Agosto remete-nos ao calor, a férias e a uma felicidade inexplicável que nos invade sem pedir licença. Isto se não estivermos a falar do Agosto de 2019, que dá aquela vontade de ligar a D. Sebastião, numa de forçar o seu regresso para ver se ainda consigo fazer praia.
Quer estejamos de férias ou não, o bem-estar dos outros contagia-nos. Não somos um sistema isolado e, como tal, vivemos destas interacções que nos vão alimentando a alma. O grande senão é que vamos absorvendo tudo de bom e de mau que nos rodeia. Esta semana vi um número crescente de crianças com uma trela, num aumento proporcional ao grau de permissividade parental. Só não fiquei incrédulo porque já tinha comprado o Correio da Manhã.
Passear crianças com uma trela é aquela parte do século XXI para a qual ninguém nos preparou. Apregoaram-nos o futuro que, infantilmente, associámos a evolução. Acaba por ser pouco coerente que, numa época em que se educam os cães a andar sem trela, se deseduquem crianças para andar com ela. Em boa verdade, isto não nos devia chocar. Numa altura em que os cães têm nomes de pessoas e os pais inventam nomes para os filhos com o intuito de serem diferentes, únicos e exclusivos, não tardará termos crianças baptizadas de Pantufa, Snoopy ou Pituxa (porque Mituxa já existe).
Já imagino os pais a passearem num jardim, a discutirem quem é que comprou o arnês mais caro, enquanto apanham os dejectos com um "saco-criança". Ou os mais evoluídos a gabarem-se do conforto que é passear uma criança de fralda sem terem de parar para ela alçar a perna.
Creio que esta procura incessante pelo que é confortável resultará no uso de açaimes para controlar o ruído das crianças em certos ambientes ou para prevenir que ingiram alimentos ou objectos prejudiciais à sua saúde, tranquilizando (uma vez mais) os pais. Já para não falar no rebuçado que é dado como gratificação por ter cumprido uma regra, uma norma ou um simples pedido de um pai.
Engraçado seria a criança crescer e colocar uma trela nos progenitores. Já estou a imaginar o esticão que lhes dariam para os sentirem próximos durante as suas birras, para se sentirem protegidos da falta de atenção ou para impor a sua presença quando os sentem ausentes.
Nos tempos arcaicos e desinformados em que cresci, ninguém usava esta tecnologia topo de gama e, que me lembre, nunca urinei num vaso dentro de casa, nunca roí as almofadas nem cheirei o rabo aos meus amigos. Podem ser sinais dos tempos, acredito, mas o mais parecido que usei para me estabelecerem limites e deambular perto dos meus pais foi andar de mão dada. Durante esse processo, falávamos muito e lembro-me de aprender coisas que ainda hoje sei. Aproveitávamos enquanto saboreávamos o caminho, como se fortalecêssemos laços e cultivássemos relações.
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