uma “perseguição organizada" à vespa, algo que não existe porque cada município faz o que pode e quando pode, vincou.
Atualmente, as câmaras municipais atuam quando veem um ninho, mas nessa altura “já é tarde", afirmou.
“A atuação devia ser antes de elas fazerem ninhos e isso era possível”, advertiu.
A vespa velutina é uma espécie asiática que exerce uma ação destrutiva sobre as colmeias de abelhas melíferas e pode constituir perigo para a saúde pública.
Esta espécie de vespa predadora foi introduzida na Europa através do porto de Bordéus, em França, em 2004.
Os primeiros indícios da sua presença em Portugal surgiram em 2011, em Viana do Castelo.
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