As guidelines nutricionais indicam que a quantidade de hidratos de carbono ingerida pelas pessoas com diabetes tipo 1 e tipo 2 deve ser moderada, sendo que o consumo de hidratos de carbono refinados e hidratos de carbono adicionados deve ser evitado. É neste sentido que a dieta low carb, baseada numa ingestão reduzida de hidratos de carbono, até 130 gramas por dia, tem vindo a ganhar alguma importância na alimentação de pessoas com diabetes. Esta posição vem contrariar as recomendações médicas existentes durante muitos anos, que defendiam que a ingestão de hidratos de carbono existente na alimentação de uma pessoa com Diabetes deveria ser igual à de uma pessoa saudável.
Quem o afirma é Vera Ruivo Dias, nutricionista e pessoa com diabetes mellitus tipo 1 desde os 17 anos. "Temos verificado que algumas pessoas têm obtido muitos benefícios no controlo da glicemia e pode ser uma alternativa, quer a nível de controlo da diabetes, quer a nível do controlo de peso. Não digo para as pessoas com diabetes fazerem uma alimentação exclusiva low carb, mas pelo menos algumas refeições que tenham mais dificuldade em controlar o tipo de alimentos a ingerir, como são exemplo as refeições ao final da tarde ou à hora de almoço. Este tipo de alimentação não deve ser extremo e só deve ser realizado no caso do seu médico concordar e de não existirem conta-indicações", explica a nutricionista numa nota enviada ao SAPO.
A dieta low carb tem como base a ingestão de uma maior quantidade de gordura e proteína, restringindo a quantidade de hidratos de carbono, com o objetivo de moderar os picos de glicemia. Vera Ruivo Dias recorda que a glicemia aumenta com a ingestão de hidratos de carbono sendo que a sua redução tornará os níveis de glicemia mais estáveis e diminuindo a quantidade necessária de insulina diária, com consequente menor variabilidade glicémica.
Alimentação equilibrada e polifraccionada é a melhor opção
Apesar da dieta low carb ser uma alternativa para um melhor controlo da doença, os hidratos de carbono não devem ser completamente excluídos da alimentação de uma pessoa com diabetes. Vera Ruivo Dias salienta que se deve fazer uma alimentação com o máximo de fibra possível, como optar por opções integrais (por exemplo, no caso das massas e arroz), favorecendo a ingestão de fruta e leguminosas, por terem maior quantidade de fibra e, consequentemente, ter um menor pico de glicemia no processo de digestão.
"A nossa alimentação deve ser saudável e equilibrada. Devemos fazer uma dieta com o mínimo de alimentos processados e com o máximo de fibra, fazendo sempre uma alimentação polifracionada. Não devemos, tal como qualquer pessoa saudável, comer quantidades muito exacerbadas de alimentos, sendo que devemos privilegiar o consumo de legumes, leguminosas e também frutas", acrescenta Vera Ruivo Dias.
Em 2016 a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) definiu que seria o Ano Internacional das Leguminosas, salientando a importância do seu consumo: "Ao monitorizarmos a variação da glicemia quando ingerimos a mesma quantidade de hidratos de carbono provenientes de uma batata (mesmo que seja de batata doce), comparativamente com o consumo de uma leguminosa (por exemplo, a ervilha), verificamos que o pico de glicemia é muito menor quando ingerimos leguminosas", explica Vera Ruivo Dias.
Apps de monitorização da diabetes
A monitorização e o controlo da alimentação são essenciais na diabetes. Existem já aplicações de monitorização da doença que surgem como complemento no controlo da doença e até no apoio a uma alimentação mais saudável.
Vera Ruivo Dias refere que "existem muitas pessoas que preferem alienar-se ao facto de terem esta doença e mantêm persistentemente valores de glicemia muito elevados, o que pode ter consequências nefastas na saúde, as complicações da diabetes. As apps de monitorização conseguem ajudar a controlar a diabetes, ao permitirem conhecer a variação da glicemia a cada momento e ajudarem na minimização das causas que lhe são inerentes".
Do ponto de vista do profissional médico, estas apps apoiam a análise da evolução do doente, pois possibilitam o registo fotográfico dos alimentos ingeridos em todas as refeições, o que permite ao nutricionista estabelecer uma correlação entre a ingestão de determinados alimentos e o seu impacto direto na variação da glicemia. "Isto permite fazer uma educação com o utente acerca da quantidade e tipo de alimentos ingeridos e, assim, promover uma melhor compreensão, controlo e aceitação da doença", afirma Vera Ruivo Dias.
A diabetes é uma doença caracterizada pela incapacidade do organismo em produzir insulina ou de utilizá-la adequadamente provocando concentrações elevadas de glicose no sangue. Existem dois tipos principais de diabetes: a tipo 1, causada pela destruição das células do pâncreas que produzem a insulina, que se manifesta habitualmente antes dos 30 anos; e a tipo 2, que representa cerca de 90-95% de todos os casos da doença a nível mundial e que ocorre quase inteiramente em adultos, resultando da incapacidade do organismo em responder à ação da insulina. A diabetes tipo 2 pode habitualmente ser prevenida com um estilo de vida saudável.
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