O estudo, promovido pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), mostrou que dos 105 inquiridos, metade dos quais trabalhou com doentes infetados com covid-19, 75% tiveram pelo menos dificuldade em adormecer e 85% acordaram frequentemente com a sensação de um sono não reparador.
Os profissionais de saúde questionados não tinham qualquer patologia prévia relacionada com o sono e não faziam medicação para induzir o sono.
"Os profissionais de saúde claramente foram afetados também durante a pandemia", salientou, em declarações à agência Lusa, a coordenadora da Comissão de Trabalho das Patologias do Sono da SPP, Susana Sousa.
A pneumologista referiu que estudos internacionais chegaram às mesmas conclusões e são um indicador do impacto da pandemia na qualidade do sono.
Susana Sousa dá o exemplo de uma investigação publicada pela entidade homóloga da SPP no Reino Unido, onde é revelado que "três quartos da população sofreram pelo menos alguma alteração do seu sono e aumentaram os pedidos de consulta de insónia", em linha com o que se verifica em Espanha ou Itália.
A médica mencionou "os disruptores" para esta prevalência durante a pandemia, como o receio da doença ou "o impacto económico". Susana Sousa elencou ainda as novas rotinas, as alterações de horários, mais tempo de ecrã à noite ou o aumento do consumo de tóxicos e de fármacos.
A alteração dos hábitos de sono é um dos problemas invocados pela pneumologista.
"Temos imensas famílias a trabalhar em casa com as crianças. Para as acompanharem nas aulas ´online`, só conseguem trabalhar à noite e o que fica privado é o sono", vincou a médica.
A dificuldade em adormecer ou os despertares noturnos, que diminuem o sono profundo, têm consequências, como o aumento da irritabilidade e da taxa de incidência de doenças cardiovasculares, a diminuição da atenção, da concentração e do rendimento, uma maior probabilidade de acidentes de trabalho ou de acidentes de viação, devido à sonolência excessiva, enumerou Susana Sousa.
A ansiedade e a depressão "são uma consequência e uma causa" verificadas nas perturbações do sono.
"Quando existe uma patologia do sono, tratamo-la, e com a normalização do sono acabamos por ter a ansiedade também mais controlada", explicou a representante da SPP.
Uma alimentação equilibrada e exercício regular são medidas de uma boa higiene do sono, assim como evitar os ecrãs à noite, ter o quarto sem luz nem ruídos, deitar e levantar às mesmas horas ou não levar preocupações para a cama.
A propósito do Dia Mundial do Sono, que se assinala na sexta-feira, Susana Sousa frisou que a pandemia pode ser "uma janela de oportunidade para reequacionarmos" comportamentos e "adotarmos estilos de vida mais saudáveis".
Em teletrabalho, substituir o tempo que se perdia no trânsito por uma caminhada, ou evitar a ´fast food` e as refeições "à pressa" são duas sugestões da coordenadora da Comissão de Trabalho das Patologias do Sono.
"Este período pode ser de reflexão. Aproveitarmos para olhar para o nosso sono como um dos pilares mais importantes para a vida saudável", disse Susana Sousa, segundo a qual "não é dada a importância necessária ao sono", essencial para reforçar a imunidade.
A pneumologista preconiza que a pandemia, e estar mais tempo em casa, seja utilizada para a população "estar mais alerta" para o próprio sono e o de familiares, de forma a "tentar identificar mais precocemente algumas doenças que já possam existir e a que não se deu importância".
"Os sintomas vão-se instalando de uma forma tão progressiva que às tantas a pessoa acha que está cansada porque é da idade, ressona porque é normal. Não é normal", alertou Susana Sousa.
A médica explicou que, em média, deve dormir-se sete a oito horas, mas a duração é "meramente indicativa", uma vez que para sentir que repousou há quem precise de muitas horas e quem precise de poucas.
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