A uma semana de tudo começar, tentávamos acreditar que era algo longínquo, que não teria impacto significativo nas nossas vidas, no nosso lar, nos nossos especiais. Uma semana depois de começar, tentávamos ainda fervorosamente acreditar que ia passar rápido… o medo consumia-nos, devagarinho… A realidade de todas as outras semanas seguintes, até hoje e para um futuro ainda incerto, exigiu o melhor de nós em termos pessoais e profissionais: entrega!
Podemos considerar quatro vertentes principais, neste contexto multissistémico em que se define um lar: a da gestão, a dos recursos humanos, a dos idosos, a das famílias. Estas vertentes, independentemente do contexto específico de pandemia, têm já, previamente, de estar sustentadas em alguns pilares essenciais ao bom funcionamento de uma unidade que presta serviços básicos mas essenciais, cuidados físicos e relacionais: um padrão de procedimentos de higiene e limpeza bem implementado e rotinado, uma cultura comunicacional funcional, regular e clara entre todos os seus intervenientes; uma liderança firme, mas proximal, ou seja, uma liderança efetiva mas simultaneamente afetiva; uma gestão criteriosa e rigorosa que permita a sustentabilidade da mesma face a qualquer evento de stresse, crise ou… pandemia.
O equilíbrio financeiro prévio à pandemia constituiu-se como um fator de segurança essencial. O investimento permanente e necessário, mas oneroso, em equipamentos de proteção individual e a necessidade de manter a taxa de ocupação abaixo do limite, para assegurar condições de isolamento, são dois exemplos de medidas que espelham a importância retroativa de uma gestão responsável e organizada.
No que respeita à vertente dos recursos humanos, ressalve-se que, a par de um sentido de responsabilidade individual, que tem de ser cultivado desde o primeiro dia de trabalho, esteve presente, não podemos deixar de o dizer, o sentido de sacrifício. Neste âmbito fixaram-se equipas em alternância, alargaram-se horários, redefiniram-se circuitos, implementaram-se e reforçaram-se regras, (sendo que a máxima foi sempre: máscara e mãos, máscara e mãos,…) por vezes quase diárias, conforme orientações que de todos os lados surgiam, havendo a necessidade de “formar no minuto”, pois amanhã já poderia ser tarde demais.
Os idosos, o vértice mais sensível. A ambivalência é permanente: estão “presos”, mas estão salvos, estão vivos, mas estão mais vazios… de calor. Proibição de visitas ou, se possíveis, altamente condicionadas, divisão de espaços de utilização diária, suspensão de atividades coletivas (tão aprazíveis nestes contextos), proibição de saídas de lazer ao exterior, cumprimento de períodos de quarentena, impossibilidade de serem acompanhados ao serviço de urgência, etc. Quanto vale o peso da armadura que sobre eles colocámos? Alguns dirão que vale tudo, pela defesa da Vida, outros talvez que não vale nada, por não se deixar viver!
No que concerne às famílias, desde o primeiro momento constituíram-se importante fonte de perseverança para os seus “cá dentro” e para a equipa que os cuida. O fator confiança, que brota dos pilares essenciais anteriormente referidos, permitiu como que acrescentar ao contrato de prestação de serviços, com a serenidade desejada nesta vivência pandémica, as “cláusulas” do distanciamento, da ausência de toque, da impossibilidade de partilha de datas significativas, entre outros.
Neste todo assumiu-se ainda como essencial a ligação permanente e atenta com as entidades e autoridades reguladoras e orientadoras (segurança social, delegação de saúde pública, município, proteção civil, exército), no sentido do reforço das normas e procedimentos, formação e aconselhamento. O processo de vacinação foi essencial para a diminuição da possibilidade de proliferação de doença grave e consequentemente para o aumento do nosso sentimento de segurança.
Ainda a lidar com a pandemia no lar, sabemos hoje que estamos mais capacitados, mais exigentes e mais atentos ao Outro. Ganhamos a evidência de que, quanto maior o desafio, mais nos propomos a vencê-lo: trabalhamos mais, estudamos mais, lutamos muito, muito mais. Recebemos da geração que cuidamos o exemplo da aceitação resiliente, desejamos deixar à geração que nos segue o exemplo da persistência e da coragem.
Um artigo de Liliana Araújo, diretora técnica do Solar das Camélias da Rede Círculo de Mestres.
O Círculo de Mestres é uma rede de residências sénior que procura promover a qualidade de vida dos seus utentes, oferecendo tranquilidade, bem-estar e o desenvolvimento físico e intelectual das pessoas. Ainda em expansão, conta atualmente com dois lares no distrito de Aveiro: o lar Solar das Camélias, que opera em Albergaria-a-Velha, e o lar Casa do Sol Poente, em Requeixo. Aposta num conceito diferenciador de mobilidade sénior entre campo, praia e cidade, que permite aos seus utentes serem itinerantes em função das suas necessidades pessoais e de vida.
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