HealthNews (HN) – De que tipo de dispositivo estamos a falar?
Patrícia Strubing Gomes (PSG) – A inovação que a Quilaban se propõe trazer na área da diabetes será um novo sistema de perfusão automático de insulina que permite às pessoas com diabetes tipo 1 uma gestão simplificada. Daí o slogan de apresentação do conceito ser “simplificar a diabetes”. Esta inovação irá permitir aos utentes com diabetes tipo 1 a possibilidade de gerir de uma forma mais fácil e mais eficiente o controlo dos níveis de glicemia ao longo das 24 horas do dia. É uma tecnologia que, utilizando um algoritmo de cálculo, vai permitir mimetizar as funções do pâncreas pela administração de insulina nas quantidades adequadas ao controlo rigoroso dos níveis de glicemia de cada doente.
HN – Este sistema pode ser utilizado de forma autónoma ou com monitorização contínua da glicemia?
PSG – A essência do nosso equipamento é uma bomba que permite a administração de insulina, ou seja, é um dispositivo médico que está aplicado numa zona do corpo e que permite, através de uma cânula, a administração subcutânea de insulina. Uma das mais-valias do nosso sistema é a integração com um dispositivo de monitorização contínua de glicemia. Ou seja, o Sistema TouchCare Nano é constituído por dois elementos, a bomba de insulina e o CGM (continuous glucose monitor), e é precisamente esta conjugação que permite antecipar as necessidades de insulina e ajustar automaticamente a sua administração, de acordo com a tendência dos valores de glicemia monitorizados continuamente no sensor, evitando hipoglicemias e corrigindo hiperglicemias.
HN – É aí que reside inovação?
PSG – Também aqui, mas não só. Nós temos algumas características que são diferenciadoras e únicas nesta tipologia de dispositivos médicos, nomeadamente a dimensão do próprio Sistema TouchCare Nano. “Nano” precisamente pela dimensão que o mesmo tem. São quatro centímetros por três (quarenta milímetros por trinta e um), é uma dimensão muito reduzida face ao que existe no mercado. Estando aplicado na pele, também o peso é importante, para possibilitar a utilização e dar conforto ao utilizador, e este dispositivo é muito leve – 13g é o peso do reservatório mais a base da bomba. Destaco também o facto de ser sem fios, ao contrário do que acontece com as atuais bombas de insulina. Por outro lado, a compatibilidade com ambientes aquáticos permite uma utilização muito mais livre, muito mais simples, facilitando o dia-a-dia do seu utilizador. Ao contrário de outros equipamentos, temos também a vantagem de poder ser colocado em várias zonas do corpo, ou seja, parte exterior da coxa, no braço, no abdómen, na parte inferior das costas e nádegas. Permite, de acordo também com o tipo de corpo e a idade da pessoa que está a utilizar, adaptar a uma zona mais confortável e que não limite nem nos movimentos nem a utilização diária.
As mais-valias são muitas. Também o facto de ter, como estávamos a dizer, uma possibilidade de utilização automática ou manual, que pode ser feita em alternância se for caso disso, permite que exista uma autonomia muito maior por parte do utilizador. Pode estar com o sistema closed loop, que é um sistema fechado entre o CGM e a bomba para monitorização automática do sistema, ou ser utilizado em modo manual, permitindo ao utilizador um ajuste direto da administração de insulina.
Paula Nunes (PN) – Acrescentar aqui também outra vantagem do nosso sistema: pode ser controlado por PDM (Personal Diabetes Manager, um comando deste sistema) ou através de uma aplicação (disponível para IOs e Android). Portanto, temos a possibilidade de controlar o Sistema TouchCare Nano através do telemóvel ou, até, monitorizar os níveis de glicemia através do Apple watch.
PSG – Outro ponto tem a ver com a autonomia de utilização da bomba no que diz respeito à bateria. Não é necessário carregar, ela tem uma pilha já integrada na parte do reservatório. E uma última vantagem, que eu diria que se calhar é aquela que mais destacamos no nosso equipamento, é o facto de ser possível utilizá-lo a partir dos dois anos de idade, o que ainda torna mais relevante a questão da dimensão da bomba. Também aqui acreditamos que acrescentamos muito valor e damos um passo muito grande na evolução tecnológica do cuidado e do acompanhamento das pessoas com diabetes.
HN – Como decorreu o processo de criação? Quais eram os principais objetivos e como é que se organizaram para os concretizar?
PSG – A Quilaban é uma empresa nacional e que existe há 50 anos. Atualmente, tem como um dos seus principais desígnios a introdução de inovação no mercado. Em paralelo, a génese da Quilaban está muito relacionada com o diagnóstico e, em particular, com soluções na área dos cuidados na diabetes. Temos uma marca que integra vários conceitos: a Quilaban Diabetes, onde há mais de 15 anos desenvolvemos e apresentamos ao mercado soluções na área do acompanhamento e monitorização da glicemia para pessoas com diabetes tipo 1 e tipo 2. Hoje, a inovação está presente no nosso dia-a-dia, e as empresas não devem ser alheias a esse facto, portanto a Quilaban, há cerca de três anos, decidiu evoluir e encontrar soluções inovadoras, que complementassem a resposta que já tínhamos na monitorização da glicemia. Fomos avaliando diferentes soluções, por exemplo a nível dos CGM. A Quilaban procurou uma solução que incluísse o monitor contínuo de glicemia. Através de fóruns internacionais, fomos procurando algumas soluções que pudessem simplificar de outras formas a vida da pessoa com diabetes, nomeadamente com a introdução de tecnologia. Encontrámos no mercado algo que já está presente em alguns países da Europa: esta solução da Medtrum, que tem desenvolvido diferentes dispositivos ao nível das bombas de insulina e que chegou agora a este modelo, que é o Sistema TouchCare Nano, também designado A8.
