João Taborda Barata lidera uma equipa de investigadores portugueses que realizou um trabalho, publicado no jornal científico Oncogene, que poderá ajudar a desenvolver uma terapêutica alternativa para um tipo de leucemia frequente nas crianças. «Concluímos que uma proteína, denominada CHK1, está aumentada e hiperativada na leucemia linfoblástica aguda de células T (LLA-T), viabilizando a proliferação de células tumorais», explica o diretor da Unidade de Biologia do Cancro do Instituto de Medicina Molecular e docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

Este cancro sanguíneo é caracterizado por um aumento descontrolado do número de linfócitos T, células do sistema imunitário responsáveis por reconhecer especificamente e neutralizar agentes que causam infeção. São produzidas na medula óssea e encontram-se na corrente sanguínea (glóbulos brancos). É particularmente comum em crianças, mas é um tipo de cancro raro. A incidência é de um caso por 50 mil habitantes, tanto na europa como nos estados unidos da américa. A CHK1 «é, por isso, um alvo molecular para uma potencial intervenção terapêutica».

Como atua essa proteína?

«Curiosamente, opera como uma espécie de travão na multiplicação das células, mas ajuda as células leucémicas precisamente por causa disso. Se inibirmos a CHK1, as células tumorais tornam-se tão nervosas, aquilo a que chamamos stresse replicativo, que eventualmente se suicidam», sublinha o responsável. Este stresse replicativo é um dano que ocorre quando as células estão a copiar o seu material genético durante o processo de multiplicação celular. Dentro de certos limites, pode contribuir para a progressão tumoral. Quando em excesso, induz morte celular.

Como chegaram a essa conclusão?

O processo foi complexo. «Usámos um composto farmacológico para inibir a CHK1 e descobrimos que induzia a morte das células LLA-T sem afetar as células T normais. Observámos que o uso deste composto interfere na proliferação de células leucémicas e tem um efeito disruptivo no seu ciclo de vida, reduzindo o desenvolvimento da doença em modelos pré-clínicos», revela.

Por que é importante?

«Apesar deste tipo de leucemia ter uma elevada taxa de cura nas crianças, muitos doentes acabam por recidivar e as terapêuticas atuais têm efeitos secundários substanciais, nomeadamente um atraso cognitivo e de crescimento, problemas endócrinos, entre muitos outros», sublinha o diretor da Unidade de Biologia do Cancro do Instituto de Medicina Molecular e docente da Faculdade de Medicina da Universidadede Lisboa.

Texto: Rita Miguel com João Taborda Barata (diretor da Unidade de Biologia do Cancro do Instituto de Medicina Molecular e docente da Faculdade de Medicina da Universidadede Lisboa)