"Percebia que correspondia ao que eu era", explicou à AFP este jovem suíço, que cresceu numa pequena comunidade e que nunca tinha ouvido falar de transexualidade até aos seus 20 anos.

Poucos meses depois, iniciou uma transição de género e decidiu documentar o processo nas redes sociais.

Desde conselhos aos jovens e explicações sobre as suas experiências quotidianas, nas suas contas no Instagram e no TikTok, Léon quer mostrar "uma pessoa trans que se sente confortável consigo mesmo".

"O meu conteúdo é mais do que útil, é necessário, já que não temos outras representações ou pessoas preocupadas com quem conversar perto de nós", afirma este "influencer", cuja conta no TikTok tem mais de 88 mil seguidores e milhões de visualizações.

"As pessoas agradecem-me porque, graças às minhas publicações, encontraram forças para se assumir", diz Salin.

Risco?

A transexualidade, considerada tabu durante muitos anos, agora é mais aceite em diversos países. Mas, em alguns casos, as intervenções médicas em menores de idade geram controvérsias.

No Reino Unido, o sistema público de saúde acaba de anunciar que vai deixar de prescrever bloqueadores da puberdade a menores que pretendam mudar de género.

As autoridades suecas puseram fim à terapia hormonal para menores em 2022, com poucas exceções, argumentando que é necessário ser muito "prudente" nesta idade.

Em França, um grupo de legisladores de direita acusa as redes sociais, especialmente as contas de pessoas trans, de influenciar os adolescentes e incitá-los a mudar de género.

Para Maryse Rizza, presidente da Grandir Trans (Crescer Trans), uma associação que reúne cerca de 1.300 famílias, as redes sociais podem apresentar derivas "comunitárias" entre os mais jovens devido a alguns "influencers" radicais.

Mas reitera: uma criança não se torna transexual por um efeito de "moda" nas redes sociais.

Os pais

"Não podemos esquecer que uma criança transexual é uma criança que sofre. A transição é um processo, é longo, é dirigido por médicos. E acima de tudo, é difícil", insiste.

Sigolène Couchot-Schiex, investigadora de Ciências da Educação na universidade francesa de Cergy-Pontoise, afirma que "não existe uma relação estabelecida entre as redes sociais e a transição de género num jovem".

Na verdade, acontece o contrário. Segundo estudos que realiza com alunos do ensino secundário, as redes sociais "acentuam a referência às normas de feminilidade ou masculinidade" nos jovens, por meio de humor, piadas e, às vezes, do assédio, explica esta especialista em questões de género.

As redes sociais são "positivas" para a "visibilidade" das pessoas trans e também para as famílias cujos filhos acabaram de se assumir, destaca.

Quando o filho anunciou que era um menino, há 8 anos, Maryse Rizza sentiu-se "totalmente perdida".

Graças à conta "Agressively trans" de Lexie, uma mulher transexual, "tive as respostas para as perguntas que me fazia", lembra a presidente da Grandir Trans. "Ela também ajudou-me a entrar em contato com os médicos especialistas para acompanhar o meu filho e a encontrar as palavras".