Não é que tenha algum problema com isso, não. É uma questão de hábito e o hábito faz o monge. Se calhar começo mesmo por aqui. Disseram-me esta semana que os padres tiram férias e que recebem um ordenado. Claro que só não fui confirmar essa informação, porque a mim não me pagariam essas horas extra.
Percebo que um padre tenha férias, eu é que não sou desse tempo, pelo que não estava habituado a essa ideia. Deus é a favor do direito dos trabalhadores porque, ao que se consta, Ele não tira férias mas dá esse direito aos seus colaboradores.
Deus só descansa ao domingo porque é um dia calmo. Mas está de chamada, caso haja algum problema de maior. O que é raro, quando muito há um papa-reformas que avaria ou uma fila de trânsito pela concentração de idosos que vão em romaria para a frente do mar, ela tricotar e ele dormir com o jornal ao colo, depois de ter ido à mala beber uma mini retirada de uma arca azul.
Em boa verdade, desconfio que Deus goze de umas folgas para compensar os dias em que é chamado ao serviço ao domingo. Isso justifica a eleição do Trump, o nascimento do André Ventura ou o pénis do Castelo-Branco. Leva-me a pensar que, até para morrer seja preciso sorte, dependendo de quem está ao serviço.
Os padres merecem tudo. Isto porque, vendo bem, é uma profissão de desgaste rápido: têm de realizar a cópula às escondidas, encobrir a família e ir ao tribunal prestar declarações pelos escândalos. Conciliar tudo isto com o horário laboral é milagre.
Merecem cada cêntimo que se paga pelos casamentos, missas encomendadas, batizados e comunhões ensaiadas. Esse dinheiro é todo canalizado para o lote de terreno que estamos a comprar no céu e se, em Lisboa, um T0 está a preços exorbitantes sem sabermos o dia da nossa morte, parece-me que o que pagamos por momentos religiosos seja irrisório quando comparado com toda a eternidade.
Acho tudo bem no mundo, a sério (também porque me confesso, o que me dá a liberdade de dizer o que quero porque depois me confesso outra vez).
Lembro-me de ser mais novo e competirmos pecados, sem saber que assim já estávamos a pecar. Confessava que não fazia a cama ou que não ajudava os meus pais a arrumar a mesa. Rezava umas Avé-Marias e uns Pais Nossos e chegava a casa e a cama continuava por fazer e a mesa por arrumar.
Quando íamos confessar-nos em grupo, competíamos quem é que ficava a rezar mais e quem ficava a rezar menos, para percebermos quem é que era mais ou menos pecador. Levantava-me e, antes de sair, se o meu amigo ainda ficava a rezar, pensava para dentro "chupa pecador!" enquanto olhava para ele de soslaio e me benzia com o dedo do meio, pecando uma vez mais.
O problema é que há algumas incongruências que não abonam a favor do clero. Lembro-me de me terem pedido para rezar o terço e acabei por rezá-lo todo. Já para não falar que dizem "Ó Maria concebida sem pecado" e depois anda tudo a comer o Corpo de Cristo.
Para quem apela à verdade, também não me parece que fique bem que a missa do sétimo dia raramente calhe ao sétimo dia. É muitas vezes ao sétimo dia mais três do funeral e mais quatro do falecimento da pessoa em causa. Nada contra, atenção. É só porque assim não me consigo orientar e posso chegar lá e estar a homenagear a pessoa errada, faltando à certa.
Vemo-nos de hoje a oito dias. Agora lembrem-se de também levar esta expressão à letra e apareçam aqui um dia depois.
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