David Carreira soma e segue. Em sete anos de carreira, lançou seis álbuns. Encontra-se, neste momento, a gravar o sétimo. Focado e decidido, tem os pés assentes na terra, apesar da cabeça, essa, nunca parar. A par da carreira musical, são muitos os projetos em que está envolvido, como é o caso da marca de roupa que criou e da etiqueta de roupa interior que está a promover e que já o obrigou a perder peso. Primeira parte de uma grande entrevista.

Já vai a caminho dos oito anos de carreira. Acaba de lançar um novo single, "És só tu", em colaboração com a cantora e atriz Inês Herédia. Tem também uma nova digressão e está a preparar um disco novo. São muitas novidades…

O single novo é o primeiro single do próximo álbum, que já é o meu sétimo. Para mim, é um disco muito importante, pelo número em si e pelo conceito por detrás do álbum, que irá sendo apresentado nos próximos cinco meses, até ao lançamento.

À medida que for lançando novos singles, vai-se percebendo melhor o conceito. Eu não o quero desvendar já, mas quero que as pessoas o vão adivinhando à medida que for dando mais pistas, com novos vídeos e novas músicas…

O lançamento do disco será no fim do ano?

Sim. Neste momento, estou em estúdio a compor o álbum. As coisas estão bem encaminhadas. Ao mesmo tempo, estou a fazer a digressão de 2018…

Este disco irá marcar os próximos três a quatro anos, penso eu. Acho que, nesse período, não irei lançar mais álbuns. Vai ser um disco de trabalho para três anos. Vai servir de base às próximas digressões…

Porquê esse interregno?

Não é uma paragem. É o tempo médio de vida de um álbum. Para poder divulgar bem um trabalho, normalmente, é preciso esse tempo. Eu é que, nestes sete anos de carreira, não o fiz. São sete álbuns em sete anos. Um por ano…

Não o fiz mas sinto que, depois de já ter essa experiência destes sete anos, preciso desses três anos para o poder mostrar e para poder tocar em muitos sítios diferentes.

Ainda assim, durante esse período, poderão surgir coisas novas?

Sim, hoje, através do digital, há cada vez mais essa possibilidade de quebrar barreiras com participações com artistas e com versões em outras línguas. Sinto que este novo álbum irá também viver muito disso.

Existe alguma coisa planeada que possa revelar já?

Sim, já está planeado, mas não há, para já, muita coisa que eu possa anunciar. Lançámos agora o [single] "És só tu". Este mês ainda, vamos ter mais um ou dois singles. Atuei, no passado sábado, no Porto no Festival da Comida Continente. Foi a primeira vez que cantei essa canção ao vivo, com mais de 100.000 pessoas no Parque da Cidade…

Acaba também de lançar uma coleção de moda nova com a Ninety One Paris…

As propostas de moda da marca que David Carreira criou
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Sim, é verdade. São tantos os projetos em que estou envolvido que, por vezes, até me esqueço [de falar] de alguns deles. A Ninety One Paris é a minha marca de roupa. Lancei-a há um ano, já, mas no início nunca disse que era minha.

Limitava-me a tirar fotos como se fosse apenas uma das pessoas que gostam dela, porque eu queria que ela ganhasse o seu público, que não ficasse conhecida às minhas custas. Senti que era importante que as pessoas gostassem da marca pelo que ela é.

Porque esta marca tem coisas que não têm nada a ver comigo. A nível de moda, queria fazer coisas que não tivessem a ver com a minha digressão nem com os meus singles. Não queria ter peças [de roupa] que dissessem "És só tu", "Primeira dama" ou "In love" mas tivessem, antes, expressões como "Fashion killa" ou "Girlie" impressas.

E por que é que decidiu assumir agora que a Ninety One Paris é mais um dos muitos projetos do David Carreira?

Agora que a marca ganhou os seus admiradores e já tem a sua fan base, já o posso assumir. Acabo por desenhar coisas que gosto de vestir e também coisas que eu gostaria de ver a minha namorada a usar.

Qual é que é o seu envolvimento na criação das peças? Presumo de não perceba grande coisa de desenho de moda e ainda menos de cós e de bainhas…

Vou percebendo… Quando eu criei a primeira coleção, há um ano, havia muitas coisas das quais eu não fazia ideia. Os vetores, a impressão digital, a impressão numérica, os bordados, os centímetros que uma peça tem de ter daqui a ali, os tamanhos, os próprios tecidos… O que é que pode imprimir bem ou não… Os tingimentos…

Ao longo deste último ano, já fui começando a perceber. Há várias formas de estar vida. Tens uma forma, que também é muito boa, que é estudar. Eu não tive a capacidade de estudar design [de moda] e criação de roupa… A outra forma é trabalhar e ir aprendendo e, a nível de roupa, foi o que me aconteceu. Fui aprendendo ao longo do último ano, cometendo alguns erros...

Mas como é que é o processo criativo? Pega numa folha e começa a desenhar as peças de roupa que pretende depois pôr à venda?

Sim, é por aí… O que faço muitas vezes é que, depois [de fazer esses esboços], reúno os designers que trabalham para a marca e explico-lhes aquilo que gostava de ter na coleção em termos de cores e de padrões. Acabo por fazer alguns desenhos e depois eles, tecnicamente, desenvolvem em computador. O meu input na marca é sobretudo a este nível, mais a nível do lado criativo das peças. A parte das vendas, depois, já não é comigo…

A marca é vendida online ou pode ser adquirida em lojas?

É comercializada online e está disponível em lojas multimarca no Porto, no Algarve e, brevemente, na Madeira. Em Lisboa, esteve na Impasse apenas um dia, mas brevemente também estará disponível na capital.