É o primeiro momento desta era de inovação que a Quilaban pretende introduzir na área da diabetes, que se pretende que não fique por aqui, e que traga outras soluções para o mercado que deem uma resposta “360º” às dificuldades da pessoa com diabetes, sempre com o propósito de simplificar a sua vida.
HN – Estamos a falar da totalidade de pessoas com diabetes tipo 1? Quem poderá utilizar o novo dispositivo?
PN – No final do ano passado, saiu a nova proposta de acesso a estas bombas de insulina, feita por um núcleo de instituições e personalidades que envolveu o Infarmed, a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), algumas entidades relevantes do Ministério da Saúde, e também outras entidades relevantes nesta proposta para melhoria de vida da pessoa que tem diabetes. Infelizmente, não temos dados concretos de quantas pessoas em Portugal têm diabetes tipo 1. Temos uma estimativa de cerca de 30 mil pessoas, em que aproximadamente 15 mil terão perfil para colocar este tipo de bombas automáticas.
HN – Para a Quilaban, quais são os principais desafios e oportunidades na área da diabetes?
PN – Neste momento, temos como desígnio fundamental, também, a literacia em saúde. Temos um projeto de formação onde partilhamos informação com profissionais de saúde e com a população em geral e também nos comprometemos a veicular toda a informação necessária para que o utente esteja informado sobre as nossas soluções disponíveis no mercado, bem como aquelas que surgem por outras vias; para que, através do conhecimento profundo sobre as doenças e sobre as soluções, o utente possa tomar as decisões de forma fundamentada e ter acesso aos melhores recursos.
Uma das preocupações da Quilaban é ter uma equipa dotada de competências e de formação técnica que nos permita disponibilizar esta formação a profissionais de saúde e a utentes. Cabe-nos a nós conseguir criar esse ambiente propício à utilização correta e competente destes equipamentos. Aquilo que nos move é o resultado final que conseguimos obter com a introdução destas soluções no mercado; a melhoria da qualidade de vida e a simplificação da vida da pessoa com diabetes.
HN – Em que etapa se encontra o novo produto?
PSG – A solução já se encontra registada e comercializada noutros países da Europa, nomeadamente em França, Itália e Reino Unido. Em Portugal, o Infarmed encontra-se a avaliação a solução, tendo nós a expectativa de que, tão breve quanto possível, possamos disponibilizá-la à população, para melhoria dos cuidados da pessoa com diabetes tipo 1.
Entretanto, lembrei-me de um fator que pode ser importante para caracterizar o nosso produto. Como a Paula mencionou, nós temos um PDM que permite o controlo e a monitorização do nosso dispositivo médico, mas também a possibilidade de termos isso através de apps que estão disponíveis para o utilizador e têm várias vertentes. Elas foram desenvolvidas a pensar no utente que utiliza o nosso dispositivo, existindo aplicações específicas para cada uma dessas utilizações: por exemplo, para o cuidador, no caso de ser uma criança que precisa de ter uma supervisão e um acompanhamento mais próximo dos valores que estão a ser registados, e para o profissional de saúde, que pode de uma forma concentrada ter acesso aos resultados dos vários utentes que acompanha. Portanto, estas aplicações facilitam o registo, a monitorização e o acompanhamento dos utentes, dos cuidadores e dos profissionais de saúde.
PN – Sabemos que deixa as famílias cansadas e em stress não saber como é que as crianças estão, não só no período em que estão longe, mas também durante a noite. Uma das coisas que esta aplicação pode fazer é dar alertas aos pais, que não têm de estar na mesma divisão. Consegue dar um alerta durante a noite, por exemplo, se a criança tiver em hipoglicemia, e agir de imediato. Portanto, facilita também na gestão com as famílias.
HN – Isso tem a ver com o tal algoritmo preditivo?
PN – Aquilo que o algoritmo vai fazer, no fundo, é evitar que existam as hipoglicemias ou hiperglicemias, ajustando a administração da insulina basal. Ou seja, o que o algoritmo vai fazer é ajustar a insulina basal durante o dia de forma que a glicemia se mantenha o mais estável possível.
PSG – Temos previsto implementar algumas ferramentas no mercado: vão desde uma equipa de formação, que vai estar nos vários centros de tratamento propostos com profissionais e utentes, até plataformas de e-learning ou webinars onde os próprios utentes poderão aceder a informação compreensível. Por último, teremos também uma linha de apoio 24/7 que utentes, cuidadores e profissionais de saúde poderão contactar para esclarecer dúvidas.
Entrevista de Rita Antunes
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