O que é a lombalgia?

A lombalgia é comumente denominada “dor nas costas” e é uma das condições de dor crónica mais comuns no mundo e muitas vezes desvalorizada. É ainda a principal queixa na procura de consulta de 0rtopedia.

A lombalgia ou raquialgia lombar refere-se à dor persistente na região lombar inferior que se localiza na região mais baixa da coluna, perto da bacia, e que pode ou não irradiar para os membros inferiores.

É classificada como aguda quando tem uma duração até quatro a seis semanas e como crónica quando persiste por 12 semanas ou mais.

Quais são os sintomas típicos?

A lombalgia manifesta-se como dor, desconforto ou tensão muscular nas costas. Esta varia muito de pessoa para pessoa e na sua intensidade. A lombalgia pode variar entre ligeira a severa, ter uma frequência constante ou intermitente, por vezes súbita, e corresponder a uma dor tipo “facada” ou “choque elétrico”. Outros sintomas possíveis que são importantes para aferir a gravidade de cada caso são a rigidez, dor irradiada para as nádegas, virilhas ou pernas, ciática, adormecimento / formigueiros ou alterações da força e sensibilidade.

Os casos mais preocupantes são aqueles em que os sintomas não aliviam ao fim de três meses, os que não respondem ao tratamento instituído (medicação, calor húmido e fisioterapia) e aqueles que ocorrem em doentes com antecedentes de doença neoplásica.

Quais as causas

A lombalgia pode surgir devido a múltiplas causas, estando relacionada com características individuais (por exemplo o peso, doenças reumatismais hereditárias) condições de trabalho, determinadas tarefas manuais, estilo de vida (prática ou não de exercício físico) e fatores psicológicos.

Muitas vezes surge como resultado de um acidente ou realização de um movimento ou levantamento de algo pesado, a chamada lombalgia de esforço. Contudo, na maioria dos casos crónicos está relacionada com as alterações que ocorrem na coluna à medida que envelhecemos.

Qual o impacto da lombalgia no dia a dia?

Muitos dos doentes com lombalgia recuperam da dor, mas a incapacidade que é resultado dessa dor conduz, muitas vezes, a uma limitação funcional. Esta tem um impacto negativo nos doentes que vai muito além da dor física, uma vez que provoca sequelas psicológicas, isolamento, incapacidade, absentismo e perda de qualidade de vida. Existindo um sério impacto na qualidade de vida destes indivíduos, a dor nas costas apresenta-se como uma das razões mais comuns para as pessoas consultarem um médico ou perderem dias de trabalho ou de lazer.

Como se trata?

O tratamento da lombalgia depende da causa e tem como objetivo principal o alívio da dor. Com esse propósito, os analgésicos, anti-inflamatórios e/ou relaxantes musculares podem ser úteis, devendo ser selecionados e prescritos pelo médico em função de cada caso. A fisioterapia, incluindo aplicação de calor, massagem, ultrassons ou electroestimulação pode ser, também, uma opção viável. Alguns exercícios de alongamento, levantamento de pesos ou cardiovasculares ajudam a recuperar a mobilidade e a reforçar os músculos lombares, o que ajuda a aliviar a dor. Determinados doentes podem beneficiar de intervenções minimamente invasivas como infiltrações articulares, bloqueios nervosos ou radiofrequência. Em alguns casos específicos, a cirurgia poderá ser indicada, devendo ser ponderada nos casos de alterações neurológicas (alteração da força muscular ou sensibilidade) ou por persistente de queixas seis meses a um ano após o início dos sintomas sem tratamento eficaz.

Como se previne?

A prevenção é um aspeto primordial na abordagem terapêutica da lombalgia. A estratégia preventiva chave é a limitação da exposição aos fatores de risco, passando por praticar exercício físico regularmente, combinando treino cardiovascular com reforço da musculatura postural e alongamentos, manter um peso saudável e uma alimentação equilibrada e nutritiva, ter cuidados com a postura, em pé, sentado ou ao levantar objetos, utilizar sapatos confortáveis e evitar substâncias como álcool e tabagismo.

Há pessoas em maior risco? É mais prevalente em determinados grupos populacionais? Quais?

Apesar de a lombalgia poder surgir em qualquer pessoa por diversas causas, existem fatores que aumentam o risco de desenvolvimento desta condição. São exemplos disso: os fatores demográficos, como a idade entre os 30 e 60 anos; o género feminino, sobretudo em idades mais avançadas; o nível socioeconómico e de instrução mais baixos; fatores de saúde geral, como o índice de massa corporal aumentado (excesso de peso e obesidade) e tabagismo; fatores ocupacionais, como atividade laboral fisicamente violenta e sedentarismo laboral; e, ainda, fatores psicológicos, como a depressão, stress e ansiedade.

As crianças também podem sofrer de lombalgia?

Sim, as crianças também podem desenvolver lombalgia, principalmente as crianças em idade escolar devido à sobrecarga de peso nas mochilas escolares que pode forçar as costas alterando a postura e causar fadiga muscular. 

A má-postura na infância pode ser um fator de risco na idade adulta?

A má postura na infância e/ou adolescência pode levar ao desenvolvimento de lombalgia na idade adulta, uma vez que pode causar deformidades na região das costas que mais tarde se pode tornar em algo mais grave e persistente como a lombalgia.

As dores de costas têm cura?

Felizmente as situações de lombalgia aguda são habitualmente autolimitadas, não necessitando de tratamento específico, podendo ter cura, dependendo da origem da dor. No entanto, nos casos crónicos, e de acordo com o estudo “Chronic Pain Care - Prevalência e Caraterização da Dor Crónica nos Cuidados de Saúde Primários”, promovido pela Grünenthal e levado a cabo por profissionais de saúde em contexto de consulta nas unidades de saúde familiar das Administrações Regionais de Saúde (ARS) do Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo, a maioria dos médicos e dos doentes diz não ter uma expectativa temporal quanto à resolução da dor, sendo que a lombalgia é a patologia mais frequente entre os doentes com dor crónica.

Desta forma, quando a lombalgia passa à forma crónica, o doente deve ser acompanhado para obter um diagnóstico correto e um tratamento adequado que lhe permita controlar e aliviar a dor, na tentativa de retomar sem limitação as suas atividades de vida diária.

As respostas são do médico André Simões Carvalho, ortopedista no Centro Hospitalar Tondela-Viseu EPE, responde a 10 perguntas comuns sobre dores de costas.