Em 2012, já tinha lançado uma linha de produtos escolares em parceria com a Staples. Como é que encara estas colaborações e estas parcerias com marcas? É algo que, sobretudo lá fora, os artistas fazem cada vez mais…

Acho que, cada vez mais, faz sentido. É como a minha parceria com a Tezenis, também. Sou embaixador da marca…

Mas aí só dá a cara. Não há uma parceria efetiva em termos criativos…

Sim, aí só dou a cara. É fechar a boca, treinar muito, tirar fotos e sofrer… [risos] Nos grandes mercados, sempre se fez isso e está-se a começar a fazer em Portugal cada vez mais. Também depende dos artistas mas alguns não gostam só de fazer música e eu revejo-me nesses. Gosto de fazer outras coisas.

David Carreira não para.
Fotografia de Sérgio Santos/Tezenis

O seu pai e o seu irmão já lançaram perfumes. Um perfume é uma hipótese? Uma linha de roupa desportiva? Uma coleção de óculos de sol? Um livro autobiográfico, como o que o seu pai lançou há pouco? A que outros produtos é que gostava de ver o seu nome associado?

Normalmente, quando faço algo do género, tem de ser algo em que me reveja. Óculos de sol, por exemplo, não é uma coisa que eu use muito, porque perco-os sempre. Um perfume poderia ser algo que fosse interessante, tal como um livro, mas eu não tenho 30 anos de carreira como o meu pai. Teria, por isso, que ser outro tipo de livro…

Não sei se fotografa mas poderia ser um livro de fotografias dos bastidores das digressões…

Sim, poderia ser algo sobre os bastidores ou um livro que explicasse o conceito de um álbum. Às vezes, demoras um ano a fazer um disco e, ao longo do processo, há momentos muito difíceis e há outros que são brutais.

Há dias ótimos, em que chegas a estúdio e sai tudo em 10 minutos e há alturas em que andas uma semana para escrever uma letra e não sai nada e, depois, queres desistir. Eu acho que têm que fazer sentido mas gosto muito desse tipo de parcerias.

Fez publicidade para marcas, que é outra forma de parceria. Lembro-me, por exemplo, da que fez para a Cacharel. Também desfilou para algumas marcas de moda há uns anos. Nessa altura, via-se a fazer uma carreira no mundo da moda ou essa ideia nunca lhe passou pela cabeça?

Não, nunca. Vou ser sincero. Eu era muito novo aquando da minha passagem pelo mundo da moda. Devia ter para aí uns 16 anos. Não cantava na altura e ainda nem sequer tinha entrado nos "Morangos [com açúcar]". Fi-lo para juntar umas coroas. [risos] Na altura, eu estava a estudar e queria ser futebolista. A moda nunca foi algo que eu ambicionasse nem ambiciono ainda.

Gosto de estar atento e de saber o que é que acontece mas não me vejo como manequim. Há manequins profissionais que sabem fazer o trabalho deles como deve de ser. No meu caso, foi mais para aproveitar e para ganhar dinheiro. Eu sempre fui muito regrado na minha forma de fazer as coisas. Era estudar e futebol. A moda era apenas um hobby.

O futebol, esse, chegou mesmo a ser uma opção profissional?

Sim…

Chegou mesmo a jogar no Sporting Clube de Portugal?

Sim. Podia ter ido agora à Rússia ao [campeonato] mundial [de futebol]…

Tem saudades desses tempos? Que memórias é que guarda desse período?

Tenho memórias muito boas e tenho muitas saudades, sobretudo nas alturas dos mundiais. Aí dá aquela vontade… As pessoas que jogaram muito tempo, como foi o meu caso, sentem-na sempre…

Uma lesão no joelho obrigou-o, com muita pena sua, a desistir do futebol e também do curso de economia que estava a tirar na na Universidade Nova de Lisboa para se dedicar à música. A música preencheu esse vazio?

Sim, sinto que houve ali um vazio que foi preenchido…

Totalmente preenchido?

Sim. Por acaso, sim! Nem tenho jogado muito… Também, nos últimos sete anos, não parei um segundo. Entre os quatro álbuns cá e os dois álbuns em França, foi quase um álbum por ano. Não tive sequer tempo para parar e para pensar se tinha ou não tinha saudades da bola.

Pela ligação que teve ao Sporting Clube de Portugal, como é que viu esta crise recente que o clube viveu?

Eu acho triste e acho que é preocupante para o Sporting, apesar de não estar muito informado porque, às vezes, há tantas coisas que saem na imprensa, sobretudo no Correio da Manhã, que já fez comigo coisas que foram menos simpáticas…

Também já foi vítima do Correio da Manhã, como muitos se queixam?

Sim, acho que toda a gente já foi. Nisso, eles são muito leais. Atacam todos! [risos] Neste caso, há coisas que acho que são verdade e outras que acho que não devem ser. Para o Sporting, o que aconteceu não foi bom. Acho que vai ser muito complicado conseguir preparar a equipa para o próximo campeonato e, se calhar, até para os próximos dois ou três…

Houve muita coisa que correu bem mas, de repente, descambou e, depois, correu muito mal. Há oito meses, eu diria que o Sporting estava, finalmente, no bom caminho e agora... É impressionante! Mas também não sou ferrenho nem tenho tempo para o ser…

É triste…

Sim, é triste para o futebol em geral. Há muita coisa que tem acontecido no futebol, no geral, que é triste. Processos em tribunal, e-mails… Não se sabe qual é a verdade e [o clima de suspeição dos últimos anos] mancha aquela aura que o futebol tem.