“Portugal tem gerações e décadas de atraso relativamente às metas e boas práticas europeias. A associação tem reforçado a mensagem perante o poder político e executivo de que esta é uma matéria que não pode sofrer de inação, de hesitações ou de inércia”, afirmou à agência Lusa o presidente da Associação, Duarte Soares.
O estudo divulgado na quarta-feira à noite pela The Lancet Global Health indica que o número de pessoas que morrem com necessidades de cuidados paliativos deve quase duplicar nas próximas quatro décadas. Até 2060, estima-se que 48 milhões de pessoas a cada ano (quase metade de todas as mortes no mundo) morrerão com sérios sofrimentos relacionados com a saúde, um aumento de 87% em relação a 2016.
Duarte Soares considera que o estudo vem reforçar a mensagem da urgência de se tomarem medidas: “A mensagem é clara: mais doentes com maior idade, maior comorbilidade, maior grau de dependência e de sofrimento. Vemos um quadro catastrófico para o futuro, se nada for feito”.
O presidente da associação lamenta que a campanha para as eleições europeias tenha dedicado “zero minutos” aos cuidados paliativos e à transformação demográfica.
“Deixa-nos perplexos e preocupados. Um dos maiores desafios clínicos e sociais nem sequer é abordado por nenhuma força política”, indicou à Lusa.
O estudo publicado na The Lancet Global Health teve a participação de duas investigadoras portugueses, que reconhecem que a realidade em Portugal se enquadra nos resultados do estudo.
Maja Brito, investigadora do King's College London e da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, recorda que o estudo não acedeu a dados de cada país de forma individual, mas analisou países em desenvolvimento e também países desenvolvidos ou de alto rendimento, onde se enquadra Portugal, que tem ainda um vincado envelhecimento da população.
“Portugal é um país extremamente envelhecido e projeta-se que será o segundo país mais envelhecido do mundo em 2050. Nos dados do estudo consigo identificar o padrão de Portugal”, declarou Maja Brito à agência Lusa.
A investigadora salienta que o estudo aponta para um aumento de mortes sem acesso a cuidados paliativos sobretudo nos casos de cancro e de demências.
Maja Brito manifestou preocupação sobretudo com a falta de preparação dos serviços para os casos de demência, que são os que terão “um crescimento mais rápido”.
“É preciso aumentar o número de respostas e preparar os serviços para o alívio do sofrimento”, indicou.
Bárbara Gomes, a outra investigadora portuguesa a participar no estudo, entende também que “o padrão português” se reflete na análise.
“Há resultados transportáveis para Portugal e talvez até de forma mais acentuada, porque Portugal é dos países mais envelhecidos do mundo, o que permitirá dizer que a escala dos problemas seja ainda maior”, comentou à agência Lusa a investigadora do King's College e da Faculdade de Medicina de Coimbra.
A investigadora salienta igualmente o “aumento exponencial” de casos de demência, com o estudo a apontar para a morte de seis milhões de pessoas em sofrimento por ano, até 2060.
O estudo estima que, no caso do cancro, morram 16 milhões de pessoas por ano em sofrimento até 2060, o que significa um aumento de 109% entre 2016 e 2060.
Contudo, os casos de demência, apesar de menores em número, são os que mais aumentam: seis milhões de mortes com sofrimento associado por cada ano até 2060, o que significa quatro vezes mais quando comparado 2016 com a projeção de 2016.
Em termos globais, as mortes com sofrimento aumentam em todas as regiões do mundo, mas a maior proporção vai para os países em desenvolvimento. Ainda assim, nos países desenvolvidos, três milhões de pessoas morrerão a mais por ano até 2060, representando um crescimento de 57% face a 2016.
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