Por outro lado, aquela entidade espanhola constatou que o abrandamento do aquecimento global, entre 1998 e 2005, resultou numa diminuição da transmissão do paludismo nas terras altas da Etiópia.
Um estudo conduzido pelo ISGlobal, um centro promovido pela Fundação La Caixa e pela Universidade de Chicago, publicado na revista ‘Nature Communications’, demonstrou a “estreita relação entre o clima e a saúde”.
Médicos e cientistas debateram durante muito tempo o impacto do aquecimento global na incidência da malária.
Os especialistas acreditam que uma das regiões onde se observa o maior efeito é nas terras altas, onde temperaturas mais baixas limitam a abundância do mosquito da malária, causando surtos intermitentes e sazonais da doença.
“Vemos que a epidemiologia da malária nestas áreas é fortemente governada pelo controlo climático, que se manifesta a todas as escalas (meses, anos e mesmo décadas), o que resolve de uma vez por todas o debate sobre se as alterações climáticas estão ou não a afetar a dinâmica da malária em África”, disse Xavier Rodó, diretor do programa Clima e Saúde do ISGlobal e primeiro autor do estudo.
Rodó lembrou que no final do século passado observou uma diminuição da incidência do paludismo na África Oriental, que podia ser o resultado de medidas de controlo acrescidas contra a doença ou do abrandamento temporário do aumento da temperatura média global da superfície, um fenómeno que se verificou entre 1998 e 2005.
Para apurarem isto, os investigadores estudaram a região de Oromia da Etiópia, um planalto densamente povoado, situado entre 1.600 e 2.500 metros acima do nível do mar.
Nesta região têm registos muito completos de casos anuais de malária para ambos os parasitas (P. falciparum e P. vivax) entre 1968 e 2007, enquanto que as intervenções de saúde pública para controlar a doença só foram reforçadas na região em 2004.
Assim, foram capazes de separar o efeito do clima do efeito das medidas de controlo dos parasitas e, utilizando um modelo matemático, analisaram a relação entre casos de malária, clima regional (temperaturas locais e precipitação) e clima global (em particular do Oceano Pacífico, devido ao efeito do El Niño, e da chamada Oscilação Decadal do Pacífico).
Os resultados mostram que a variação dos casos de paludismo, para ambos os parasitas, está “extremamente bem” correlacionada com as alterações das temperaturas regionais: a diminuição das temperaturas na região, ligada ao efeito das alterações climáticas, coincidiu com a redução dos casos de paludismo observada a partir de 2000, cinco anos antes do reforço das medidas de controlo da doença.
Isto, por sua vez, coincidiu com o abrandamento momentâneo do aumento da temperatura média global da superfície devido ao fenómeno El Niño e à Oscilação da Decadal do Pacífico.
A análise também mostra que existe um “efeito de cascata” entre a variabilidade climática global (neste caso, a temperatura do Oceano Pacífico) e a variação regional da temperatura na África Oriental, o que se traduz, em última análise, em novos casos de malária nas terras altas da Etiópia.
“A ligação entre a dinâmica da doença e as condições climáticas é tão estreita que é observada em diferentes escalas de tempo: desde ciclos sazonais a plurianuais e mesmo de décadas”, disse Mercedes Pascual, professora de Ecologia na Universidade de Chicago, no Uruguai, num comunicado.
“A incidência da malária não só refletiu as mudanças de temperatura, que já tínhamos demonstrado, mas também a diminuição do aquecimento, que se observou no início do século o objetivo deste estudo”, segundo Pascual.
Para Rodó, “a evidência de que o período de abrandamento do aquecimento global teve um impacto na transmissão da malária demonstra a forte ligação entre o clima e a saúde”.
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