A apresentadora de televisão norte-americana Oprah Winfrey e o professor universitário de Harvard, Arthur C. Brooks empreenderam um trabalho a quatro mãos com o propósito de mudar vidas, ou melhor, de transformar as dificuldades e os desafios da vida em oportunidades de crescimento. Daqui resultou o livro “Construa a Vida que Quer”, obra editada em Portugal pela Casa das Letras. O título traz uma proposta de valorização pessoal ao leitor: “como melhorar a nossa vida – em vez de esperar que o mundo exterior mude”.

Um caminho traduzido em 288 páginas de uma obra que nos confronta com diferentes desafios: aprender a gerir as emoções para que estas deixem de controlar a nossa visão e o nosso comportamento; fortalecer os laços familiares, gerindo as expectativas e criando confiança; criar e preservar amizades profundas e duradouras; desenvolver uma abordagem ao trabalho que se adapte à nossa vida e nos dê satisfação.

Ao correr das páginas do livro, Arthur e Oprah partilham a sabedoria adquirida nas suas próprias vidas e carreiras.

Da obra destacamos o excerto abaixo assinado por Oprah Winfrey.

Uma das muitas coisas que ganhei ao fazer The Oprah Winfrey Show durante vinte e cinco anos foi um lugar na primeira fila para toda a espécie de infelicidade. E quando digo de toda a espécie, refiro‑memesmo a toda. Os meus convidados incluíam pessoas destruídas por tragédias, traições ou profundas desilusões. Pessoas zangadas e pessoas que guardavam rancor. Pessoas cheias de arrependimento e culpa, vergonha e medo. Pessoas que faziam tudo o que estivesse ao seu alcance para entorpecer a sua infelicidade, mas que, mesmo assim, acordavam todos os dias infelizes.

Testemunhei também muita felicidade. Pessoas que tinham encontrado o amor e a amizade. Pessoas que usavam os seus talentos e habilidades para fazer coisas boas. Pessoas que colhiam os frutos do altruísmo e da generosidade, incluindo uma que até doou um rim a um desconhecido que conhecerarecentemente. Pessoas com um lado espiritual que trouxe um significado mais rico às suas vidas. Pessoas a quem foi dada uma segunda oportunidade.

No que diz respeito ao público, os convidados infelizes provocavam geralmente empatia; os felizes, admiração (e talvez uma pontada de inveja melancólica). E depois havia uma terceira categoria de convidados, de quem o público não sabia o que pensar, mas que o inspirava genuinamente: pessoas que tinham todas as razões para serem infelizes e, contudo, não o eram. Os copos meio cheios, que veem o lado bom, os males que vêm por bem, que fazem as proverbiais limonadas. Os Mattie Stepaneks, que é como passei a pensar neles; Mattie Stepanek era um menino que tinha uma forma rara e fatal de distrofia muscular, chamada miopatia mitocondrial disautonómica, mas conseguia encontrar paz em todas as coisas e brincar depois de cada tempestade. Escreveu poemas encantadores, era sábio muito para além da sua idade e foi o primeiro convidado de quem me tornei amiga, fora do programa. Costumava chamar‑lhe “o meu rapaz anjo”.

Sobre os autores

Arthur C. Brooks é professor de Prática de Liderança Pública na Harvard Kennedy School e de Prática de Gestão na Harvard Business School, onde lecciona cursos sobre felicidade e liderança. É o criador da popular coluna “How to Build a Life” no The Atlantic.

Ophra Winfrey estabeleceu ligações sem paralelo com pessoas de todo o mundo. Através do The Oprah Winfrey Show, a apresentadora captou a atenção de espectadores durante 25 anos. A sua filantropia e a acérrima defesa dos livros, da leitura e da educação, tornaram-na numa das figuras públicas mais respeitadas e admiradas da atualidade.

Como podia um menino com uma doença fatal ser tão feliz como o Mattie era? E o mesmo se passava com uma mãe, cheia de paz, propósito e alegria, enquanto se preparava para morrer, gravando centenas de cassetes para a filha de seis anos sobre como viver. E a mulher zimbabueana que se casou aos onze anos e foi espancada diariamente mas, em vez de ceder ao desespero, manteve a esperança, estabeleceu objetivos secretos e acabou por alcançá‑los, incluindo fazer um doutoramento.

Como é que estas pessoas conseguiam sair da cama de manhã, quanto mais ser tamanhos raios de luz? Como faziam? Nasceram assim? Haveria um segredo ou um padrão de desenvolvimento que o resto do mundo deveria conhecer? Porque acreditem, se existisse tal coisa, o mundo haveria, sem dúvida, de querer saber. Nos meus vinte e cinco anos de programa, se houve coisa que quase todas as pessoas, em todos os públicos, tinham em comum, era o desejo de ser feliz. Tal como disse antes, depois de cada programa, conversava sempre com o público e perguntava‑lhes o que mais queriam na vida. Ser feliz, diziam.  

Construa a vida que quer
Construa a vida que quer créditos: Casa das Letras

Só que, como também já disse antes, quando perguntava o que era a felicidade, de repente as pessoas já não tinham a certeza. Começavam a balbuciar e acabavam por dizer “perder x quilos” ou “ter dinheiro suficiente para pagar as contas” ou “os meus filhos, eu só quero que os meus filhos sejam felizes”. Portanto, tinham objetivos, ou desejos, mas não conseguiam formular o que era para eles a felicidade. Raramente alguém tinha uma resposta concreta.

Este livro tem a resposta, porque Arthur Brooks estudou, pesquisou e viveu a resposta. Deparei‑me pela primeira vez com o Arthur através da sua coluna na revista The Atlantic, “How to Build a Life”, “Como Construir uma Vida”. Comecei a lê‑la durante a pandemia e rapidamente se tornou algo pelo qual ansiava todas as semanas, porque era sobre tudo aquilo que sempre me importou mais: viver uma vida com propósito e significado. Então li o seu livro From Strength to Strength, um guia notável para se ser mais feliz à medida que se envelhece. Este homem estava a cantar a minha canção.

Estava claro que tinha de falar com ele. E quando o fiz, percebi imediatamente que, se ainda estivesse a fazer The Oprah Winfrey Show, estaria sempre a chamá‑lo – ele tinha algo de relevante e revelador que contribuía para quase todos os temas que discutimos. O Arthur emana um tipo de confiança e certeza sobre o significado da felicidade que é ao mesmo tempo reconfortante e galvanizante. Tem a capacidade de falar, tanto de forma geral como de forma específica, sobre as mesmas coisas de que eu falo há anos: como se transformar no seu melhor “eu”, como se tornar um ser humano melhor.

Portanto, eu soube, desde o início, que, de alguma maneira, acabaria por trabalhar com ele. Este livro é essa maneira.