"Depois de consultar especialistas em todo o mundo e rever as evidências de maneira exaustiva, decidimos que essa condição deveria ser acrescentada", disse à agência de notícias France Presse Shekhar Saxena, diretor do departamento de saúde mental e consumo de substâncias da organização Mundial de Saúde (OMS).
O "distúrbio de jogos" on-line e off-line é agrupado com os "transtornos relacionados ao uso de substâncias ou comportamentos viciantes" na 11ª edição da CID, a primeira grande revisão em quase três décadas.
A OMS anunciou em dezembro que o problema seria reconhecido como uma condição patológica. Os principais sintomas incluem "controlo deficiente" e incapacidade em parar de jogar. "A pessoa joga tanto que os outros interesses e atividades são ignorados, incluindo dormir e comer", comenta Saxena.
Sintomas devem perdurar durante um ano
Em casos extremos, os jogadores que não se conseguem distanciar de um ecrã desistem da escola, perdem empregos e ficam isolados dos amigos e família. A esmagadora maioria dos adeptos aos videojogos é jovem, muitos deles adolescentes, estima a OMS.
O comportamento sintomático deve continuar por "pelo menos um ano" antes de ser considerado perigosamente nocivo, frisa a nova classificação.
Cerca de 2,5 mil milhões de pessoas - uma em cada três no mundo - jogam algum tipo de jogo gratuito em ecrãs, especialmente em telemóveis, mas o distúrbio afeta apenas uma "pequena minoria", disse Saxena. "Não estamos a dizer que todo jogo é patológico".
A indústria dos videojogos arrecadou 108 mil milhões de dólares em todo o mundo em 2017, mais do que o dobro das bilheteiras de filmes, segundo a Superdata.
Quase 40% dessas vendas foram no leste da Ásia, especialmente na China e na Coreia do Sul. Outros mercados importantes incluem os Estados Unidos, o Reino Unido, França, Alemanha e Brasil.
Na Coreia do Sul e nos Estados Unidos já existem clínicas para tratar o vício em videojogos.
A inclusão do "distúrbio de videojogos" no catálogo revisto de doenças da OMS encontrou resistência, tanto da indústria como entre alguns especialistas."O processo da OMS carece de transparência, é profundamente defeituoso e carece de apoio científico", critica Michael Gallagher, presidente e CEO da Entertainment Software Association, em comunicado em março.
Num estudo a ser publicado no Journal of Behavioral Addictions, um grupo de 36 investigadores disse que havia evidências insuficientes para justificar a nova categorização
"Dada a gravidade da classificação diagnóstica e do seu impacto social mais amplo, pedimos aos nossos colegas da OMS para pecarem por excesso de precaução por enquanto e adiarem a formalização", escreveram num estudo que reviu a literatura académica.
O CID identifica cerca de 55.000 lesões, doenças, condições e causas de morte, e é amplamente utilizado como referência para diagnósticos e seguros de saúde.
"Isso permite-nos entender muito sobre o que faz as pessoas adoecerem e morrerem e tomar medidas para evitar o sofrimento e salvar vidas", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em comunicado.
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